Nas últimas semanas, o registro de novos casos de COVID-19 acelerou em Rio Claro. Porém, como foi constatada por pesquisadores da UNESP-Rio Claro, essa tendência vem ocorrendo desde meados de maio, quando o índice de isolamento na cidade diminuiu abruptamente.
O grupo de pesquisadores composto por Eduardo Kokubun, Adilson Roberto Gonçalves, Auro Aparecido Mendes, Milton Cezar Ribeiro, Rodrigo Braga Moruzzi e Maurício Humberto Vancine atualizou o estudo divulgado no dia 21 de maio, que mostrava picos de contágio cerca de 9 dias após as vésperas de feriados, quando mais pessoas foram para as ruas.
O índice de isolamento em Rio Claro teve forte queda desde o final de maio. Esse índice pode ser acessado publicamente no site do Governo do Estado de São Paulo. Ele mostra a porcentagem de isolamento através do monitoramento anônimo dos telefones celulares que não se movimentaram, indicando que quem o possui não saiu de casa, ou seja, ficou isolado.
Para saber a força da epidemia, os pesquisadores estimaram o número de pessoas que um contagiado pode infectar. Esse número indica a taxa de transmissão (o nome técnico é “número de reprodução da epidemia”), ou simplesmente Rt, e é usado por cientistas para avaliar se a transmissão de uma doença contagiosa está ou não sob controle. Por exemplo, se o Rt for igual a 2, um infectado pode contagiar duas pessoas, ou 10 infectados contagiam outros 20, assim por diante.
Nesse caso, a epidemia está em crescimento, porque uma pessoa doente multiplica o número de infectados. Um Rt igual 1 indica que 1 novo caso surge a partir de um infectado. Os epidemiologistas consideram que a transmissão está controlada quando, por medidas preventivas como isolamento, higiene ou vacina, o Rt fica abaixo de 1. Nesse caso, o número de novos casos vai diminuindo, podendo até cessar a epidemia.
Debruçando sobre os dados, os pesquisadores encontraram três fases na evolução da epidemia em Rio Claro. Na primeira fase – que durou até 7 de maio – o isolamento em Rio Claro vinha diminuindo lentamente, mantendo níveis próximos de 54%. Nesse período o Rt estava abaixo de 1, indicando que a transmissão estava diminuindo. Na segunda fase, entre os dias 7 e 23 de maio, o isolamento diminuiu mais rapidamente até cerca de 45%.
A transmissão nesse período cresceu, e ultrapassou o valor 1 rapidamente, atingindo valores próximos a 2, espelhando a rápida diminuição do isolamento. A terceira fase é essa que estamos no momento. Nas últimas semanas, Rio Claro vem batendo recordes de novos casos: o último domingo de maio (31/05) acumulou 37 novos casos em uma semana. Nos dois domingos seguintes (07/06 e 14/06), foram 72 e 168 casos. Em todas essas semanas, cada pessoa infectada pode ter contagiado pelo menos duas outras pessoas. O isolamento estacionou em níveis baixos, ao redor de 43%, e o Rt em valores que oscilaram entre 2 e 3.
Os pesquisadores identificaram duas medidas recentes que marcam as fases da epidemia em Rio Claro: o uso de máscara e flexibilização. A máscara passou a ser obrigatória em Rio Claro a partir de 7 de maio, no final da primeira fase. Porém, ao invés de diminuir a transmissão, essa medida preventiva foi seguida de aumento nos novos casos, enquanto o isolamento começou a diminuir. Ao que parece, com a obrigatoriedade do uso de máscara, as pessoas se sentiram mais seguras para circularem. Os dados mostram que se a máscara diminuiu a transmissão entre as pessoas, o aumento da circulação anulou seu efeito. É o que se observa na segunda fase.
A flexibilização, instituída pelo Plano São Paulo através do Decreto 64.994, de 28 de maio de 2020, que colocou Rio Claro na zona laranja, passou a vigorar a partir do dia 1º de junho. Porém, desde o dia 23 de maio, início da terceira fase, não se observa mudança importante nos índices de isolamento ou na taxa de transmissão em Rio Claro. É como se a cidade tivesse decretado a flexibilização uma semana antes do governo do Estado, porém sem indicadores de controle da epidemia.
O desejável, segundo o estudo, é que o município tivesse conseguido manter, pelo menos, o nível de isolamento do dia 7 de maio, em torno de 52% e o Rt abaixo de 1, mantendo assim a taxa de transmissão sob controle. O cenário ideal para o controle da pandemia é que o comportamento da primeira fase tivesse permanecido, e que a reabertura se desse de forma gradual, à medida que o Rt mantivesse valores consecutivos menores que 1.
O GT da UNESP reitera o apelo para que as pessoas que podem ficar em casa, o façam. Se tiverem que sair, tripliquem as medidas de se manterem distantes uns dos outros e de cuidar da higiene para preservar a saúde e a vida de si e dos demais.
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