Canto de Rostos e Máscaras
[30]
Não procures pelos cantos
quem não ficou escondido
nem perseguido por fantasmas.
Não procures pelas veredas
quem nunca foi viajante.
Não procures pelos lugares
quem teve pressa em fugir.
Não procures pelas pessoas
que aparecem mascaradas,
sustentadas pelo falso,
acreditando na mentira,
construída para o próprio engano.
Não procures, pois.
Há de te bastar a imaginação.
[31]
A vida se perde em dias que caem ao chão.
E a morte, sem máscara e sem rosto,
de todos se ocupa.
Ceifeira do trigo e do joio,
passa vigilante.
Sem canção, nada embala.
Sem notícias, nunca se anuncia.
Nada pede. Tudo leva.
Mesmo sem ser chamada, vem.
Entre blasfêmias e desenganos, chega.
E dali, depois, se vai, silenciosamente,
de tudo se ocupando,
dos dias que caem ao chão.
[32]
Hermético.
O mito é disfarce.
Quem é ignorante, acredita.
Quem conhece, não revela
O segredo dos escolhidos
Escondidos atrás de máscaras.
O mistério é tão bem guardado
Que nada é desvendado.
Se revelado fosse,
desfeitas ficariam as máscaras.
E os escolhidos seguiriam sem rosto
E sem filosofia.
[33]
Não demorou muito. Só um instante.
O rosto ficou marcado.
O sentimento mascarado.
Não demorou muito. Só um instante.