A doação dos órgãos do apresentador Gugu foi destaque em todo Brasil na última semana. A partir da iniciativa da família do apresentador, a doação ajudou cerca de 50 pessoas. Em Rio Claro, outra doação ganhou destaque, a dos órgãos do Cabo Garcia.
Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), a negativa familiar é um dos principais motivos para que um órgão não seja doado no Brasil. No ano passado, 43% das famílias recusaram a doação de órgãos de seus parentes após morte encefálica comprovada.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, no ano passado, das 6.476 entrevistas familiares para autorização de doação, houve 2.716 negativas, somando 42%, número que vem se mantendo praticamente constante ao longo dos anos.
O número de doações de órgãos vinha crescendo no Brasil. Segundo a ABTO, no ano passado o crescimento na taxa de doadores efetivos de órgãos cresceu 2,4%, atingindo 17 doadores por milhão de população (pmp), mesmo número divulgado pelo Ministério da Saúde, mas ainda abaixo da taxa prevista, que era de 18 doadores por milhão de população.
Mas neste ano, entre janeiro e março, a taxa de efetivação caiu, passando para 16,8 doadores por milhão de população. No ano passado, a estimativa da ABTO apontava que 39.663 pessoas estavam na fila esperando por um transplante de órgãos.
RIO CLARO
A coordenadora de Enfermagem UTI da Santa Casa de Rio Claro, Cinthia Romualdo, explica que a doação de órgãos pode ser feita somente em casos de morte encefálica. Em entrevista, Cinthia explicou mais sobre os procedimentos necessários. Segundo ela, de 2009 a 2018, Rio Claro teve 41 doadores, totalizando 128 órgãos doados. Em 2019, foram dois doadores totalizando sete órgãos, sendo que os mais doados são: córneas, rins e fígado.
Diário do Rio Claro: No caso de morte cerebral, como funciona? Os aparelhos podem ser desligados ou é preciso aguardar um tempo?
Cinthia Romualdo: Morte encefálica e cerebral são nomenclaturas diferentes para a mesma condição, ou seja, morte do cérebro, órgão vital que comanda todos os outros órgãos. A morte encefálica é a perda completa e irreversível das funções encefálicas (cerebrais), definida pela cessação das funções corticais e de tronco cerebral, portanto, é a morte de uma pessoa. Na inatividade cerebral, em questão de pouco tempo os outros órgãos tendem a entrar em insuficiência e também param de funcionar se não estiverem sob suporte de aparelhos, por isso a doação de órgãos deve acontecer tão rápido após o diagnóstico fechado para morte encefálica.
Diário do Rio Claro: Constatada a morte cerebral, quais os órgãos que podem ser doados?
Cinthia Romualdo: Córneas, coração, pulmão, rins, pâncreas, ossos, fígados e tecidos.
Diário do Rio Claro: Definida a doação, como são os procedimentos? Qual o tempo hábil para que o processo seja feito com sucesso?
Cinthia Romualdo: Potencial doador é encaminhado ao centro cirúrgico para remoção dos órgãos que foram autorizados pelos parentes de primeiro grau do doador. O tempo cirúrgico é determinado pela quantidade de órgãos a serem doados, porém, todo esse processo, desde o início de abertura dos testes para o protocolo até a captação, não excede 48 horas.
Diário do Rio Claro: Santa Casa é uma das únicas da região credenciada para este processo de doação?
Cinthia Romualdo: Não. Há mais hospitais na região que realizam também este processo. Na Santa Casa, ocorre somente a retirada dos órgãos, que são encaminhados a outros hospitais onde os receptores já aguardam a chegada do seu novo órgão. Nossa CIHDOTT (Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante) responde à OPO (Organização de Procura de Órgãos), sediada no hospital UNICAMP, que nos auxilia e orienta durante todo o processo.