Quando do próximo dia 30 de agosto, será celebrado o dia Nacional de Conscientização da Esclerose Múltipla, que foi estabelecido por lei em 2006. Durante o oitavo mês do ano, o propósito é realizar uma divulgação maciça com relação à doença, objetivando contribuir para que haja um diagnóstico precoce e, por decorrência, tratamento propício e melhora quanto à qualidade de vida. O mês voltado a estas ações intitula-se “Agosto Laranja”.
E para falar a respeito da esclerose múltipla, o Diário do Rio Claro conversou com Doutor Fabricio Buchdid Cardoso, neurologista.
O que é esclerose múltipla?
De acordo com Cardoso, a esclerose múltipla é uma doença que causa problemas de visão, dormência e formigamento, fraqueza muscular e outros problemas. “Acontece quando o sistema de combate à infecção do corpo ataca e danifica as células nervosas e suas conexões no cérebro e na medula espinhal. Quando o sistema de combate a infecções, chamado de ‘sistema imunológico’, ataca as próprias células do corpo, isto é chamado de ‘resposta autoimune’”, explica o especialista, que acrescenta que muitas pessoas se referem à esclerose múltipla como “EM”.
Quais são os sintomas da EM?
O neurologista afirma que a condição pode causar muitos sintomas, mas nem todos com EM têm todos eles. Além disso, os sintomas da EM também podem ser causados por outros problemas que não a doença em si. Em geral, os sintomas podem incluir: dormência, formigamento e sensação de “alfinetes e agulhas”; fraqueza muscular ou espasmos; problemas de visão, dor nos olhos e alteração dos movimentos oculares; sentir-se tonto ou desequilibrado, podendo levar a quedas; dificuldade para andar ou falar; problemas ao controlar intestinos ou bexiga; problemas sexuais; sensibilidade ao calor, o que pode piorar os sintomas; e lentificação do pensamento. “A maioria das pessoas com EM tem apenas alguns desses sintomas. Mas as pessoas com EM grave podem ter a maioria deles”, garante.
Existem diferentes formas de EM?
Cardoso afiança que sim. Conforme ele, os médicos dão nomes diferentes à EM, dependendo de como progride. A doença pode ser:
Recorrente-remitente: isso significa que os sintomas da EM vêm e vão. Quando os sintomas se manifestam, é chamado de “ataque” ou “recaída”. Esses ataques podem durar dias ou semanas e geralmente melhoram lentamente. Entre os ataques, as pessoas geralmente se sentem normais.
Mas algumas pessoas têm problemas que duram mesmo depois que um ataque melhora. Recorrente-remitente é o tipo mais comum de EM.
Progressiva-secundária: isso significa que os sintomas vêm e desaparecem no começo, mas depois começam a piorar constantemente. Isso acontece com muitas pessoas que começam com doença remitente-recorrente.
Primária-progressiva: isso significa que os sintomas pioram desde o início da doença.
Recorrência-progressiva: isso significa que os sintomas pioram constantemente e, além disso, há ataques que vêm e vão.
Existe um teste para EM?
Segundo o especialista, sim e não. “Se o seu médico suspeitar que você tem EM, ele pode pedir uma ressonância magnética do seu cérebro e, às vezes, sua medula espinhal. Uma ressonância magnética é um teste de imagem que cria imagens do interior do seu corpo. Este teste pode mostrar se o sistema nervoso central está danificado. Mesmo assim, este teste pode não ser capaz de mostrar imediatamente se você tem EM.
Em muitos casos, os médicos só podem diagnosticar a EM depois de ver como os sintomas e os resultados dos testes mudam ao longo do tempo”, explana. Cardoso enfatiza que, em alguns casos, seu médico pode solicitar exames adicionais para verificar se você tem EM.
Estes podem incluir: uma punção lombar (coleta de líquor) – Durante esse procedimento, o médico coloca uma agulha fina na região lombar e remove uma pequena quantidade de líquido espinhal. Em seguida, verifica o fluido em busca de sinais de EM; um teste chamado “potenciais evocados” ou “respostas evocadas” – Essa é uma maneira de o médico examinar os sinais elétricos no cérebro e na medula espinhal. Envolve pequenos “eletrodos” na sua pele.
