CANTOS DIVERSOS III
Poemas do meu livro inédito “Cantos Diversos”, da parte “Canto de Luz e Trevas”:
[A OUTRA HORA DO ANJO]
Um anjo travesso, caído do céu,
E, aqui, perdido, vaga sem direção,
Não revela, contudo, o segredo do véu.
Nem diz do que guarda no coração.
Ouve falar da Terra Prometida
E sabe que lá não é o céu.
Tem a alma compungida,
Escondida sob escuro véu.
Busca pela porta que perdeu.
Infatigável, anda por todos os cantos.
Quer deixar este mundo miserável
E, novamente, adentrar o céu.
Um dia, como que de repente,
Ele vê aberta a porta do céu.
Deixando cair o corpo de gente,
Sobe só vestido do sublime véu.
[A COLHEITA]
A Brilhando diante de mim,
Com as asas resplandecentes,
O anjo, com a voz de sutil trovão, falou:
-Ergue-te e colhe os frutos de teu jardim!
Me ergui e fui à colheita dos frutos.
Mas os frutos estavam podres.
Eu os colhi mesmo assim.
Tive nojo, porém.
Larguei-os. E fugi, já estando sujo.
E onde me escondi,
O cheiro ainda me incomodava.
Novamente, o anjo me apareceu e disse:
-Ergue-te e volta ao jardim.
O teu destino é colher aqueles frutos.
Respondi:-Não tenho força!
O anjo altivo, brilhante, ordenou: -Vai.
E fui. E recolhi os frutos podres.
E já não tinha mais nojo.
Havia compreendido
Que a surpresa estava vencida
E que eu havia perdido a inocência.
O anjo me apareceu pela vez terceira.
Pareceu-me estar sorrindo.
Havia nele piedade.
E, em mim, as marcas da colheita.