O Diário do Rio Claro completa HOJE mais um ano de vida e, para comemorar, nada melhor que revisitar a História deste que acabou sendo transformado no Arquivo Histórico da Família Rio-Clarense. A trajetória do periódico, que há mais de um século Melhor Informa a Querida Rio Claro, não teria como ser contada sem que, um quarto de século antes de ser fundado, em 1º de setembro de 1886, tivesse nascido o seu idealizador.
O ano era 1861 e, enquanto o Presidencialismo Americano elegia Abraham Lincoln como 16º Presidente dos Estados Unidos da América, o Monarquismo Brasileiro entrava na terceira década sob a égide do Imperador D. Pedro II. Em Campinas, acolhedor município do Estado de São Paulo, naquele já distante dia 3 de maio de 1861, nascia o Major José David Teixeira.
Ainda que tenha visto a luz pela primeira vez na Princesa d’Oeste, foi AQUI, na Cidade Azul, que Zé David – forma como ficou amplamente conhecido – ganhou o epíteto de Pioneiro da Imprensa Local, inscrevendo, assim, o seu nome no Panteão da Imprensa Nacional. Segundo consta de sua biografia organizada por cronistas locais, antes de empreender no ramo de Johannes Gutenberg, prestou serviços em uma Tipografia pertencente ao Dr. Eduardo de Camargo Neves de quem, aliás, pouco tempo depois, adquiriu o hebdomadário produzido à época chamado O Tempo. Não demorou e, zás-trás, a publicação deixou de ser semanal e passou a ser diária, estampando em sua parte superior um novo e significativo nome que entraria, definitivamente, no cotidiano dos munícipes, Diário do Rio Claro.
Destacado por sua cultura, inteligência e vivência política, bem como pela árdua e permanente luta para manter o jornal circulando diariamente, José David Teixeira venceu os desafios com o apaixonado compromisso com o leitor – característica que, vale a pena destacar, vem sendo levada adiante por todos os seus sucessores que, juntos, independente dos cargos e ou funções, constituíram, constituem e sempre constituirão o corpo vivo e dedicado que mantém a Tradição. Importante salientar que, em 1980, o empresário Geraldo Leonardo Zanello e sua esposa, a senhora Jacira Russo Zanello, adquiriram o DRC e, para além de seguir o exitoso caminho de seu criador, fizeram mais: modernizaram o noticiário, o tornando apolítico e, sobretudo, independente.
Ainda que, atualmente, os neófitos da comunicação e demais vislumbrados com a profundidade de um pires proporcionada pela Internet, desprezem e ou façam pouco dos 94 anos em que o Diário esteve sob os cuidados da Família Jodate e dos outros 39 em que segue sob o comando da Família Zanello e, creiam, impolutos na balela apocalíptica espalhada aos quatro ventos de que a pós-verdade sobrevirá em detrimento ao Jornal Impresso, o DRC celebra mais um aniversário junto aos seus assíduos leitores, de olho no presente e, insistente, no futuro de papel. Entre outras coisas expostas nesta Edição Especial, a reportagem conversou com o Jornalista José Roberto Santana acerca do porvir da Mídia Impressa que, a exemplo do Centenário, continua firme com sua Profissão de Fé! Confira:
ODAIR FAVARI – Como você, sendo um experiente jornalista, sobretudo do Jornal Impresso, avalia a recente retomada do Diário do Rio Claro?
JOSE ROBERTO SANTANA – A atual fase de investimento do Diário do Rio Claro retoma o espírito de vencer desafios vividos em fases anteriores, como em sua fundação, períodos de censura, crises econômicas do País e oscilações de mercado pela Revolução Tecnológica. É a disposição de quem tem autonomia para pautar seu próprio futuro. É a autoestima de não se deixar render às incertezas de um mundo cada vez mais complexo. É um exemplo de Rio Claro para toda a Imprensa do Interior Paulista e do País. É um novo pioneirismo!
