Vivemos um tempo em que todas as preferências e gostos, no que diz respeito às artes e à cultura, podem ser satisfeitos sem grandes dificuldades.
Tudo pode ser acessado de imediato e mesmo à distância, através da internet, onde se encontra facilmente filmes, séries, músicas e livros de boa qualidade, bastando para isso, apenas um pouco de tempo e paciência para breve pesquisa. Então, se o que estamos vendo, ouvindo, lendo não nos agrada, basta mudar a sintonia.
Através da internet, pode-se até visitar museus, de modo virtual. Não é a mesma coisa, evidente. Mas, em tempos, como esses que estamos vivendo, é uma alternativa para evitar a carência que a falta de contato com as artes causa às pessoas mais sensíveis que sabem dimensionar, por exemplo, o valor de uma pintura ou uma escultura.
Todas essas facilidades para buscar, achar e usufruir o que apreciamos e evitar o que não apreciamos, em termos de artes e cultura, deveria propiciar uma harmonia entre os mais diferentes gostos e preferências.
As pessoas, naturalmente, tendem a se aproximar de seus afins, sejam esses pessoas ou coisas. Então, presume-se que, pessoas satisfeitas, sejam pacíficas e que sabem compreender e respeitar as diferenças e conviver com elas.
As artes e a cultura, atingem diretamente o emocional de quem delas se ocupa. E poderia, se houvesse interesse das pessoas nesse sentido, contribuir para uma sociedade pacífica e um pouco mais harmoniosa. Mas, infelizmente, apesar de todas as facilidades que se tem hoje, para satisfazer gostos e preferências, de um modo geral, não é o que se tem observado. A necessidade de se impor, de demonstrar mais valor e superioridade perante o outro, que pensa, age e aprecia diferente, ainda se verifica na sociedade humana.
Da mesma forma, como ocorre, agora, e mais do que nunca, no campo político ideológico, o que se observa, é uma tentativa estúpida de impor ideias e ideais, impor opiniões meramente pessoais, impor preferências e gostos que agradam e satisfazem a uns em detrimento de outros.
Tal comportamento, a meu ver, além de revelar um orgulho besta e tosco, no seu grau mais primitivo, revela também, como ainda estamos distantes de uma sociedade pacífica, ordeira, culta e educada, que sabe viver em harmonia, em meio a tantas diferenças de ideias e opiniões, gostos e preferências, e crenças, inclusive.
A educação, que vem do berço, e o conhecimento, que vem do banco escolar, poderiam e deveriam ajudar na construção dessa almejada sociedade.
No momento, porém, isso se revela impossível. Com as instituições de ensino fechadas ou operando de modo precário, enquanto bares permanecem abertos. E mesmo quando ainda abertas, as escolas, em sua maioria, reféns de uma ideologia política única, exclusivista, que não admite a existência de qualquer outra e não tolera a sua convivência.
Mas esse ainda não é o pior dos cenários. Existe outro. Escolas que primam em sua maioria, tão somente em formar profissionais, esquecendo completamente do valor humanístico que o ensino possui, porque dá, ou ao menos deveria fazê-lo, ao jovem cidadão, em período de formação de caráter, a clareza do motivo da sua presença e importância neste mundo.
E quanto aos pais, os missionários da vida humana, os anjos guardiões sem asas, os provedores dos homens e mulheres de amanhã, que haverão de substituí-los, dividem-se no momento, entre os tantos problemas a enfrentar, os mais difíceis, que exigem solução imediata, que são as contas a pagar e a comida a pôr na mesa.
Talvez por isso, no tempo que houver disponível, e para muita gente, essa parece não ser tarefa tão difícil, atualmente, é possível tornar a vida um pouco melhor, mais agradável, apreciando com os recursos disponíveis, as artes e a cultura com as quais temos afinidade.
Façamos isso, de modo a tornar a vida um pouco melhor e mais bela. Mas façamos, sem cometer a tolice, de desperdiçar o nosso tempo, querendo impor os nossos gostos e preferências ou criticando veladamente, os gostos e as preferências diferentes dos nossos.
Assim como nós, também eles, que pensam, agem e apreciam diferentemente de nós tem o direito sagrado a cinco minutos diários de ilusão.
Ouvindo a música que nos agrada, lendo o livro que nos abre as portas da imaginação, assistindo a um filme, que nos transporta a outra dimensão da vida, escapamos por instantes da realidade comum a todos nós nesses dias por vezes tão perversos. Leitores e leitoras do Diário um ótimo final de semana a vocês todos e agora vamos ao nosso cafezinho de todas as manhãs. Abraços e até mais.