Brincar de Deus
Imagine, você, um ser totalmente criativo e que pensa conscientemente, está em seu local de conforto favorito sem nada para fazer, então, decide criar cenários imaginários em sua mente.
Primeiro, você imagina alguém fictício que acabou de idealizar, nada além do seu imaginário, não há personalidade ou identidade alguma, apenas alguém ou algo vazio. Você decide dar características a essa coisa que vou chamar de “Kuk”, então, lhe dá uma aparência, uma personalidade e estilo próprio, fazendo assim, uma personagem seu.
Kuk não é nada mais além de Kuk, nada mais que uma representação sua feita de outra perspectiva, então, para expandir isso, você agora cria cenários, personagens secundários e várias crônicas em base disso. Agora, há mais vida, contém elementos a mais em sua ficção.
Avançando mais um pouco, você está tão submerso no tédio e no seu universo que você já adicionou vários outros elementos, adicionou um passado de Kuk e identidade de vários personagens secundários, incluindo o passado de cada um. Agora, em sua mente, há história de um universo completamente novo, onde no mundo, a sociedade e as tradições são completamente diferentes do que se é na realidade, onde o passado da sociedade, das espécies, dos costumes, das leis, da política e da religião são diferentes da realidade. As novas leis científicas foram você que criou, fazendo novas, onde façam sentido naquele mundo.
Com um universo quase feito, você decide criar uma nova lei do tempo, onde, quando se passam horas na realidade, anos podem se passar na sua ficção, agora, o tempo existe de outra maneira no universo criado.
Você está totalmente submerso em sua ficção, então decide ser mais ousado. Como criador da ficção, de seu universo, há poder de tudo, então, cria consciência para Kuk. Kuk agora é um ser consciente, consegue agora pensar, conscientizar, sentir e refletir sobre tudo que te envolve, Kuk agora tem a sua própria vida e alma, Kuk virou independente de você para fazer suas escolhas e decidir no que irá pensar, mas, óbvio, você como criador, está tudo em seus planos qualquer coisinha que ele pensar, enquanto ele acredita ser independente de raciocinar.
Kuk, assim como nós, possui sua perspectiva de tempo e do espaço. Tem consciência de seu universo e acredita que o foi criado bilhões de anos atrás. Kuk acha que as outras pessoas são conscientes e pensantes como ele.
Então, cansado, você decide arranjar o que fazer, decide parar o que está fazendo, mas não esquece daquele universo, apenas o reprime em seu inconsciente.
O universo ainda está lá, guardado na sua mente, enquanto isso, Kuk ainda está vivendo sua vida.
Por alguma razão você volta bravo para sua zona de conforto, lembra de Kuk e seu universo, e decide descontar tudo lá. Você começa a fazer inúmeras maldades. Faz os personagens iniciarem guerras, cria doenças, epidemias, assassinatos, crimes, acidentes e diversos desastres naturais, apenas para fazer do sofrimento, até porquê, que mal isso te faria?
Kuk vive tudo isso.
Decide-se fazer algo a mais, cria uma religião inteira sobre você mesmo, onde você vira o deus mundialmente adorado, justamente por ser o criador de tudo e o salvador de todos. Claro que tem os que não acreditam em ti, mas nada está fora de seus planos.
Agora você é uma religião onde as pessoas nem perceberam que você surgiu do nada, até porque você não as deixou perceber.
Agora com esse universo já rico com seus detalhes, você decide ir dormir, guardando em seu inconsciente aquele universo.
Enquanto dorme, o universo continua acontecendo, com Kuk vivendo a sua vida normalmente.
Quando acorda, não lembra de ter pensado em nada ou ter criado nada, mas tudo ainda existe, Kuk ainda está naquele universo no fundo de sua mente vivendo a sua vida normalmente, enfrentando as dificuldades que você mesmo fez, e vive sua vida inteira até a hora que, de maneira inconsciente e automática, você o faz morrer.
Enfim, você foi Deus, um Deus que fez suas próprias criações, deu vida e alma a elas e ainda virou uma religião. Você foi Deus por tédio.
E, a minha reflexão é, quais as chances de sermos um Kuk e as chances de estarmos no fundo da mente de alguém? E esse alguém ser algum Deus que adoramos? Se conseguimos criar um universo simulado, por quê não seríamos já um ser simulado?
Texto escrito pelo aluno Bryan Souza, estudante da Escola Estadual Januario Sylvio Pezzotti, sob curadoria de Rafael Cristofoletti Girro, aluno da Escola Estadual Marciano de Toledo Piza, todos pertencentes à Rede Camões de jornais escolares. O texto tem caráter pedagógico.
Foto: Divulgação