Cantos Diversos
[Canto de Águas e Naus]
A notícia
O barco que desce o rio
ao mar não chegará.
Só as águas chegarão.
Aquela que acena da terra,
não navegará o rio.
Quem navegar à terra não aportará.
E a distância crescendo.
Saudade fica em quem acena.
Saudade leva quem partiu.
Os distantes têm a esperança da volta.
Mas, só quem navega
tem a realidade dos ventos e dos rai-os,
das rochas e das espumas.
E tudo acontece
depois que o barco vira e naufraga.
Notícias sinistras se espalham, então.
O barco que descia o rio
não chegou ao mar.
Somente as águas chegaram.
Aquela que ficou em terra,
de tudo sabendo,
corre à beira do rio
e vê, ainda que embaçada,
a imagem do afogado.
Com ansiedade, espera
pelo corpo do morto,
que no fundo
das águas revoltas se perdeu.
(Eclesiastes, 1/9).
Novas naves navegam
em novas mentes.
Novamente,
as naves navegam
névoas, nuvens, ninfas,
e o nada.
Novas naves navegadas
por novos marinheiros,
de novos mares, de novos sonhos,
que lutam, bebem, lutam e morrem.
É sempre a mesma história.
A impressão do novo
é de quem chega.
As lobas
Lobas de espumas e água
se agitam no mar.
No encontro com as pedras,
uivam, gritam o som
escondido nas conchas.
Avançam e se perdem
molhando a areia.
Recolhem-se
e se encontram na volta ao mar.
E uivam e gritam
criando o som
escondido nas conchas
que guardam o mar.
As leoas
Ondas – como leoas –
devoram as pedras que lá estão
e, depois, se desfazem
em infinitas estrelas brilhantes,
devoradas que são…
e vêm e vão … as ondas
que espumam
em agonia,
em plena solidão.