Andando sobre pinturas
Em um domingo à tarde, caminhando pelas ruas do centro sem nossas ansiedades, é possível apreciar a arquitetura das vias. É como se estivéssemos passeando por uma obra de arte, onde cada rua, com suas pinceladas de tinta a óleo, cria uma cena digna de um filme.
Ainda podemos ouvir trilhas sonoras ao passar por igrejas e casas rústicas, testemunhas do passado, entoando suas melodias para as ruas dominicais.
Este momento merece ser eternizado. Se eu possuísse o talento artístico, pintaria sobre a tela todas as emoções que sinto, mas é por meio das palavras que compartilho essas sensações.
A experiência é única. Caminhar pelo mesmo trajeto, com os mesmos detalhes, jamais evocará a mesma emoção. É como se esculturas antigas falassem diretamente comigo, contando histórias de idosos que, em sua juventude, construíram esta cidade com base na arquitetura de sua época. Hoje, destacam-se entre tantas clínicas médicas.
Sinto um desejo de consumir. Não sou adepto do minimalismo. Onde estão os detalhes? As histórias, a arte, a vida pulsante, a vegetação? Onde estão as esculturas que parecem conversar comigo?
Olhe só para este portão. Apesar de sua história sombria, como um portal de segregação do passado, agora se encontra na Santa Casa, um local sagrado para muitos.
Eu nasci aqui, na Santa Casa, embora não saiba em qual quarto. Sou verdadeiramente de Rio Claro. Também tenho minha própria história. Qual será?
Imagino que a Santa Casa não fosse tão moderna como é hoje. Como seria naquela época? Ao caminhar por essa arquitetura, sinto-me parte de um filme, ou melhor, de um documentário. Um filme seria apenas se estivesse abandonado à noite, com doentes inconscientes, como em um filme de terror. Mas isso é pura ficção.
Aqui estão os doentes, incluindo meu irmão mais novo. Se não me engano, ele está no quarto 102. E se fosse o mesmo quarto onde nasci?
Cada quarto tem sua própria história. Este hospital deve ter presenciado tantas histórias. Tantos funcionários e pacientes. Qual seria a história mais incrível que já ocorreu aqui? Talvez tenha sido o meu próprio nascimento.
É reconfortante pensar que estou no mesmo lugar onde nasci.
Meu irmão nasceu no prédio ao lado, o prédio azul. Será que sempre foi azul? Não me lembro. Mas onde ele está agora, pois ele não consegue andar. O que aconteceu com ele? Pensar nessas coisas me faz temer o pior. Se o pior acontecer e ele não puder mais andar (o que seria terrível), apenas o arrependimento me atingirá. Sinto muito amor, mas nem sempre demonstro da maneira que gostaria.
Mas isso é uma questão para outro momento.
Acho que o momento agora é onde estou. Aqui há um quadro de uma mulher segurando crianças em seu colo. Será uma ou duas crianças? Não me lembro. Mas quem é essa mulher? A data no quadro é de 1957? Isso é bem antigo.
Quantas vidas começaram e terminaram neste hospital? É como se a Santa Casa iniciasse e concluísse histórias. Serei apenas mais uma dessas histórias?
São muitas perguntas, não é? Talvez eu questione demais. Sou ansioso. Quero respostas para tudo. Para tudo.
Uma sensação de frio percorre minhas veias. E se todos esses andares desabassem sobre mim? É uma loucura.
Chega de escrever. É hora de visitar meu irmão.
Texto escrito pelo aluno Bryan de Souza Brasil estudante da Escola Estadual Marciano de Toledo Piza, sob curadoria de Rafael Cristofoletti Girroe Bryan de Souza Brasil, alunos da Escola Estadual Marciano de Toledo Piza; de Isabelle Gouveia de Almeida, Maria Clara França Machado e Henrique Martins Fernandes, alunos do Colégio Eduq; de Giovanna Silva Ribeiro e Gabriela Dotta Misson, alunas da Escola Estadual Chanceler Raul Fernandes; todos pertencente à Rede Camões de jornais escolares. O texto tem caráter pedagógico.
Foto: Divulgação