Quem viveu a cena musical dos primeiros anos de 2000 em Rio Claro se lembra de dezenas de cabeludos que se aglomeravam em inferninhos para ouvir rock, beber e viver com intensidade a filosofia da liberdade proporcionada pelo movimento. As tretas também faziam parte do cotidiano das trupes. Ora contra outras tribos, ora entre as tribos. Tudo de forma nada ordeira, mas que marcaria para sempre cada um daqueles que participaram de forma ativa. Punks, headbangers, manos, playboyzinhos e a polícia. Tudo junto e misturado.
O cartunista Rafael Silvestrini foi um dos que viveu esse período e bebeu dessa fonte. E lá se vão mais de 15 anos.
Toda essa experiência foi fundamental para a criação de sua obra. Esculacho, humor politicamente incorreto e muita raiva. Silvestrini nasceu em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, mas passou grande parte de sua vida em Rio Claro. Hoje, vive na calma e turística Florianópolis, onde prepara seu novo zine, intitulado “O Subversivo”. Já no dístico da publicação, uma frase que esclarece o posicionamento do artista: “Um zine nem torto pra direita, nem torto pra esquerda”.
Sem recursos, o artista busca parcerias com entusiastas da cena undergroud para colocar o projeto na praça. Silvestrini procura ainda um veículo corajoso para seu material. Que, às vezes, faz pensar e, às vezes, apenas dá ódio. Com o fim da revista MAD, o espaço no mercado editorial fica cada vez mais difícil. Mas o cartunista nada contra o mainstream.
Em entrevista ao Centenário, destacou que suas influência passam pelo Trash Metal e desaguam no traço de Henfil, Millor Fernandes e Angeli. “Faço meu trabalho ouvindo Death Metal, mas gosto de desenhar ouvindo Facção Central também. Me dá mais raiva”, comenta.
Aos 33 anos, Silvestrini é um dos filhos órfãos da extinta MTV e aprendeu nos anos 90, em um cenário perfeito, parte das influências para ingressar de cabeça na década seguinte.
O PILANTRA
De volta ao ABC Paulista, reduto punk e dos carecas, lançou entre 2011 e 2012 o zine O Pilantra, com cartuns, charges, tiras e análise toscas do início tosco do apocalipse brasileiro. A publicação underground durou 12 edições e fez estrago. Foi embrião para o novo projeto.
POLÍTICA
Questionado sobre a atual conjuntura política brasileira, já que seu trabalho escracha com precisão cirúrgica os canos do poder, foi taxativo. “Vejo os lados [direita e esquerda] como um bando de imbecis. O papel da população é o de ser sempre oposição a qualquer governo, seja de direita ou de esquerda. Político acomodado só faz m…”, cutuca.