“Chocado como profissional e como pai”. Assim Igor Rafael de Carvalho, guarda civil municipal que atuou no resgate de uma criança na última sexta-feira dia 2, define a sensação ao se deparar com a menina, de apenas três anos, estirada num colchão, numa sala imunda, com a fralda suja, e sem receber alimentos há cerca de 40 dias.
A menina foi levada às pressas para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Cervezão e, de lá, encaminhada para a Santa Casa, onde, segundo informações médicas, começa a se recuperar, tendo ganho peso – pelo menos 2 quilos. Ela pesava oito quando foi achada, na casa onde era mantida pelo pai afastada de toda a família – inclusive dos entes da falecida mãe da criança.
O pai também apresentava quadro de desnutrição, chegou a admitir aos agentes de segurança que estiveram no resgate, que também não se alimentava e que o objetivo dele era que ele e a filha “morressem juntos”. Ele chegou a ser detido, foi liberado na audiência de custódia, mas o Ministério Público recorre da decisão, pedindo sua prisão preventiva, sob alegação de que sua conduta deve ser tipificada como tentativa de homicídio.
O GMC Rafael, como é mais conhecido, dá detalhes de como foi a reação das equipes que atuaram na operação que levou a menina para o salvamento. O atendimento foi chocante, para todos nós que estávamos no local, pelo fato de que todos somos pais, pelo estado que estava aquela criança. Eu como pai me coloco no lugar das pessoas, de quem tem filho dessa idade ou próximo dessa idade. A gente trabalha com crianças, por conta do projeto envolvendo a oncologia, o Cão Doutor. Vemos muitas crianças adoecidas, mas, ver uma na situação em que encontramos essa menina é diferente de tudo, nos choca muito, nesses quinze anos de trabalho”, relatou ontem ele ao Diário do Rio Claro.
Em todo esse tempo na corporação, ele diz que realmente nunca havia visto uma criança numa situação tão dramática. “Nós atendemos várias ocorrências com crianças, acidentes, damos vários apoios, mas encontrar uma criança naquela situação, bem próxima de vir a óbito, é muito complicado. Primeiro fizemos o socorro dela, levamos à UPA e agora temos essa novidade, a notícia de que ela está bem melhor”, comenta, aliviado.
Rafael diz que se sente confortado com as novas informações sobre a menina. “A sensação é a melhor possível, de ter colaborado, tirando essa criança do risco em que estava, e ajudando de forma profissional, isso só alegra nosso dia a dia, poder contribuir com a segurança das pessoas e, também, salvar vidas”, diz.
Ele, no entanto, faz questão de ressaltar o trabalho conjunto. “Eu falo em nome das equipes que estavam no local. Não fiz nada sozinho, foi nossa equipe, com apoio do GAM, todos os guardas presentes na ocorrência, a energia para fazer o máximo por aquela criança foi despendida por todos”, declara.
Segundo informações médicas, a menina que chegou ao hospital com os ossos aparentes, pele distendida, sinais de hipotermia e desidratação, estava prostrada e, até agora, não se expressa por fala, embora já consiga balbuciar. Os médicos não arriscam dizer se ela terá ou não sequelas decorrentes da privação tão prolongada de nutrientes.
Ela começou a receber uma dieta especial, com soro e alimentos especiais ricos em proteínas, em doses criteriosamente calculadas. Ainda não há informações sobre alta. A família materna da criança busca obter sua guarda.
Foto: Acervo Pessoal