Amedeo Modigliani (Livorno/ITA 1884 – Paris/FRA 1920), pintor expoente do movimento expressionista, dizia que “apenas pintaria os olhos de sua musa quando lhe conhecesse a alma”.
Para alguns poetas, os olhos são o espelho da alma. Há controvérsias. Para Modigliani, talvez, mais importante que a forma era o sentimento que poderia expressar através da pintura.
O italiano, radicado na França, era um amante inveterado, viciado em haxixe, alcoólatra, e, finalmente, gênio incompreendido.
Um iluminado depravado pode-se dizer por mais contraditório que seja. Mas, se não amasse como amou, se não vivesse como viveu, Modigliani não teria sido o artista que foi. A vida comum exige esforço, dedicação e disciplina. A genialidade exige sacrifício e renúncia. E justamente essa disposição para o sacrifício é que faz diferença entre uns e outros.
Modigliani, que nunca conheceu a glória enquanto vivo, já nasceu humilhado devido à perseguição sofrida por sua família de origem judia e arruinada em dívidas. E, enquanto criança viveu sérios problemas de saúde, dentre eles, tifo, pleurisia e tuberculose que o acompanharia a vida toda, e essa foi uma das razões para que a família se mudasse para Paris, onde o filho poderia ser melhor tratado. Amedeo já fazia desenhos e pinturas desde muito pequeno, revelando precocemente o seu talento.
Todavia, o menino cresceu, e a necessidade de pintar era maior que a de ganhar dinheiro com a pintura. Uma tela de Modigliani, custava a vender, apesar de todos os esforços de seu marchand, o poeta polonês Leopold Zborowski.
Há alguns anos, “A Bela Romana” óleo sobre tela de 1917, de sua autoria, foi arrematada em Nova York por US$ 68 milhões, superando uma anterior, cujo preço alcançou as cifras de US$43 milhões. Mais uma demonstração de que os artistas de gênio estão sempre à frente do seu tempo.
Oportuno lembrar que por ocasião da 1ª. Guerra mundial (1914-1918), a cidade de Paris, na França reuniu no bairro de Montparnasse, o que havia de melhor e mais interessante na cena cultural e artística do mundo no século XX. Ali estavam Modigliani, Picasso, Utrillo, Kisling, Miró, dentre outros gênios da pintura.
Esperar que pessoas como Modigliani tivessem uma vida normal é perda de tempo. Porque elas amam mais do que podem e vivem para a arte mais do que devem. Modigliani amou Jeanne Hébuterne, sua musa inspiradora que, ao se dar conta de que ele jamais seria como ela sonhava e como exigia a sociedade da época, o aceitou como de fato ele era.
E mais do que ninguém desejou que ele fosse feliz ao seu lado e fosse também reconhecido e exitoso como, por exemplo, Pablo Picasso, o que, entretanto, jamais aconteceu. Picasso não ia além do que seus olhos podiam ver. Modigliani, sim. Por isso, pintava, almas, nuas.