O médico pode então medir os sinais nervosos em seu cérebro, enquanto você olha para as luzes, escuta os sons ou sente uma leve corrente elétrica; tomografia de coerência óptica – Este teste usa uma luz especial para observar o interior dos seus olhos em busca de sinais de EM. Em outros casos, você pode precisar de exames de sangue para verificar se há doenças semelhantes à esclerose múltipla.
Devo procurar um médico ou enfermeiro?
“Consulte o seu médico ou enfermeiro imediatamente se você tiver alguns dos sintomas mencionados e não souber o que está causando”, orienta.
Como o EM é tratado?
O médico pondera que depende do tipo de EM que se tem. Existem diferentes tipos de medicamentos, são eles:
Tratamento de surtos – Se você tiver um surto de esclerose múltipla, seu médico pode lhe dar medicamentos chamados corticosteróides. Eles reduzem a resposta autoimune do corpo, assim, eles podem reduzir a intensidade e impedir a progressão do surto.
Prevenção de surtos – Existem vários medicamentos diferentes para pessoas com ataques de esclerose múltipla (EM reincidente-remitente). Esses medicamentos são chamados de “terapia modificadora da doença”. Eles reduzem as chances de que os sintomas da EM aumentem. Mas eles não curam a doença. Alguns desses medicamentos são para administração subcutânea, como a aplicação de insulina. Muitas pessoas aprendem a realizar as aplicações.
Alguns medicamentos mais recentes para EM vêm como comprimidos ou cápsulas que se pode engolir. Outros medicamentos são administrados de maneira endovenosa e podem ser administrados em intervalos de semanas ou meses. Alguns desses medicamentos também podem reduzir as chances de que os ataques da EM se transformem em esclerose múltipla progressiva.
Tratamento da EM progressiva – Um medicamento chamado ocrelizumab (nome comercial: Ocrevus) pode ajudar algumas pessoas com esclerose múltipla primária-progressiva. Este medicamento é um tipo de terapia modificadora da doença e também é utilizado em pessoas com EM reincidente. Não cura a doença, mas pode atrasá-la. Existem medicamentos similares, como o siponimod (nome comercial: Mayzent), que podem ajudar pessoas com esclerose múltipla progressiva-secundária que ainda têm surtos.
“Os médicos também podem tratar os sintomas da esclerose múltipla. Por isso, é importante informar seu médico sobre todos os seus sintomas, mesmo que você não ache que eles tenham alguma relação com a EM. Por exemplo, se você se sentir deprimido, perdendo urina ou com problemas sexuais, informe o seu médico. Dessa forma, ele pode oferecer tratamentos para lidar com esses sintomas específicos”, norteia.
E se eu quiser engravidar?
Fabricio Buchdid Cardoso aconselha a conversar com seu médico antes de engravidar. Segundo ele, certos medicamentos de EM não devem ser usados durante a gravidez, pois não são seguros para o bebê. “Outros medicamentos podem estar em condições de uso durante a gravidez, se necessário. Alguns médicos recomendam usar medicamentos antes e durante a gravidez, quando possível. Se você tiver um surto de esclerose múltipla durante a gravidez, ainda pode tomar corticosteróides com segurança para lidar com os sintomas”, elucida.
Como será minha vida?
O neurologista diz que se você foi recentemente diagnosticado com EM, tente se manter positivo. Na maioria das pessoas, a doença progride muito lentamente. Em média, leva muitos anos até que a EM cause sérias deficiências. “Além disso, os medicamentos usados para tratar a esclerose múltipla geralmente são muito bons na prevenção de surtos. Algumas pessoas com esclerose múltipla recidivante podem passar muitos meses ou mesmo anos entre as crises. Mesmo assim, é impossível dizer o quão rápido os sintomas vão piorar para qualquer pessoa”, finaliza o profissional.