De acordo com o último levantamento DataSUS, 15 pessoas cometeram suicídio em Rio Claro no ano de 2017. A depressão, uma das principais causas, é considerada o mal do século e tem levado a muitas mortes.
Ao Diário do Rio Claro, o Psiquiatra Felipe Renato Nadai esclareceu algumas questões que envolvem o tema depressão. Segundo ele, ainda há muita confusão entre um estado de humor deprimido e a ocorrência real de um Transtorno Depressivo Maior.
O quadro psiquiátrico é complexo e vai muito além de um simples estado de tristeza. Para melhor entender, ele frisa que podemos ficar tristes por acontecimentos do dia a dia, mas a depressão real é um estado de humor negativo que não muda, independente de acontecimentos positivos à sua volta, permanecendo-se constante por mais de dois meses seguidos. Talvez este seja o maior sinal de alerta. “Associado, teremos ainda pelo menos mais quatro sintomas: falta de energia, sentimento de culpa ou inutilidade inapropriados, alterações do sono, do apetite, dificuldade na tomada de decisões com diminuição da capacidade de pensar, podendo chegar a recorrentes pensamentos de morte”, frisou o especialista.
Infelizmente para muitas pessoas, a depressão é sinônimo de “frescura”. “Ouço essa fala quase diariamente ao meu redor, a começar pelos próprios pacientes inconformados na perda de controle do que sentem, por exemplo. Por isso, talvez a melhor forma que um leigo pode se ajudar ou ajudar alguém que “parece não estar indo muito bem”, é pedir ajuda a um profissional da saúde mental. Infelizmente, ainda vemos muita negligência aos sentimentos e emoções, principalmente no que tange a dor emocional do outro. Mas podemos tratar tudo isso com informação e muita psicoterapia”, destacou
REDES SOCIAIS
Um caso que teve muita repercussão na mídia foi o da blogueira que, após o rompimento do relacionamento que vivia, casou-se sozinha. Ela foi então duramente criticada nas redes sociais e, posteriormente, se suicidou. O médico analisa se as redes sociais podem estar causando adoecimento mental nas pessoas. “As redes sociais são apenas a forma de expressão mais facilitada de uma sociedade individualista, narcisista e com referências pobres e superficiais.
Elas não são causa de nada, são consequência. Dão vazão ao que já existe de primitivo em todo ser humano: a inveja e o ódio. Afinal de contas, o amor é um sentimento muito mais elaborado e maduro, que exige reparação constante de nosso primitivo, em prol do respeito e da verdadeira aceitação daquele de escolhemos amar, sem condições. Muito mais trabalhoso e penoso, não é verdade?”, salientou.
SINTOMAS
“Cada pessoa sente de um jeito. O meu jeito de ser é alegre, minha personalidade. Por mais que minhas dores estejam consumindo minha alma, ainda consigo olhar para o outro com olhar de carinho, de amizade, de vivenciar minha vida com minha família, amigos e trabalho.
Mas os meus sintomas são tristeza, desespero, já tive vontade de tirar a vida, tive vontade de ficar andando para lá e para cá, seguir uma reta sem destino. A tristeza que me mata é ao final do dia, entre o entardecer e o anoitecer… me pega muito forte. De manhã, não quero levantar, sem vontade de sair, pensando: ‘vou ficar aqui para sempre’” – Depoimento de uma das entrevistas que sofre de depressão.
TRATAMENTO
“Tem o acompanhamento médico, a psicóloga e o psiquiatra fazem muito bem. O psiquiatra administra remédios para que você consiga ter um equilíbrio. A psicóloga tenta mostrar para você as inúmeras coisas que você tem na vida” – Entrevistada, 54 anos.
“Passei pelas terapias, nem dor de cabeça sinto. Tem dias que bate uma solidão, mas não posso deixá-la me atingir” – Declaração, mulher, 32 anos.
Relatos de quem sofre de depressão
Primeiro Relato:
“Sempre fui extrovertida, alto astral, brincalhona. Depois de um tempo, começou a acontecer algumas coisas no meu trabalho e passei a me sentir diferente da pessoa que sou. Eu não tinha vontade de levantar para trabalhar, eu sentia uma angústia tão grande quando chegava o domingo e ter que enfrentar o ambiente pesado do trabalho. Eu tinha vontade de voltar a ficar no quarto, deitada na cama, no escuro, sem falar com ninguém. A solidão era o que eu mais queria. Eu chorava do nada. De tão angustiada que eu estava.
Chorava bastante, e parecia que cada dia eu estava com um problema de saúde, dor de estômago, dor de cabeça, mal estar, tudo por causa da angústia. Depois de sair do trabalho que me prejudicava. Uma outra fase difícil e de crise foi quando tive um relacionamento conturbado e, como eu não conseguia sair daquela relação, manifestaram os sintomas. Um dia, fui para a rodovia e comecei a andar e, quando me sentisse preparada, ia me jogar na frente de qualquer veículo. Minha mãe desconfiou, foi atrás de mim e me salvou. Em outro momento, meu atual namorado, que era meu amigo, também me impediu de uma decisão. Só quem passa pela depressão sabe como é sofrido e difícil.” Relato de uma mulher, de 32 anos.
Segundo Relato:
“A tristeza, a angústia, o desespero, eu não sabia que era depressão. Começou quando eu perdi meu primeiro irmão. O segundo irmão também morreu em um espaço de tempo de três anos. Mas se a gente fizer uma análise, a depressão é um resumo de todos os acontecimentos que vivemos e que não conseguimos trabalhar direito em nossa vida. Vai acumulando e se transformando em um peso muito grande para a alma e o corpo, desencadeando esse olhar triste pela vida.
Como é que eu vou ver as coisas claras com essa dor que assola meu coração? E outros acontecimentos vividos, como ex-marido que era violento, me tratava mal, fui agredida com palavras e fisicamente, tudo isso foi contribuindo para que estourasse em algum momento. Também vivo situação preocupante com meu filho, que tem dependência química e que eu não sei como resolver, quero viver a vida dele. Tudo se acumula e você sente a pior dor do mundo, que é a dor da alma.” Relato de mulher, 54 anos, que convive com a depressão.