O leitor me desculpe, mas encontro-me num momento filosófico, tão profundo e intenso que chego a questionar, quem são, de fato, os melhores nesse mundo? O capitão presidente? Don 9 Dedos? O Youtuber mais famoso da semana? Ou são aqueles que, simplesmente, aceitam as regras do jogo?
Ou, se cabe a extensão da pergunta, são aqueles que satisfazem as expectativas da maioria, por que estão de acordo com os padrões vigentes? São eles? Quais? Ou não?
Pensando bem, qual a importância de estar entre os melhores, nesse mundo, onde nada e ninguém é para sempre? E vou mais além, caro leitor, que eu espero, ainda esteja atento a essas reflexões. O que importa, se a opção de alguns é estar entre os piores?
Alguém disse, não lembro quem, que numa caverna escura é o pior lugar pra se viver, mas lá também se vive. E num mundo como o nosso, eis-me aqui, reles filósofo, o que é viver sob a luz? É preencher o questionário acima, com exatidão, e ser admitido no seleto clube dos bem sucedidos? Ter e não ter, meu caro William, eis a questão fundamental, dos nossos dias.
Quando jovem, eu conheci uma garota, geniosa e genial.
Ela sabia da sua primeira qualidade, mas ignorava a segunda. Embora eu receie que desconfiasse. Era uma garota bonita, mas nem tanto. Sabia fazer coisas incríveis, que a boa educação impede descrever em detalhes. E não sabia fazer outras. E nunca tivera o mínimo interesse de saber. Não lhe era importante estar entre os melhores.
A garota, que pude chamar de minha durante algum tempo, vivia para si. Algo que, em se tratando desse mundo, sugere mais senso de prudência do que egoísmo. A garota era morena. Pele cor de jambo. Tinha uma risada escandalosamente gostosa e chamativa. E um olhar, que ia do meigo ao furioso em questão de segundos. Falava o que viesse à boca, a quem quer que fosse. E com isso, afastou de si os que a amavam. Comprou brigas que não lhe pertenciam, herdou desavenças, arriscou tudo. Em busca do que, não se sabe. E talvez nem mesmo ela soubesse.
Enfim, como todas as aves que ocupam o céu, foi-se um dia a garota que conheci. Sem pedir licença, sem medir consequências. Foi-se decidida e deixando tudo para trás; eu, inclusive. Conheceu o mundo, quase tudo da vida, e muitos homens e, com eles, a bebida e as drogas. Deu-se por inteira, de corpo e alma, sempre, e acabou vencida. Nada recebeu. Nem mesmo gratidão, de quem muito lhe devia. Eu a tive em meus braços por algum tempo. Foi quando dividi minha vida com ela. Mas ela era o dia e eu a noite.
O que ela tinha demais, em mim faltava: o amor desinteressado, a vida em abundância, a vontade de ser feliz, a coragem de encarar o desconhecido. Não podia mesmo dar certo. Minto, pelo menos uma coisa do nosso fugaz relacionamento deu certo, nossa filha, hoje, com 22 anos.
Conheci uma garota faz algum tempo. Mas agora ela se foi, para sempre, e não pude me despedir. Fico a pensar, ao final de cada tarde, enquanto lembro dela, que as aves não se deitam, e talvez por isso estejam por toda parte e são felizes, à sua maneira