Bolsonaro vai bem, obrigado, com ampla vantagem sobre os adversários.
Seus eleitores parecem consolidados – mas, após a facada, ele subiu pouco, não o suficiente para projetar uma vitória no primeiro turno.
O segundo turno é outra eleição – aí, até eventuais dúvidas sobre sua recuperação completa são prejudiciais. E há alguns fatores a considerar: sua alta rejeição, o lançamento, enfim, do poste escolhido por Lula, Fernando Haddad; o grande crescimento de Ciro Gomes; um Picolé de Chuchu mais ardido, já que, com aquele jeito de tio bonzinho, Alckmin não decolou e perde de Bolsonaro até em São Paulo.
O que ficou claro com as pesquisas após o atentado, é que nada está claro. Bolsonaro, que vinha bem, não pode participar da campanha (e talvez também não tenha condições de fazê-la se chegar ao segundo turno). Haddad, se herdar os votos de Lula, fica forte; mas, se tiver que dividi-los com Ciro, estará mal. Ciro percebeu qual é seu principal adversário, e já o escolheu como alvo: lembrou que, com seu apoio e o de Lula, ainda solto, Haddad perdeu para Dória quando tentou a reeleição, e teve menos votos que os brancos e nulos.
E há Marina. Caiu muito na última pesquisa (de 16 para 11%), mas sempre pode surpreender. Em todas as campanhas presidenciais, Marina ameaçou chegar lá, e não se sustentou. Esta é uma campanha curta. Se Marina crescer na hora certa, perto da eleição, pode chegar ao segundo turno. É difícil, mas, conforme o adversário, pode até receber o apoio dos outros e virar presidente.
A falsa verdade
As notícias de que o estado de saúde de Bolsonaro é grave e que ele terá de fazer nova cirurgia de porte são verdadeiras; mas foram plantadas para induzir o eleitor ao erro. Coisas já sabidas: se está na UTI, é porque o estado é grave. E, tendo sido operado do intestino, com desvio para uma bolsa externa, haverá outra cirurgia de porte, passado o risco de infecção, para repor tudo no lugar.
É importante saber se um candidato tem saúde para aguentar a carga e a tensão da Presidência. Mas isso é algo que só se saberá daqui a algum tempo.
Confiança
O general Mourão, vice de Bolsonaro, disse na Rede Bandeirantes ao entrevistador Cláudio Humberto, que confia na recuperação do seu cabeça de chapa, porque é tão forte que, no Exército, tinha o apelido de “Cavalão”.
A luta continua
Houve trégua, mas já acabou a gentileza. Alckmin lembrou que Bolsonaro votou com o PT contra o Real, a quebra do monopólio do petróleo, a quebra do monopólio das telecomunicações. Citou as pesquisas: “perde de mim, perde do Ciro, perde do PT. Bolsonaro é um passaporte para a volta do PT”.
A metralha de Palocci
Ex-ministro da Fazenda, ex-chefe da Casa Civil, ligado a Lula e Dilma, Palocci começou a falar em depoimento ao Ministério Público. O que disse:
Previ: antes de ser presidente, Lula agiu a pedido de Emílio Odebrecht para que o delegado do PT, no fundo, parasse de criar problemas para a Braskem.
Pré-sal: Lula passou a atuar diretamente nos pedidos de propina.
Campanhas: Lula sempre apoiou as iniciativas de financiamento ilícito de campanha, sabendo que eram ilícitas.
Caças: Lula assinou protocolo com o presidente francês Sarkosy, passando por cima da área de Defesa, que cuidava do assunto. Isso gerou propinas. Mais tarde, teve envolvimento pessoal na compra dos caças suecos Grippen.
Belo Monte: Lula se envolveu diretamente no caso de Belo Monte, e sabia que, a partir desse investimento e desse projeto, haveria pedido de propina.
Dilma: era ministra da Casa Civil e agia como Lula. “Em relação aos fundos, ela foi igual a Lula, ela insistia, inclusive usava muito, que aquilo era uma ordem do presidente Lula e ela fazia reuniões com os fundos na Casa Civil e forçava a barra para os fundos investirem”.
As assessorias de Lula e Dilma desmentiram seu ex-ministro e o acusaram de mentir, sem apresentar provas, apenas para sair da prisão.
A Odebrecht disse que reafirmava seu compromisso de atuar com ética.
A arte subversiva
O Facebook não costuma explicar por que pune com suspensão de acesso alguns associados. Não costuma, porque seria difícil: há poucos dias, bloqueou uma imagem e, pouco depois, suspendeu por 18 horas o associado “por usar o Facebook de maneira que os sistemas consideraram pouco usual”. Em suma, a mesma mensagem com que censuram fotos que consideram pornográficas.
E qual era a imagem tão perigosa que teve de ser bloqueada? Um quadro mundialmente famoso do excelente pintor espanhol Joan Miró, “El Gallo” – O Galo. Verifique: vá ao Google, “El Gallo – Miró”, e aparecerá o clássico do surrealismo, sem qualquer conotação de política ou de pornografia.
Oficialíssimo
“El Gallo” já foi exposto no Brasil na mostra “A Magia de Miró”, em 2014, de fevereiro a setembro, em cinco capitais – sempre na Caixa Cultural.
Por Carlos Brickmann