Já estive várias vezes em estádios de futebol e ainda não cheguei à conclusão se sou pé frio. Não importa, pois é a festa que conta de verdade.
Assuntos diversos estão envolvidos na decisão de ir. Em qual jogo vamos, como chegar à Arena (meu time é outra categoria), jantar antes ou depois etc. É um misto de emoções e racionalidade.
Talvez por estilo, por interesse profissional ou por chatice mesmo, gosto de reparar nos detalhes extracampo. Da tecnologia adotada na venda dos ingressos ao esquema organizado pela Polícia Militar para a evacuação, passando pelos preços e qualidade dos alimentos e bebidas vendidos. Mas é durante a partida que a diversão é mais intensa. Estamos ali, milhares de técnicos, torcendo e dando palpites com enorme sabedoria.
Do meu lado esquerdo, um torcedor fanático reclama que o jogador preferido dele não fora escalado, mesmo sabendo do veto do departamento médico. Ou seja, o atleta está preso num compromisso com a fisioterapia. E o tratamento será longo. Mas este torcedor, aos berros, afirma que houve injustiça, que o tratamento não está correto, que algo precisa ser feito para que ele volte a campo.
Pelas redes sociais, o torcedor devoto da minha direita fica sabendo que o jogador preferido dele está sendo acusado de uso de substância proibida. Ele está inconsolável, esbravejando que só pode ser coisa de algum agente inimigo, vazando supostas informações, para prejudicar o nosso time. Justamente o atleta que tantas alegrias trouxe nos últimos jogos para a torcida que estava cansada e sem esperança.
Perto dali, uma torcida organizada bastante barulhenta, mostra-se saudosa de um estilo de jogo que não se encaixa mais dentro das quatro linhas. Vejo nas faixas e camisetas o rosto estampado de um jogador que eles têm como ídolo. Sei quem é. Participa de forma secundário do esporte faz muito tempo. Teve passagens polêmicas por vários times e nunca era escalado como titular. Hoje está em campo pela primeira divisão, mas não percebeu ainda que precisa parar de dar caneladas.
Sentindo as emoções de parte a parte, percebo que estão com uniformes de patrocinadores diferentes, pois de épocas distintas. Mas todos, assim como eu, querem o melhor para o nosso time. Desejam a alegria da vitória, a emoção da bola balançando a rede, momento em que pulamos, gritamos e nos abraçamos, sem nos importar se nos conhecemos ou não. Ali, somos todos irmãos na mesma fé.
Todo aquele barulho não me impede, no entanto, de mergulhar no silêncio dos meus pensamentos. Reflito sobre a infinidade de regras que devem ser respeitadas para a realização de um torneio tão longo e que um bom ordenamento legal, tende a conservar campeonatos com credibilidade, potencializando o interesse de patrocinadores, jogadores e principalmente torcedores, independente do uniforme.
O time é muito mais importante do que o seu mais valioso destaque, que não pode jogar sozinho. E parte da torcida parece não entender este princípio.