Reinventar: essa foi a palavra usada por profissionais da área da beleza ao relatarem as dificuldades do momento para o setor. A incerteza do que vem pela frente, o medo aliado também a pensamentos positivos que tentam fugir a todo instante de suas cabeças. Se manter otimista não tem sido fácil. O jeito foi encontrar alternativas para continuar tendo alguma renda e pensar como se manter no mercado após a tão questionada e temida “quarentena”. “Ficamos os 15 primeiros dias parados, aí decidimos começar a atender em domicílio após ver a autorização do governador Dória”, disse o barbeiro Rogério Préo.
Mas não tem sido fácil e, claro, com queda no número de clientes. “Tenho atendido no máximo seis clientes em domicílio tomando todos os cuidados, usando luva, máscara e álcool em gel. Na maioria das vezes, as pessoas ficam com receio. Medo de receber uma pessoa de fora em casa. Principalmente os idosos”, relatou Rogério, contando ainda que avaliou como procederia também com os valores a serem cobrados. “No começo até pensei em cobrar mais caro, mas aí eu pensei: não; pois estamos todos no mesmo barco, é um momento de se ajudar, por que cobrar mais caro se não está fácil pra ninguém. Então eu mantive o mesmo valor”, avaliou.
A cabeleireira Eliann Gomes da Silva, com 9 anos de profissão, também tem se preocupado. A profissional recorreu ao atendimento na casa das clientes, mas o prejuízo tem sido inevitável. Segundo ela, o atendimento caiu em 70%. “Na minha profissão, faço um corte de cabelo, faço uma tintura, mas claro que caiu o movimento. Eu não posso fazer mechas, não posso fazer química, porque não é adequado realizar na casa da cliente, além de precisar do meu lavatório. Estou com quatro clientes esperando para fazer mechas e não tem como ir nas residências para o procedimento. Fico limitada. Estou atendendo duas clientes por dia, mais ou menos, e com os cuidados que precisamos. Levo álcool em gel no carro, vou de máscara e luva e quando chega no local lavo as mãos e uso o álcool também”, relatou.
Para Eliann, algumas medidas deveriam ser repensadas, para não afetar ainda mais o setor. “Então, estamos sendo muito prejudicados. Atendo em domicílio conforme dá, conforme pode, mas questão de movimento caiu bruscamente. E tem que dar espaço de um para o outro. Não entendo porquê o salão não pode abrir se a gente pode espaçar de uma em uma hora, ou seja, dá para ajeitar, e assim evitar aglomerações”, ressaltou a cabeleireira.
Manicure há 16 anos, Bruna de Lima Falararo, nunca havia ficado tantos dias sem desenvolver o trabalho ao longo da carreira. Foram 25 dias parada, sem exercer o ofício e, claro, sem remuneração. “Foi muito estranho ficar esse tempo todo em casa, fora a preocupação por ser autônoma e depender exclusivamente no meu trabalho, para cuidar da casa e da minha filha. Prejudicou muito a minha renda mensal, afinal eu sou a chefe do lar, mas graças a Deus não faltou nada em casa”, relatou ao Diário do Rio Claro.
Agora, aos poucos ela está retomando as atividades, também nos domicílios, mas o número de clientes está bem abaixo. “Antes, em média, eram 30 a 35 clientes semanais, agora na minha primeira semana de volta estou atendendo no máximo 15 clientes. Estou indo em domicílio, isso é um pouco complicado, porque tenho que fazer a higienização da maleta a cada atendimento e se locomover pela cidade toda, o que causa mais gasto com combustível e leva mais tempo também. A maioria das minhas clientes que optou por não fazer as unhas pelo menos nesse primeiro momento, foram as que tem idosos em casa (pai, mãe, avó, avô), por terem o contato direto com eles, conviver no mesmo ambiente, essa decisão de ficar sem fazer as unhas foi para resguardarem a saúde deles”, comentou Bruna.
Professora e também manicure há 10 anos, Talita Bonato se viu totalmente sem renda, já que, atua como prestadora de serviço, sem salário fixo, ou seja, só recebe se ministrar aulas. E como manicure, 60% da clientela foi comprometida, incluindo muitas idosas que não estão fazendo as unhas neste momento. Para driblar a falta de rendimento optou por atender em domicílio. “Na primeira semana que foi decretada a quarentena praticamente não tive cliente, todos estavam com medo, inclusive eu.
Depois fui atrás dos EPIs, mas estavam em falta em todos os lugares possíveis da cidade. Quando consegui, máscara, álcool em gel, além das luvas, avisei às clientes que estava com medidas de proteção pra atendê-las, de preferência em domicílio mesmo. Aos poucos, as clientes mais jovens voltaram um pouco, já atendia uma por vez, mas agora dou um espaço maior para não haver encontros, apenas uma por vez, quando atendo em minha casa”, disse.
O barbeiro Rogério Préo destacou
“Mas é nesses momentos que precisamos nos reinventar. Não podemos parar, não tem como. Quando voltar eu acho que vai existir um grande medo, não vai ser fácil, mas não será impossível. Eu acredito que vamos tirar de letra. Eu dependo dos meus barbeiros, sim, pra manter meu time, pra manter meu sonho, pra manter a Barbearia. E por eles, por minha família, pelo meu sonho e pelos meus clientes e amigos, eu jamais desistirei”.
A manicure Talita Bonato destacou
Além de realizar o atendimento domiciliar, a manicure Talita Bonato recorreu a uma outra opção. “O momento é desesperador, tenho filhos, casa e aluguel; como sou autônoma, se não trabalhar não ganho. Então, diante de toda essa situação, venho atendendo poucas clientes e me adaptei incluindo algo diferente, que não tem nada a ver com as unhas”, disse. Ela buscou ter uma visão diferente, além do cenário que convive. Buscou uma receita da avó e foi para cozinha. “Já que no momento as únicas coisas que não pararam são do ramo alimentício, comecei a fazer bolos caseiros e isso é o que está no momento me rendendo o maior faturamento. No meu caso foi a minha maneira de me reinventar na crise. Eu estou super feliz”.
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