Cantos diversos
Dois poemas do meu livro inédito “Cantos Diversos”, da parte “Cantos de Esquina.
A SOMBRA
Do negrume absurdo das coisas
Como uma pena ao léu
Leve, em movimentos suaves e lentos,
Vem a sombra do passado
Carregando imagens embaçadas
Que acabam reconhecidas
por esse sentimento da saudade.
Os namorados continuam isolados.
Entre eles a infinitude do tempo
Entre eles a plenitude do espaço.
Não há encontros. Só imagens.
Tão repentinamente como veio,
Tão repentinamente vai a sombra
Com mais essa quara da vida,
Levando em meio aos namorados
A imagem dos que permanecem separados.
Do negrume absurdo das coisas
Como uma pena ao léu
Leve, em movimentos leves e lentos,
Vai a sombra do passado
Sumindo entre imagens embaçadas
Que se perdem nas brumas do desconhecido.
AQUI, EM PASÁRGADA
(Homenagem ao maior poeta modernista brasileiro, Manuel Bandeira).
Aqui, em Pasárgada, não sou amigo do rei,
Nem protegido da rainha.
Inimigos, se os tenho,
Não os conheço.
Agora, os amigos,
Espero que se esqueçam de mim,
De quem ouvi promessas.
A amizade, uns,
Que se diziam fraternos,
não valeram o meu credo.
Ou foram traidores, ou esquecidos,
Ou ingratos ou tímidos.
A amizade de outros, entretanto,
me favoreceu.
Curou cicatrizes e foi companheira.
As mulheres, ah, as mulheres,
Viúvas de mim em vida.
Algumas arrependidas,
Outras chorosas,
Outras ainda agradecidas,
Onde estarão?
Em Pasárgada,
Sem o olhar dos reis,
A vida, que é comum,
Segue em dias de simples estórias,
A vida que é i igual à vida privada
de qualquer lugar.
É isso ou nada.