A música sempre fez parte da vida do professor Pedro Conceição. Como ele diz, nasceu na periferia da capital paulista já com o samba no sangue e foi nele que, logo cedo, começou a despontar seu talento. Aos 16 anos, foi estudar música, alçou voos tocando ao lado de nomes renomados como Lecy Brandão, Ivone Lara, Arlindo Cruz, Sombrinha, Jorge Aragão, Neguinho da Beija Flor, Almir Guineto. “Todas as pessoas do samba faziam parte do meu sonho, escutava muito e queria trabalhar com elas. Eu fiz isso até 2005”, disse o músico
Depois, Conceição foi estudar em Málaga, na Espanha, onde ficou por alguns anos, produziu uma banda, montou um quarteto e deu aulas no país, local que ficou até 2010.
Quando retornou ao Brasil, decidiu trocar de palco e foi para a sala de aula. Para isso, resolveu estudar Filosofia. “A gente vive num momento que todo mundo sabe tudo, mas como é que você discerne entre tantas falas o que é verdade? Eu precisei participar de discussões platônicas para entender como nossa cabeça funciona, estudar lógica, metafísica, entre outras coisas que a filosofia proporciona.
Me formei em filosofia para ter o que dizer para as futuras gerações”, observou o professor, que confessa que entrou na Universidade sem entender o que um filósofo fazia. “No meio do caminho descobri que ele dava aulas no ensino médio. Os meus colegas repudiavam, diziam: ‘criança, pelo amor de Deus’, mas aí eu pensei: ‘poxa, ninguém resiste à música, seduz todo mundo, então eu vou utilizar isso’”, relembrou.
E colocou isso como objetivo. Ir para a escola tocar. O que os alunos fazem hoje, ele já realizava nos últimos semestres do curso. Tocava e compunha versos do que aprendia. Os professores incentivavam e é o que ele faz até hoje com os seus alunos. “Essa iniciativa deu super certo. Quando encontrei numa escola uma resposta positiva. Na primeira escola, a diretor autorizou e disse: ‘vamos ver no que vai dar’”, contou.
O resultado não poderia ser outro. “Resultou em alunos com maior disponibilidade para aprender, com maior dedicação, com mais alegria, mais emoção. Se chora muito em sala de aula, se canta muito, se medita, se reflete e se estuda”, observou.
Atualmente, Pedro Conceição ministra seu trabalho na Escola Estadual Raul Fernandes Chanceler, localizada no bairro Vila Operária, em Rio Claro, com 350 alunos de ensino médio, onde as portas também foram abertas para uma metodologia mais atrativa. “O professor veio na escola, apresentou seu projeto, mas na época não pudemos contratá-lo, somente neste ano de 2019 ele conseguiu vir para nossa escola e trazer o seu trabalho para cá e ficamos muito felizes.
A gente sabia do potencial que é trabalhar música com filosofia e com outras disciplinas, desenvolvendo a criatividade dos alunos e propiciando para eles a produção de texto. Produziram diversas músicas e isso acrescentou muito em termos de conhecimento”, destacou o diretor da unidade há dez anos, Marcelo Raimundo Pires.
Se o professor não entendia ao certo qual o papel de um filósofo, hoje, na prática, ele tem ajudado na transformação de muitos jovens. “Nunca tinha tido esta experiência de matéria atrelada com a música. Eu entendo a matéria muito mais fora do papel. Tornou a aula mais atrativa e transformou bastante, este ano passei por alguns problemas pessoais e a aula me ajudou bastante, porque faz refletir, tira dúvidas sobre a vida, traz a música como sentimento de tudo que ele questiona para gente. Ele mostrou que todos somos capazes de fazer música”, destacou o estudante de 18 anos, Eduardo Henrique Duarte.
Ao longo do ano letivo, os alunos estudam o Conteúdo da Base Nacional Comum e transformam em arte. O professor observa que, neste caso, transformam o que aprenderam em uma manifestação musical. Ao final de cada aula, o momento que parecia apenas de descontração com todos cantado e tocando, era, na verdade, uma extensão de todo aprendizado.
“Quando o aluno entendeu o assunto, é convidado a ler na forma pedagógica. Vai ler o autor, utilizar dicionários, fazer pesquisa. Pós pesquisa, ele traz o que entendeu, aí é convidado a fazer uma produção, a gente vê filmes, a internet ajuda muito e depois é sugerido fazer uma poema sobre o que entendeu, aí aprende a rimar e exercita. Eles são artistas. Depois disso, nos unimos e cantamos. É onde surge o que a gente concorda que é uma música”, explicou Conceição.
A proposta, de início, assustou e foi um processo para entender como era possível transformar o conteúdo em poesia. “No começo foi muito difícil, porque ele começou a colocar a gente para pensar e musicalizar o nosso conteúdo, era uma coisa que nunca tínhamos feito antes. Depois, fomos entendendo e sempre na expectativa da próxima aula para poder cantar, fazer a música de novo, criar novos ritmos. Foi muito avassalador para mim, eu comecei a ver a filosofia de outra forma e no dia a dia”, destacou a estudante de 18 anos Bianca Arcare Fernandes, que emocionou o docente com as palavras.
O método é repassado a todos os alunos do ensino médio da unidade. Ao final do ciclo de 2019, os que participaram da matéria eletiva concluíram todo aprendizado com a gravação de um clipe com a música “Frases de amor, Corpos Sonoros”, idealizado e pensado desde a composição, produção, gravação e edição pelos jovens, sob a supervisão do professor.
“Foi um conteúdo que pode ser trabalhado na escola como forma de aprendizado. E todo conceito do vídeo foi baseado na questão da filosofia da música e tudo que envolve”, destacou a aluna Bianca.
“ARTE TRANSFORMADORA”: O aluno nunca mais vai esquecer isso na vida dele”, ressaltou o professor.
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