Todos que passaram pelos bancos escolares sabem que o Brasil, com seu imenso litoral, é banhado pelo oceano Atlântico. Lindas praias, ótimo clima e povo hospitaleiro. Porém, recebemos menos turistas do que alguns monumentos históricos, como é o caso da catedral de Notre Dame de Paris, que até recentemente era admirada por cerca de três vezes mais pessoas todos os anos do que o nosso país, que dizem, é abençoado por Deus e bonito por natureza.
Crenças à parte, é preciso encarar a realidade. Recebemos poucos turistas porque eles fazem escolhas racionais. Somos um país pobre, sem infraestrutura, violento e distante. Após mais de uma década com a economia crescendo artificialmente e retraindo fortemente como consequência de intervenções heterodoxas, incompetência administrativa e estrondosos casos de corrupção, tudo temperado com um nefasto “nós contra eles”, muitos imaginaram poder inaugurar uma Nova Era.
O mercado esperava que o novo governo trabalhasse por reformas estruturais como a da Previdência, a Tributária e a do ambiente de negócios (como a MP da Liberdade Econômica), de maneira mais focada, com ênfase, para que o país pudesse voltar a crescer de maneira sustentada, única maneira de diminuir as mazelas sociais. Movimentos tímidos e erráticos transformaram o ambiente.
O mundo está mudando e não podemos bater continência para qualquer outra bandeira, que não a nossa. Precisamos agir rápido para aproveitar o mercado em crescimento dos países banhados pelo Pacífico, sob forte influência da China. Já existem conversas e projetos para alcançarmos esta região com maior facilidade, mais eficiência e menores custos, acessando-o via Bolívia até o litoral do Peru.
Enquanto o Congresso Nacional discute e encaminha a Reforma da Previdência, da forma como deve ser numa democracia, somos atropelados por assuntos bem menos urgentes como “Golden Shower”, as roupas dos meninos e das meninas, posse de armas, pontos na CNH, radares nas rodovias e claro, por assuntos de notável importância como as mensagens trocadas pelos integrantes da Lava Jato, que se tornou um símbolo de luta contra a corrupção no Brasil.
O brasileiro se habituou com vazamentos criminosos sendo publicados no transcorrer da Lava Jato, pois diziam respeito a políticos e empresários poderosos. E agora, assombrados, muitos gritam contra o mesmo crime, sem dar a devida importância ao conteúdo publicado. E o que vai ali, além do que está por vir, é grave, muito grave.
E a peneira não é boa proteção contra o sol. Para amenizar a temperatura, precisamos enfrentar as verdadeiras causas dos nossos problemas com muita competência e foco. A democracia dá trabalho, mas é o melhor caminho. Não é bom um país ficar dividido entre os que aceitam corrupção em troca de uma hipotética luta pelo social e os que não se importam com a quebra de institucionalidade em troca de uma hipotética luta contra a corrupção. Precisamos lutar por um Brasil pacífico, mesmo que distante.