O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) se manifestou contrário à criação de uma tabela com os valores mínimos a serem cobrados pelo frete do transporte rodoviário de cargas.
Em matéria publicada na edição do dia 19 de junho, o Cade também dizia haver um risco real de que a tabela pudesse gerar um risco para os próprios caminhoneiros, seja ampliando o risco dos clientes optarem por assumir eles mesmos o transporte de cargas, seja por um grande número de caminhoneiros decidir não seguir a tabela, criando distorções dentro da própria categoria, com os cumpridores da norma perdendo em competitividade.
O Diário buscou informações do meio dos caminhoneiros, através de Marcos Vicente, mais conhecido como Kinho, caminhoneiro e ex vereador em Rio Claro.
Kinho, que foi um dos organizadores em alguns pontos de manifestações de caminhoneiros na região de Rio Claro, está meio descrente na implantação da tabela de frete mínimo.
“Eu acho que isso não vai dar em nada. Caminhoneiros, por exemplo, que pegam um frete de São Paulo para o Ceará ou outro estado qualquer, na volta acaba se vendo obrigado a aceitar um frete por qualquer preço, abaixo do tabelado. Caso contrário volta vazio, acabando com o lucro que teve na ida. Aí, o que acontece, os motoristas do Ceará, ficam sem frete”, explicou Marcos Vicente.
“Os caminhoneiros, assim, estão eles mesmos quebrando um acordo que reivindicaram quando paramos o Brasil. Por esse motivo é que eu digo que não vai dar em nada”, reforçou Kinho.
“As grandes empresas de transporte, estão colocando cláusulas em contratos, onde o caminhoneiro aceita a negociação, para não ficar sem frete. Infelizmente não vem funcionando como nós esperávamos”, finalizou Marcos Vicente, o Kinho.
Kinho enviou à redação uma cópia de contrato entre uma grande empresa de transportes e um caminhoneiro, onde se lê na cláusula 7: “Acordam as partes, que em decorrência da fidelidade no transporte, o valor do frete é ajustado de comum acordo, motivo pelo qual as partes convencionam que não seguirão a tabela da ANTT”, o que livra a empresa de um possível processo.
Feita às pressas, tabela tem disparates
Segundo matéria da Folha de São Paulo, a tabela feita às pressas não leva em consideração uma porção de variáveis que aumentam ou diminuem os custos.
Não é certo, segundo a matéria, elaborar uma tabela para todo o Brasil, sem levar em consideração a qualidade das estradas e outros parâmetros técnicos.
“Não é transparente como foi calculado. Usam parâmetros operacionais, como se todo o mundo que transportasse granel tivesse a mesma velocidade, mesmo tempo de descarregamento, mesmo rendimento de combustível”, diz Thiago Guilherme Péra, coordenador técnico do EsalqLog (Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística).
A tabela, na visão desses técnicos, mostra preços que dobraram em relação ao que se pratica no mercado, sendo que em outros casos ficou abaixo do que se pratica. Sem nenhuma lógica.