Neste domingo (18), o Diário do Rio Claro irá abordar um assunto de extrema relevância: o colesterol. Para tanto, conversou com o cardiologista João Clima da Silva, que prontamente atendeu à reportagem a fim de elucidar a respeito. O profissional explica que o colesterol é uma substância (esterol) sintetizada no fígado e intestino dos animais, encontrado nas membranas celulares e transportado na corrente sanguínea.
Conforme ele, é o principal constituinte dos sais biliares e dos hormônios. “O colesterol elevado é proveniente, em grande parte, de erros relacionados ao seu próprio metabolismo, conhecido como doença do receptor e, em menor parte, proveniente da dieta rica em gordura saturada de origem animal. O colesterol total é composto basicamente por três subfrações: HDL (colesterol bom), LDL (colesterol ruim), VLDL (fração obtida a partir dos níveis de triglicérides)”, elucida o médico.
João Clima diz que a relação dos níveis elevados de colesterol ruim circulante (LDL) com doenças ateroscleróticas, tais como infarto e acidente vascular cerebral, já foi determinada desde os primeiros estudos de prevenção de Framingham na década de 60. De acordo com ele, quem tem colesterol alto morre mais de infarto e AVC (acidente vascular cerebral).
“Dada à sua importância em termos de prevenção e conscientização, no dia 8 de agosto foi comemorado o Dia Nacional de Combate ao Colesterol”, enfatiza o profissional, que faz questão de ressaltar que o colesterol é exclusivo do reino animal, de tal forma que não é encontrado em nada relativo ao reino vegetal.
Segundo o cardiologista, o colesterol está para o reino animal assim como os triglicérides (depósito de carboidrato) estão para o reino vegetal.
O especialista destaca que o colesterol tem base genética, predominantemente, e menos influência da alimentação, enquanto que mudanças de hábitos, em termos de carboidratos, alcançam reduções de até 60% nos níveis de triglicérides. Apenas 15 a 20% de reduções nos níveis do colesterol são alcançados com dietas pobres em gordura animal. “Desta forma, o colesterol, diferentemente dos triglicérides, são menos comportamentais, isto é, menos dependentes de mudança do estilo de vida”, expõe.
João Clima garante que, na avaliação do risco cardiovascular de qualquer paciente, procura-se identificar os fatores de risco não modificáveis (idade, sexo e história familiar de doenças cardiovasculares em parentes de primeiro grau) e fatores modificáveis (obesidade, sedentarismo, estresse profissional ou familiar, diabetes, hipertensão arterial e colesterol alto) para então, a partir daí, iniciar as mudanças de estilo de vida ou uso de medicamentos. Se por um lado o paciente possui um ou mais fatores de risco não modificáveis, ou seja, carrega consigo a genética familiar de doença cardiovascular de infarto em um dos pais e idade pós-menopausa, do outro lado os fatores de risco modificáveis necessitarão ser trabalhados a fim de reduzir o risco global deste paciente.
“Desta forma, a meta em termos de redução do colesterol será mais ou menos restritiva, a depender dos vários fatores de risco que no mesmo paciente possam coexistir. A apresentação do infarto, por vezes com óbito, não é o início da doença aterosclerótica (doença com formação das placas de gordura), mas sim o desfecho de uma doença multifatorial iniciada muitas vezes há anos ou décadas esquecida de qualquer forma de prevenção”, alerta o cardiologista.
Ao Centenário, João Clima relata que, a partir dos aprendizados do estudo de Framingham, no que tange o conhecimento acerca dos fatores de risco, que são multiplicativos e não apenas aditivos, equivale dizer que, se num mesmo paciente coexistir vários fatores de risco, o risco global para o desenvolvimento de doença aterosclerótica fica muito aumentado. No entanto, o lado bom é que a subtração de qualquer um dos fatores de risco (redução de peso, controle do diabetes e da hipertensão arterial, abandono do tabagismo, etc) pode resultar em importante redução do risco global. Para cada fator subtraído, retira-se um fator multiplicador do risco final.
Nos anos 80, atribuía-se ao colesterol a culpabilidade, pelo menos em grande parte, do risco de infarto e AVC, principalmente. “Com base em alguns estudos, pode-se observar que quase 50% dos pacientes infartados apresentavam colesterol abaixo dos níveis da média populacional. Em setembro de 2016, o mundo também tomou consciência, através dos jornais, da publicação no artigo científico na revista Jama Internal Medicine, sobre o delineamento inadequado e inverídico de informações publicadas na década de 60, patrocinado pelas indústrias açucareiras, com objetivo explícito de demonizar o colesterol como causa maior para doenças cardiovasculares, em prol de interesses escusos, como a alavancagem de seus negócios”, explana o médico.
João Clima, por fim, enfatiza que muitas gerações, sucessivamente, acreditaram que se deveria combater o colesterol sem nenhuma preocupação com a ingestão de doces, por exemplo. “Agora, à luz dos novos conhecimentos sobre a doença cardiovascular obstrutiva e a introdução do conceito de doença multifatorial, permite-se no momento o entendimento para a seleção dos pacientes que estão sobre maior risco para eventos cardiovasculares e tratá-los preventivamente”, encerra.