Os jardins, assim como o amor, existem e são cultivados desde o início da civilização. São muitos os tipos de jardim. Há os de cactos, os de ervas, o aquático, o tropical, o de flores, o de inverno, o jardim inglês e o jardim espanhol. Também são muitos os tipos de amor: existe o amor fraterno, o amor afetivo, o amor platônico e o amor sexual.
Os jardins e o amor são muito parecidos. Para o primeiro, é preciso semente, terra e água; já para o segundo, afeto, amizade e admiração. Contudo, para que ambos floresçam e sejam perenes, é preciso despender cuidado e atenção. Burle Marx talvez tenha sido nosso maior paisagista. Aqui em Rio Claro, por exemplo, no Shopping Center, existia um belo jardim, cujo projeto paisagístico era de sua autoria.
Costumava dizer que “um jardim se faz de luz e sons, as plantas são coadjuvantes”. Luz e sons. Acredito que o amor também seja resultado da mesma composição e que, nesse caso, nós é que somos apenas os coadjuvantes.
Em 1949, Marx comprou uma área de trezentos mil metros quadrados no litoral do Rio de Janeiro e começou a organizar uma enorme coleção de plantas. Nesse local – atualmente chamado Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – a família de Renato Russo jogou suas cinzas quando de sua morte em 1996, porém, isso é outra história que pretendo me alongar um pouco mais na próxima semana.
Como os jardins, as histórias de amor são muitas e contam com muitos representantes. Na literatura temos Penélope, que esperou mais de 20 anos por seu amado, Ulisses. Enquanto tecia uma colcha durante o dia e desmanchava a noite, cultivava a espera de um amor. No cinema, temos a história da atraente prostituta Vivian Ward (Julia Roberts), que conhece por acaso o milionário Edward Lewis (Richard Gere) e, a partir da volúpia, cultivam um grande e inesquecível amor no longa-metragem Uma Linda Mulher.
Na música, a canção Eduardo e Mônica, da Legião Urbana, conta a história de amor de um casal de jovens cultivado pelas diferenças. Como disse o nosso poeta maior: “o amor seja como for é o amor”. Acredito que viver um grande amor seja como cultivar um jardim. Para que floresça, é preciso afeto e admiração. Belos jardins são formados a partir de fragmentos de histórias.
Minha esposa e eu celebramos o nosso aniversário de namoro e de casamento anteontem. Depois de um dia cheio, chegamos do trabalho e, ainda que estivéssemos muito cansados, resolvemos arrumar nosso jardim. Desde que casamos conservamos um espaço na varanda para deixar as plantinhas. Temos alguns tipos e mesmo não deixando faltar água creio que seja importante também um pouco de doação.
Replantamos as violetas. Retiramos a flor de maio do cachepô e colocamos no vaso maior. A renda portuguesa, acredito, precisava apenas de um pouco de atenção porque no dia seguinte já amanheceu sorrindo. Temos também um vaso grande com zamioculca, que estava com algumas folhas amareladas, mas que aparamos com a tesoura.
Ficava na sala, contudo, depois de fofear bem a terra e espalhar cascas de ovos na superfície, resolvemos colocar o vaso na varanda junto aos demais. O nosso manjericão – ingrediente imprescindível para o delicioso Frango ao Molho de Abóbora Cabocha preparado por minha mulher – também estava triste precisando de um pouco de afago.
Penso que precisamos doar tempo aos jardins e aos amores. O mundo está muito apressado e o que vemos é uma geração inteira que não está sentido o prazer dos pequenos sabores e muito menos o entusiasmo de replantar velhos sentimentos quando ainda vivos apenas para que não feneçam com o desprezo e a desatenção. Na segunda-feira, arrumamos o jardim e cultivar foi o verbo aqui em casa.
Trabalho terminado, sentamos na soleira da porta que dá para a sacada e contemplamos um majestoso jardim, fruto do cuidado e da atenção que temos tanto com o nosso jardim quanto com o nosso amor. A vida é isso, às vezes, precisamos conversar com as plantas e silenciar diante do amor, para que ambos floresçam e permaneçam dando frutos e flores por tempo indeterminado.
Foto: Diário do Rio Claro