Bilhetes de um tempo
[XXI]
No tempo do ginásio, por volta de 1964 ou 1965, eu e o Wilson Severo (que morava na esquina da avenida 1 com a rua 9 numa casa com piscina) resolvemos formar uma turma. Depois de muito pensar, batizamos o grupo de 14Bis. Primeiro, porque se utilizava de nome nacional; segundo, porque homenageava o Pai da aviação brasileira; e terceiro porque queríamos ter 14 meninos e 14 meninas. Essa ortodoxia, porém, nunca foi, realmente, observada.
A primeira reunião da turma ocorreu na casa do Carlos Borges, irmão do Picé (bom de bola). Lá estavam, além deles, os gêmeos Pezzotti, o meu primo Ricardo D’Abronzo, eu e mais uns outros.
Foram convidadas, para a turma, a Sandra Couto, a Jane, a Valquíria, a Bete (irmã do Temístocles Agamenon). Vieram, depois, o Arlindo Chinelatto, o Silvio Ávila, o Ivan Capelato, o Sforza, o Zé Mauro, o Dodô. Em seguida, o Sílvio, o Paulo (irmão da Soninha, minha colega do preparatório Líder, e que faleceu naquela quadra de tempo), e o Toninho, conhecido por ‘Pequeno” (e até hoje figura conhecidíssima da cidade).
E começaram os encontros na casa da Vera Machado, prima da Carmem Silvia (que se casou com o Balbino e era sobrinha da professora Antonietinha). E foi a Vera, no Ginástico, quem me ensinou a dar os primeiros passos de dança.
E dançávamos ao som das músicas da Jovem Guarda, dos Beatles, do pessoal da Itália (Gianni Morandi, Bob Solo, Pepino de Capri) e as americanas (Elvis, Jonnhy Mathis, Louis Armstrong, Ray Charles, Nat King Cole, Neil Diamond e outros).
Outros grupos povoavam o jardim público, como a turma do Anjo, da Dúzia, dos Morcegos e a do Gato Preto.
Era dessa época o costume de os ‘caras’ se encontrarem em cada parte do jardim.
Nós ficávamos onde se encontra a estátua da Diana. (Essa peça foi colocada pelo, então, prefeito Francisco Scarpa no lugar de uma gruta, que parecia natural. Dizem que o alcaide a retirou, apesar de ser infinitamente simbólica para a cidade e a substituiu por aquela estátua ‘magrela’ e insignificante da caçadora. Coisas que não se entende o motivo por que são feitas.)
[XXII]
Dessa época, eram figuras emblemáticas o Lemão Murbach, irmão da bela Ana, o Carlinhos Fontes, o Célio, o Belinho, o Xó O Lemão era o campeão. Conduzia lambreta, moto, jeep e carro com rara destreza. Não havia ninguém melhor que ele. E era mão aberta. Sempre amigo dos amigos. E foi fascinado pela minha prima Valderez.
Pena não formarem um casal. O Célio era também um cara genial. Lembro-me dele em cima do carro no corso descendo a avenida 1, alegre, distribuindo serpentina e sorriso. Morreu estupidamente em desastre de carro. Imensa perda.
Outra turma era a do Anjo. A estátua do anjo da Concórdia, no Jardim Público, era o ponto de encontro do Luiz Fernando Macha, o Chico Penteado, o Totó, o Ariovaldo Brunelli, os irmãos Fran e Brisa, o Saraiva (cujo pai, o velho Saraiva, era corretor de imóveis e tinha por ‘slogan’ a frase – ‘Saraiva a solução’). Eram os rapazes das leonetes e desfilavam pelas ruas tranquilas de Rio Claro. Eram rapazes felizes. Só podiam ser. Viviam ‘maquinados’ (não com armas, mas com essas motoquinhas).
Os integrantes do Morcego, de que me lembro, eram o Faustinho Brunini, acho que o Pita, o Zé Luís Buschinelli, o Cláudio Brochini, o Tuí (irmão do Osni e primo do Lemão Murbach), o Lauria, o Felício Pavan (grande amigo meu e que namorou a Nádia, prima de minha prima Valderez), o Zé Corvo, pessoa extraordinária, de quem todos gostavam.
Essa turma tinha o conjunto ‘Os Morcegos’, integrados pelo Felício Pavan, o Reynaldo, o Zé Roberto e o Adilson Bird. Foi nessa época em que ocorreu um show do rei Roberto Carlos. O Felício, sabendo da minha falta de dinheiro, me encarregou de levar uma caixa de som e, desses modo, passei pela vigilância da portaria. E pude assistir ao espetáculo do rei sem desembolsar. Uma coisa eu digo – ‘pobre tem que ter imaginação’