A popularização da ciência é um objetivo comum entre pesquisadores, população e comunicadores e interessa à sociedade. Mas por que, ultimamente, as autarquias públicas e fundações que desenvolvem pesquisas no Brasil estão sendo difamadas sistematicamente por partidos políticos e pelo governo por meio de fake news? Estão sendo dilapidadas em seus fomentos por serem improdutivas e local de balbúrdia, segundo o Ministro da Educação do atual governo?
Segundo os relatórios das agências de fomento à pesquisa (FAPESP, CNPQ, CAPES) e indicadores de rankings nacionais (RUF Datafolha) e internacionais (Journal Citation Reports – JCR, Web of Science, SCOPUS, etc.), as universidades públicas brasileiras são responsáveis por mais de 90% da pesquisa científica brasileira e multiplicaram as publicações científicas e tecnológicas de cientistas brasileiros nas revistas internacionais nos últimos 10 anos.
Mas se as universidades produzem tanto, por que grande parte da população tende a acreditar no contrário? Por que as pesquisas científicas não são motivo de orgulho do país? Nenhuma resposta simplista ou partidarizada poderia explicar a complexidade de diversos fatores que influenciam ou determinam o distanciamento físico, ou mesmo conceitual, das universidades públicas com a sociedade.
Os episódios recentes de desinformação plantadas sistematicamente pela mídia e robôs em grupos em redes sociais encontram fertilidade em segmentos sociais mal informados ou contrários à educação pública superior gratuita, inclusive por terem interesses cruzados na privatização do ensino no Brasil.
Aqui cabe a pergunta crucial: isso teria acontecido?
1- Se a universidade tivesse se aproximado da população, mostrando os serviços que presta além da graduação?
2 – Se destacasse a importância sócio-econômica das universidades nas cidades do interior e capitais, dinamizando suas economias?
3 – Oferecendo e divulgando os projetos de extensão que atendem o público externo de forma gratuita?
4 – Divulgando de maneira efetiva suas pesquisas e serviços prestados?
A literatura acadêmica e pesquisas relacionadas indicam que a maior responsabilidade sobre a desinformação recai sobre as próprias universidades, que somente agora, atacadas sistematicamente, reagem atrasadas ao fato de que se acomodaram numa silenciosa cumplicidade com a sociedade, que deveria cobrar essa aproximação.
*O autor é Assistente de Suporte Acadêmico em Comunicação Social e Mídias Digitais na UNESP.
Por Renato Terezan de Moura