Há alguns meses, seis jovens brasileiros foram selecionados com o desígnio de participar do Musicians and Organizers Volunteer Exchange (MOVE), um programa de intercâmbio voltado para músicos, idealizado pela organização parceira JM Norway e, no Brasil, promovido pela Amigos do Guri, que é uma das gestoras do Projeto Guri.
A jovem Miriam Momesso, 19 anos, de Rio Claro, esteve dentre os escolhidos. Já muito cedo, aos 11 anos, passou a interessar-se de modo mais intenso pela música, oportunidade em que seu pai a ensinou os primeiros acordes ao violão. Seguidamente, passou a integrar o Projeto Guri.
Miriam, desde sempre, teve o permanente incentivo de sua família para que trilhasse o caminho musical. Mais tarde, aos 16 anos, no Conservatório de Tatuí, deu início ao curso de guitarra com ênfase em MPB/Jazz.
A jovem, que também ganhou notoriedade na Cidade Azul devido ao fato de ter integrado inúmeras bandas de rock, foi bolsista do Projeto Guri, em que integrou uma big band quando do ano de 2017, ensejo em que pode expor seu talento em diversos projetos. Surgira, então, o processo seletivo do programa MOVE de intercâmbio, financiado pelo governo norueguês, oportunidade para desenvolver, durante dez meses, trabalho voluntário em Moçambique.
Documentário
Durante essa experiência singular, Miriam gravou um documentário embasado na cena musical feminina em Maputo, Moçambique, que será exibido no Brasil, na Noruega, além do país de origem.
De volta a Rio Claro – Miriam regressou há poucos dias –, ao Centenário, a artista conta como desenvolveu a ideia do documentário. “A princípio, estava pensando em fazer algo só do Loud com algumas entrevistas das meninas e as composições por elas desenvolvidas ao longo das aulas.
Depois, amadureci a ideia e resolvi incluir outras mulheres e tentar entender, fazer um resumo de como a indústria musical em Maputo trata as mulheres”, explana. Miriam explica que o Loud é um projeto de empoderamento feminino em que ela ministrava aulas de música com outras voluntárias duas vezes por semana em escolas primárias. “Esse ano, infelizmente, só trabalhamos com uma escola porque eu estava atuando praticamente sozinha com a outra intercambista que residia comigo, a Maggie.
Tínhamos que carregar os instrumentos para a escola, então ficava difícil por não ser o único projeto que eu desenvolvia lá. Enfim, esse projeto não era somente mostrar para as meninas que elas podiam cantar e tocar. Esse era um dos objetivos, mas o maior deles foi mostrar que elas não nasceram para lavar pratos e cozinhar, se elas não quiserem.
O projeto dava uma alternativa e servia de apoio, oferecendo um espaço seguro em que elas podiam falar sobre as próprias experiências e transmitirem isso com a música”, elucida. O propósito do projeto, além de fazer evidenciar o poder contido na música, foi trazer à tona o trabalho feminino e o modo como o machismo é por elas enfrentado tendo em vista o cenário musical moçambicano.
Demais projetos
A rio-clarense diz que integrou outros projetos também, como o Massana, voltado para meninos de rua, em que também ministrava aluas de música. De acordo com Miriam, os outros intercambistas que com ela residiam também davam aulas de música e dança numa aldeia chamada S.O.S.
“Trabalhei na produção do festival Azgo, que é o maior festival de música de Moçambique, entre outros”, expõe. A artista conta que eram seis intercambistas morando juntos: dois brasileiros, dois malawianos e dois noruegueses. “E tínhamos a liberdade de desenvolver nossos projetos envolvidos na cultura”, garante.
Experiências
Quanto à experiência de ter vivido em Moçambique, país localizado no sudeste do Continente Africano, cujo idioma também é o português, Miriam confidencia que muita coisa por ela vivenciada fez com que mudasse muito, amadurecesse, criando outros pontos de vista. “Você se acostuma com a rotina, língua, pessoas, comida, cria uma família, é indescritível”, admite.
Quando atendeu à reportagem, Miriam estava à iminência de retornar para o Brasil. Ao Diário, à época, confessou: “infelizmente, estou indo embora semana que vem, eu não estou me sentindo bem e fico muito emocionada em falar sobre isso. É uma experiência meio que surreal, para mim vai ser bem difícil voltar para o Brasil.”