ODAIR FAVARI – Em sua opinião, o que fundamenta a força do Jornal Impresso, principalmente nas cidades do Interior?
JOSE ROBERTO SANTANA – No Interior, os jornais exercem a função social de ser uma espécie de umbigo da comunidade. As relações sociais se difundem pela Imprensa Tradicional e têm nela sua identidade. A Comunicação Digital não tem o calor humano que tem a Comunicação Impressa e não traduz a sensação de algo feito por gente para gente. As Redes Sociais sugerem a impessoalidade dos robôs e há quem diga que é essa impessoalidade que está aumentando a violência no Mundo.
ODAIR FAVARI – E como enxerga o futuro do Jornal Impresso?
JOSE ROBERTO SANTANA – O Impresso não vai acabar! Como o Cinema não acabou com o Teatro, tampouco a Televisão acabou com o Cinema! A Internet não vai acabar com as mídias anteriores, pois creio que as coisas serão somadas e vão interagir preservando as suas próprias linguagens. Uma melhorando a outra! Os jornais têm a característica única de gerar arquivo impresso, físico e permanente, coisas que são o suporte da História e a História não pode abrir mão disso, até porque ninguém sabe quanto tempo irá durar os arquivos digitais.
ODAIR FAVARI – Gostaria que você contasse alguma curiosidade que viveu AQUI, no DRC, e que acredite ser interessante relembrar neste aniversário de 133 primaveras.
JOSE ROBERTO SANTANA – São muitas as curiosidades dos tempos de labuta na Redação. Amizades, dissabores políticos, aprendizados, trabalhos comunitários, realizações. Emocionante é lembrar, por exemplo, de uma sessão reservada de cinema que, pelo Diário, fizemos para a Rita Lee no Cine Excelsior, com apoio da Família Padula. Exibimos o filme do Centenário da Cidade. Rita lembrou momentos de infância que viveu ainda na Rio Claro de seus pais. Chorou. Contou que fez aquela música do “Escurinho do Cinema” [a canção ‘Flagra’ está no álbum de 1982, de Rita Lee e Roberto de Carvalho] em homenagem ao Cine Tabajara. Foi emocionante!
ODAIR FAVARI – O que representa o DRC na vida cotidiana dos rio-clarenses?
JOSE ROBERTO SANTANA – Desde a sua origem, o Diário do Rio Claro traduz a Cultura e a Política de Rio Claro. O jornal foi tão pioneiro quanto o Trem, quanto a Luz Elétrica, quanto a Campanha Republicana, entre outros feitos. O Diário é um dos quinze jornais mais antigos em circulação no País. Para Rio Claro, é um ORGULHO. A Central Elétrica e o Trem não existem mais e o Diário segue totalmente vivo! Não há como desvincular a História de Rio Claro da existência do Diário e o significado disso é muito grandioso!
ODAIR FAVARI – Gostaria de saber como foi a sua chegada no DRC, os cargos que ocupou e como vê, com certo distanciamento de tempo, a transição do comando do Centenário da Família Jodate para a Família Zanello.
JOSE ROBERTO SANTANA – A trajetória na Imprensa é como em corrida de bastão, em que um vai passando para o outro e cada um cumpre sua parte, um processo que depende de gerações. Tradição é o que nos liga ao futuro e não ao passado, portanto, o pioneirismo de Geraldo Zanello foi o de dar uma característica industrial ao Diário, garantindo seu futuro à modernidade. Conseguiu isso com a equipe formada por Luiz Wehmuth, na parte Editorial; Marcus Vinicius, no Colunismo Social e Relações Públicas; José Afonso Baldissera, na Tecnologia; Luiz Carlos Martins, na Produção; e Armando Baldissera, na Publicidade. Tive a oportunidade de integrar a Redação como repórter e depois editorialista pelas mãos de Luiz Wehmuth e de Silvia Venturolli. Foi um momento extremamente feliz!
