O sétimo mês do ano tem o propósito de reduzir os índices alusivos à mortes relacionadas às hepatites virais. Foi instituído, então, o “Julho Amarelo”. Dados divulgados pelo Ministério da Saúde dão conta que, em nosso país, mais de 70% das mortes por hepatites virais são decorrentes da hepatite C. Na sequência, da hepatite B, que aparece com 21,8% e, por fim, da hepatite A, com 1,7%.
O Diário do Rio Claro conversou com Rafaela Martinez, psicóloga, e Cristiane Midori N. Nakahara, assistente social, que atuam no Serviço Especializado em Prevenção e Acompanhamento às Ists/AIDS/Hepatites Virais (Sepa) do município a fim de elucidar acerca das hepatites e, também, para que expusessem as ações existentes na cidade voltadas à prevenção.
Hepatite – definição
De acordo com as profissionais, as hepatites virais são doenças silenciosas que provocam inflamação do fígado e nem sempre apresentam sintomas. “Representam um problema de saúde pública de grande importância, pois é significativo o número de pessoas atingidas e não identificadas. Quando não diagnosticadas, as hepatites virais podem acarretar complicações, muitas vezes levando à cirrose ou ao câncer de fígado”, explicam.
Tipos mais comuns
Rafaela e Cristiane expõem que existem vários tipos de hepatites virais. Conforme elas, no Brasil, são causadas mais comumente pelos vírus A, B, C ou D. “Existe ainda o vírus E, com maior predominância na África e na Ásia”, dizem.
Sintomas
“As hepatites virais geralmente não apresentam sintomas imediatos, por isso é chamada de doença silenciosa. A longo prazo, quando estes sintomas surgem, apresentam-se por meio de febre, vômitos, fraqueza, mal estar, dor abdominal, enjoo, náuseas, perda de apetite, urina escura, fezes claras, icterícia (olhos e pele amarelados)”, enumeram.
Diagnóstico
As profissionais esclarecem que as hepatites B, C e D só podem ser diagnosticadas por meio de exames de sangue específicos para essas hepatites virais. Para a hepatite A, além do diagnóstico por exame laboratorial, pode-se confirmar o caso pela história da pessoa, investigando se essa entrou em contato com alguém que teve a doença, o que caracteriza vínculo epidemiológico.
“Hoje, utilizamos o teste rápido para triar as hepatites B e C. Este teste é realizado por punção digital e, em poucos minutos, temos o resultado. Caso seja positivo, são feitos exames mais específicos. Os testes rápidos são realizados por profissionais habilitados e podem ser feitos em todas as unidades de saúde e no Sepa de Rio Claro”, garantem.
Prevenção
Conforme Rafaela e Cristiane, para se proteger das hepatites existem algumas orientações: hepatites A e E: lavar as mãos após ir ao banheiro, antes de comer ou preparar alimentos; lavar muito bem os alimentos que são consumidos crus com água filtrada, clorada ou fervida; cozinhar bem os alimentos, principalmente frutos do mar; lavar adequadamente talheres, copos, pratos e, caso haja algum doente com hepatite A em casa, utilizar hipoclorito de sódio ou água sanitária ao lavar o banheiro.
Em relação às hepatites B, C e D: vacinar-se contra a hepatite B; usar preservativo nas relações sexuais; exigir material esterilizado ou descartável nos consultórios médicos, odontológicos, de acupuntura, manicure, barbearia, estúdios de tatuagem e piercings; e não compartilhar agulhas, seringas, escovas de dente e giletes.
Formas de transmissão
“Hepatite A: a transmissão é fecal-oral, pode ser transmitida por contato entre indivíduos, pela água ou alimentos contaminados, por mãos mal lavadas ou sujas de fezes e objetos que estejam contaminados pelo vírus. Pessoas que já tiveram hepatite A apresentam imunidade para a doença.
Hepatite B e C: são transmitidas por meio de compartilhamento de seringas, agulhas contaminadas, colocação de piercings, procedimentos de tatuagem e manicure com materiais não esterilizados. Compartilhamento de utensílios e objetos de higiene contaminados com sangue (escova de dentes, lâmina de barbear), transfusão de sangue antes de 1993, quando ainda não eram realizadas a triagem sorológica.
Transmissão vertical: de mãe para filho, pode ocorrer durante o parto pela exposição do recém-nascido ao sangue. Vale ressaltar que para a hepatite C, a via sexual e vertical são menos frequentes. Hepatite D: só terá esse tipo de hepatite pessoas que já estão infectadas pela hepatite B. No Brasil, essa doença é mais comum na região amazônica.”
Tratamento
Segundo Rafaela e Cristiane, todas as hepatites virais devem ser acompanhadas pelos profissionais de saúde, pois as infecções podem se agravar. “A hepatite A é uma doença aguda e o tratamento se baseia em dieta e repouso, geralmente melhora em algumas semanas e a pessoa adquire imunidade, ou seja, não terá uma nova infecção.
A hepatite C tem cura em mais de 90% dos casos quando o tratamento é seguido corretamente. As hepatites B e D têm tratamento e podem ser controladas, evitando a evolução para cirrose e câncer”, exemplificam.
Rio Claro
As profissionais relatam que foram notificadas as seguintes quantidades de hepatites virais no sistema do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) no município de Rio Claro: em 2015, 95; em 2016, 81; em 2017, 51; em 2018, 78; e, em 2019, até o mês de junho, 21 notificações.
Ações
De acordo com o que foi informado à reportagem, em Rio Claro o Sepa realiza trabalho de prevenção pelo CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento. As profissionais explicam que os atendimentos são realizados diariamente por meio de agendamento e são individualizados.
“O usuário realiza os testes rápidos de hepatite B, C, sífilis e HIV, e recebe orientação de prevenção, tendo o sigilo e a ética como princípios do atendimento. Existem também os trabalhos extramuros, que são desenvolvidos fora da unidade. Para isso, utilizamos o CTA Itinerante (uma van equipada para realizar testagem) e atuamos em diversos locais, principalmente os mais vulneráveis e que tenham um alto aglomerado populacional. Outras formas de prevenção ocorrem por meio de orientações grupais em escolas, universidades e na comunidade.
Além do Sepa, todas as unidades de saúde também realizam a testagem e orientações de prevenção”, garantem. Por fim, Rafaela e Cristiane asseveram que, neste mês, Rio Claro participa da campanha “Julho Amarelo”, que consiste na intensificação da testagem da hepatite C, tendo como alvo a população-chave (pessoas acima de 40 anos, usuários de drogas, pessoas em regime de reclusão social). “O objetivo é a testagem e ampliação do diagnóstico precoce da hepatite C”, finalizam.