COMPOSTAGEM
► “Rien ne se perd, rien ne se crée, tout se transforme.” Essa é a famosa frase que resume a ideia de Lavoisier, o pai da química moderna. Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Ele mesmo, aliás, foi transformado. Era da época da Revolução Francesa que se iniciou em 1789 e que, como toda boa revolução, saiu de controle fazendo com que os próprios revolucionários começassem a morrer na guilhotina, incluindo nosso amigo Lavo.
►O que eu acho engraçado como professor de história é que as revoluções, sejam elas burguesas ou marxistas, sempre focam no plano macroscópico, nas grandes mudanças (portanto sempre vêmacompanhadas de derramamento de sangue), mas não olham para o chão, para a terra, para o pequeno, óbvio e básico.
►É extraordinário, por exemplo, que ainda produzimos lixo. Após tanta revolução, tantas transformações, não sabemos o que fazer com o próprio lixo. Estudamos química, mas não levamos a sério as palavras de Lavoisier. Pensamos em carros voadores, em socialização dos meios de produção, em biotecnologia, mas ninguém pensa no próprio lixo. Somos uma espécie que não sabe lidar com o óbvio.
►Uma grande revolução que mereça esse nome só poderá ocorrer quando aprendermos a lidar com o nosso próprio lixo, desenvolvendo sistemas de compostagem e reciclagem. Afinal, nada se perde e nada se cria, como diria Lavo.
►Infelizmente nem tudo se transforma, nossos irracionais hábitos centenários permanecem. E as pessoas ainda pensam em carros voadores quando imaginam o futuro. Se esquecem do básico, que é o mais importante. Para mim, agricultores domésticos com consciência ambiental são mais avançados que o robocop. Quem pensa em como diminuir o próprio lixo faz muito mais que qualquer guerrilheiro de fama ou empresário de sucesso.
►Precisamos tirar os nossos sapatos e colocar os pés na terra. É ela quem nos dá o nome de humanos, palavra que deriva de húmus, e segundo inúmeras mitologias espalhadas pelo planeta nós fomos criados da terra (e para ela retornaremos após nosso último suspiro). Nascemos de compostagem e morreremos numa compostagem. Isso é muito místico e bonito. Viemos da terra e para lá retornaremos. Só quando compreendermos isso em seu significado mais profundo é que poderemos chamar a nós mesmos de seres evoluídos. Compostemos nossas ideias!
►*Pérolas do Sor Bruno é escrita pelo professor de história e sociologia na escola Marciano de Toledo Piza para o Jornal Quincas Borbas filiado a Rede Camões com fins exclusivamente pedagógicos. Confira nosso site: https://jornalquincasborba.wordpress.com/
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