Nesta segunda-feira (22), celebra-se nacionalmente o Dia do Cantor Lírico. A vertente tem por característica não necessitar de microfone quando das apresentações, o que ver a ser propício em espaços vultuosos onde a voz, sem recursos a fim de amplifica-la, se faz ecoar. O canto lírico se notabiliza também por suas variações melódicas, além do anseio de fazer com que haja uma maior percepção por parte do espectador quanto à sonoridade da voz. Há uma associação quase que imediata à opera, em que ocorre a junção do teatro com a música.
Hoje (21), a fim de prestar uma homenagem a todos que se dedicam a essa nobre arte, o Centenário trará à tona a vida e obra da cantora lírica Mariana Pires, 26 anos, rio-clarense que, através do propagar de sua voz, de seu talento, tem sido extremamente exitosa.
Mariana, à reportagem, admite: “Eu nunca imaginei que um dia seria cantora.” A artista conta que teve aulas de música desde pequena. Tocava teclado, todavia, não pensava em levar adiante. Por outro lado, confessa que sempre gostou de música, e tentava tocar as coisas que ouvia, além de ter o anseio de fazer aulas de piano. “Nunca passou pela minha cabeça cantar, tampouco cantar ópera, que eu nem sabia que existia. Meu sonho na adolescência era ser atriz.
Eu cheguei a fazer aulas e até a participar de algumas peças de teatro, mas era muito difícil porque eu era muito tímida e, ironicamente para mim, era muito difícil falar”, relata ao Número 1. A cantora rememora que quando tinha 15 anos, estava fazendo o curso preparatório da Guarda Mirim e resolveu participar do coral da instituição, o Coral Encanto Jovem. Segundo ela, logo também começou a cantar no Coral Municipal de Rio Claro.
À época, estavam ensaiando uma ópera, “A Flauta Mágica”. Mariana diz que não tinha ideia do que era aquilo, mas que se interessou. “Nunca tinha cantado ópera e nem tinha conhecimento do que se tratava. Mas tinha prazer em estudar e até em aprender a pronúncia do alemão. Era tudo muito interessante. A partir disso, comecei a pesquisar na internet e descobri a ópera.
Comecei a entender o que era, ler muito sobre o assunto e a me aprofundar. Eu não tinha internet em casa, então salvava a música em um aparelho para poder ouvir. No trabalho, quando tinha um tempo livre, assistia os vídeos sem áudio. Eu me encantei pela ópera porque é também teatro e eu queria ser atriz. E eu descobri ali que podia ser uma atriz que canta”, confidencia.
Mariana revela que ficou obcecada pela ópera, e isso a levou, e ainda a leva, a muitos lugares. Segundo afirma, é uma carreira muito difícil e ela não teve uma trajetória de estudo linear, como a maioria dos colegas que encontra. Entretanto, afiança amar a música e o teatro. “Então, eu continuei e continuo”, garante.
A cantora conta que a primeira grande mudança foi quando de sua ida ao Rio Grande do Sul com o propósito de estudar música na Universidade Federal de Pelotas. De acordo com ela, em 2012 mudou-se para São Paulo, onde conheceu um ótimo professor: Gilberto Chaves. “Graças a ele, consegui me preparar para as audições e fui aceita no Ópera Studio da EMESP (Escola de Música do Estado de São Paulo). Tive a oportunidade de atuar nas óperas ‘ll Viaggio a Reims’ (G. Rossini) e ‘A Flauta Mágica’ (W. A. Mozart).
No segundo ano do curso, também fui aceita no Ópera Studio, do Theatro Municipal de São Paulo, onde também cantamos ‘A Flauta Mágica’. Naquele ano, 2015, contando todas as apresentações, cantei essa ópera cinco vezes e tive a oportunidade de viver dois personagens: Pamina e a Segunda Dama. Essa ópera tem diálogos e eu consegui vencer mais esse desafio e começar a desenvolver a confiança para também falar”, esmiúça a rio-clarense.
Ainda no ano de 2015, Mariana participou como solista da estreia da suíte sinfônica “Luta e vida”, do compositor Ricardo Calderoni, na Sala São Paulo. Ela expõe à reportagem que foi a primeira vez que pode trabalhar em contato direto com o compositor, o que descreve como sendo uma “experiência inesquecível”. O compositor em questão, inclusive, a convidou depois para cantar no concerto “Tesouros musicais do holocausto”, no teatro Anne Frank, também em São Paulo.
No ano seguinte, em 2016, juntamente com outra cantora do Ópera Studio, foi selecionada para cantar a ópera “L’Elisir d’amore” (G. Donizetti), na Itália. “Foi minha primeira vez na Europa e decidi que era o meu lugar.
Quando voltei ao Brasil, já voei direto ao Maranhão para viver Bastienne na ópera ‘Bastien und Bastienne’ (W. A. Mozart). Nessa época, meu professor era o Walter Chamun, em São Paulo, e ele me ajudou a superar cada desafio que encontrei nessas óperas e, em 2017, ajudou a preparar minhas audições para o Concurso Prelúdio, da TV Cultura, do qual tive a honra de participar”, conta. Após sua primeira ida à Europa, Mariana declara que ficou com muita vontade de voltar, estudar, cantar e viver por lá. E, por isso, começou a enviar vídeos e a buscar oportunidades. Ainda em 2017, conseguiu uma bolsa de estudos na Alemanha, na cidade de Weimar, onde cantou mais algumas vezes “A Flauta Mágica”.
No mesmo ano, teve a oportunidade de estudar em São Petersburgo, na Rússia, onde participou de um programa para jovens cantores do Teatro Mariinsky. Posteriormente, em 2018, mudou-se definitivamente para a Europa e, depois de estudar alemão durante alguns meses, pode cantar em concertos na Áustria, na cidade de Graz, sendo selecionada para a Academia do Teatro Luciano Pavarotti, em Modena, na Itália, onde atualmente vive. “Minha professora, que me ajuda nesta nova fase, é a Edineia Oliveira, uma mezzo-soprano brasileira que vive na Alemanha, em Nuremberga”, destaca.
Mariana, por fim, acredita ter ainda muitos desafios para vencer e muito caminho pela frente, mas garante possuir o principal: muito amor pela arte.
“Hoje me sinto mais à vontade no palco e continuo com a mesma vontade de ser atriz, uma atriz que canta e também fala”, finaliza.