ODAIR FAVARI – Para terminar, o que você diria aos leitores do presente imaginando, hipoteticamente, que o que disser possa servir como dado histórico para o pesquisador do futuro? Ou melhor, do presente para o futuro, o que pode ser?
JOSE ROBERTO SANTANA – Já está sendo. O ponto central que o Impresso precisa deglutir e incorporar é o fato de que o leitor não é mais um personagem passivo. Se papel aceita tudo, a Rede Social, não! As pessoas reagem, são ativas e têm poder de influência sobre a informação. Houve uma libertação do funil editorial. Resta ao Impresso investir em crítica e autocrítica permanentes para exercer com transparência a função que só a ele cabe, ou seja, propagar a ética, o equilíbrio e o juízo da Opinião Pública. O desafio é radical, “decifra-me ou te devoro”!
Pioneirismo
“Desde a sua origem, o Diário do Rio Claro traduz a Cultura e a Política de Rio Claro. O jornal foi tão pioneiro quanto o Trem, quanto a Luz Elétrica, quanto a Campanha Republicana, entre outros feitos. A Central Elétrica e o Trem não existem mais e o Diário segue totalmente vivo!”
Major José David Teixeira, o Pioneiro da Imprensa Rio-Clarense (1861-1934)
Jornalista Símbolo da Imprensa de Rio Claro, fundador do Diário do Rio Claro – um dos quinze jornais mais antigos em circulação no País –, Major José David Teixeira teve o seu perfil traçado pelo articulista Aloysio Pereira:
“Invariavelmente trajando terno cinza, chapéu da mesma cor, relógio com corrente sobre o colete, o indefectível guarda-chuva pendente do braço, o andar pesado e lento, as costas arqueadas pelos anos, assim eu o via diariamente subindo a Avenida Um seguindo para a Estação da Paulista, para esperar a chegada do Trem das 11 que vinha da Capital.
A estação se enchia de gente curiosa que ia ver quem chegava e quem partia. Lá estava no meio do povo o Major David, com olhos de lince, vasculhando a vasta plataforma e anotando em pequeno caderno o nome de pessoas que iriam, no dia seguinte, figurar nas suas Sociais.”
Figura legendária na Imprensa Local, sobretudo por seus artigos e pelas colunas Troco Miúdo e Cabriolas, em que eram comuns a sua fina ironia e latente veia poética, o Major registrou os principais fatos da época, como a alforria dos negros da Fazenda do Senador Alfredo Ellis, antecipando o Abolicionismo ocasionado pela Lei Áurea. Chegou a ser eleito vereador, entretanto, deixou a vaga para Joaquim Salles, irmão do Presidente da República, Campos Salles.
Zé David teve sete filhos: Atos, Zoraide, José, Jodate, Cecy, Davina e Maria Antonieta e, conforme enfatizou Pereira, “além de jornalista, manteve veleidades de romancista que podem ser comprovadas com o romance de costumes denominado Xintan, publicado sob a forma de folhetim. Depois de sua passagem, a Câmara Municipal o homenageou com uma estátua de seu busto na Praça Pública do Bairro Consolação e com um belíssimo quadro da pintora Ilara Machado.
Geraldo Zanello: olho no Futuro e na Modernidade!
Há quase quatro décadas, o Diário do Rio Claro foi adquirido pelo empresário Geraldo Leonardo Zanello que, importante salientar, foi o responsável por dar ao jornal uma característica industrial, garantindo, assim, o seu Futuro e sua Modernidade. Apaixonado pela publicação, cumpriu expediente até o dia de sua passagem.
Uma das suas últimas vontades foi a de que o DRC permaneça na Família Zanello e jamais seja vendido! Como resposta, ouviu de seus sucessores o compromisso de que, em sua memória, o matutino não apenas seria preservado, mas que também passaria por um grande processo de transformação.