Canto dos Tempos de Chumbo
O cavaleiro
Das sombras escuras,
surge a decrépita figura
do cavaleiro salvador.
De olhar triste e cansado,
tem cansado o triste andar
Vendo-o, meu camarada,
a decepção o antecipa,
porque veio sem luz,
porque veio sem nada.
Da esperança se perdeu,
da certeza se desencontrou.
Veio ferido de desilusão,
sangrando sonhos e canções.
Veio com a mão descaída,
e a outra decepada.
Veio com a alma ferida,
sabendo a palma perdida.
Voltou com o rosto da agonia,
com o olhar da aflição chegou.
Foi como herói,
a tudo enfrentou e a morte.
Na chegada,
o rosto exibe duro corte.
Mudo, sofre de funda dor doída.
Um dia, lançou-se à sorte.
Foi esperança, criando o mito,
foi certeza, criando a lenda.
Vem viver, agora, a condição do aflito,
perdido no próprio deserto,
escondido na própria tenda.
Poema trágico
Com o olho cego,
Com a boca torta,
Com os braços retorcidos,
Com o peito perfurado,
Com o pescoço pendido,
Declama ele, em sua fala perdida,
Um poema trágico,
Um poema já sem vida.
O que não se verá
O dia que não se verá vem vindo.
Enquanto os anjos não recolhem a alma,
alimenta-se do que sonha a esperança.
Mas, a liberdade nunca é alcançada.
Ela que é a criação da utopia mágica
dos místicos sonhadores.
A liberdade é o dia que vem vindo
e não se verá.
Foto: Divulgação