O cineasta Rogério Borges, roteirista e diretor dos filmes em circulação “Lugar de Ladson” e “Arrimo”, está trabalhando em seu novo projeto: “Caminhos Haiti-Rio Claro”. O projeto é um filme documentário interativo, no qual o espectador define os caminhos que a obra deve percorrer, numa espécie de game digital, podendo escolher qual personagem haitiano acompanha, conhecendo sua história e os bairros da periferia de Rio Claro.
A pesquisa, que envolve as áreas de geografia e cinema, se iniciou ainda quando o diretor cursava geografia na Unesp, em 2007, e teve contato com imigrantes de diversos países ao visitar a Casa do Migrante, em São Paulo. Na ocasião, a realidade apresentada pelos refugiados foi preocupante: discriminação racial, xenofobia, subemprego e risco de morar nas ruas brasileiras.
Já em 2015, o diretor iniciou a pesquisa em Rio Claro ao lado do historiador Thiago Ribeiro Pereira, quando chegaram até o imigrante Jean Gelin, indicado pela empresa Brascabos. Os diretores realizaram algumas entrevistas de pesquisa, mas o filme não avançou em razão do personagem migrar novamente, agora para os Estados Unidos.
A retomada do contato com a comunidade haitiana se deu em 2023, quando Borges conheceu Cledonor Penor, líder da comunidade haitiana, através do programa da Secretaria Municipal de Educação, que promove aulas de português para duas turmas de haitianos na Escola Municipal Professor Vitorino Machado.
Nos encontros com a comunidade, diversos problemas foram relatados, a começar pela dificuldade do idioma assim que chegam aqui, mas com principal destaque para o desemprego entre a comunidade, que conta com moradores do Cervezão, São Miguel, Jardim Novo I, Bom Sucesso, Jardim Independência, Cidade Nova, entre outros bairros.
Para Borges: “São histórias que precisam ser contadas, são pessoas que vivem aqui e constroem essa cidade, e muitas vezes tem dificuldades de acesso e inserção na sociedade local. Penso que um filme interativo é uma maneira de trazer o espectador para viver junto um dia na vida de cada pessoa/personagem, criando elos culturais e comunitários, reconhecendo existências e subjetividades, de modo que desperte a empatia, algo que o cinema faz de melhor”.
O grupo de haitianos participantes no projeto é composto por Junal Deronsle, Boyer Milfort, Jacsonne Pierre, Widson Jacques, Santa Odelus e Cledonor Penor. Para Penor: “A gente gostaria de saber mais sobre o desenvolvimento do país (Brasil), pois queremos chegar mais longe. Desde que chegamos em Rio Claro, nossa comunidade ficou só trabalhando e ninguém percebe nossa presença, ninguém sabe que tem haitiano vivendo aqui. Acreditamos que esse projeto vai nos ajudar a conhecer e nos conectar com a cidade”.
O diretor pretende formar uma equipe através de uma oficina específica para os haitianos, de modo que participem da criação de suas narrativas, ao mesmo tempo em que façam uma formação técnica em audiovisual, abrindo novas oportunidades. Além do diretor e dos haitianos, a equipe conta com a artista local e estudante de Geografia da Unesp, Ashley Kauany, e a produtora rio-clarense Bruna Epiphanio, que tem se destacado no cenário cinematográfico nacional e internacional.
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