Não tem como fugir, é o assunto do momento. As queimadas na Amazônia e suas consequências.njhh
O que me espanta, de verdade, não é nem a questão de pessoas estarem se posicionando e gerando um monte de desinformação: isso é o normal da coisa. A polêmica vem antes de tudo, o ataque à honra de quem seja – o Presidente do Brasil, da França, a primeira-dama de lá ou a de cá, o jornalista X, o artista Y, os eleitores de A, B ou C. Tudo isso “faz parte do jogo”. Um jogo triste e ofensivo. Mas, ainda assim, é o jogo jogado. As regras já existiam, etc.
O que me espanta – mesmo que eu saiba, também, que o brasileiro “não tem memória” – é ver alguns posicionamentos sendo tomados como algo inédito e, mais que isso, como revolucionários. Vou me explicar em três tópicos.
1) Anitta faz um post em seu Instagram, falando como se “Não se importasse com o que iriam pensar”, dizendo “não ser de esquerda nem de direita” ou “eleitora de ninguém”.
Além das incríveis bolas fora – como a dizer que “sem oxigênio o dólar iria ficar voando sozinho” –, típicas de alguém que não se importa com o conteúdo, apenas com a forma, o espanto se dá por ver o impressionante número de visualizações e as incríveis defesas da postura da artista. “Vai contra a corrente”, “não se importa em perder fãs, defende o que é certo”. Custo a crer que alguém de fato pense assim.
2) Uma série de outros artistas, de fama menor que a de Anitta, na maioria dos casos, de importância mais ou menos semelhante (quanta?) e com pretensões ainda mais dúbias que as da funkeira (?) usando as famosas hashtags, chorando pela Floresta, pintando o corpo, fazendo yoga (creiam!) em protesto pelas queimadas.
Esses, não obstante a inoperância do ato, são os que levantam a voz e as críticas contra aqueles que “nada fazem”, “nada tentam”, supostamente. E que cobram de “artistas mais populares e influentes um posicionamento” contra “esse governo”.
3) Jean Willys, que está no outro ponto do espectro político no comparativo com o Presidente, notou essa incoerência e essa demagogia acima posta, e fez texto bastante relevante para refletirmos a respeito. Jean falou sobre Roberto Carlos, o artista de maior sucesso na história do Brasil – equivalente a cinco carreiras completas da Anitta. Grifo as palavras do texto do ex-deputado: “Ainda há muitos artistas populares calados em relação ao destino da Amazônia no governo Bolsonaro. No caso de um deles, porém, o silêncio diz muito: Roberto Carlos”
Houve apressadinhos – como o site “Saiba Mais” (que não usa “.com”, mas sim “.jor”, ou seja espera-se que tenha tudo de Jornalismo dentro de si) – que afirmaram: “Jean critica Roberto Calros e cobra posicionamento sobre a Amazônia”.
Porém, o texto de Jean responde à questão de modo ímpar, lúcido e eloquente: “de todos os artistas populares que continuam covardemente calados em relação à sorte da Amazônia no governo Bolsonaro, Roberto Carlos é o que menos merece ser cobrado. Ele já disse muito e antes!”
Realmente, Jean está certo: enquanto ainda há gente querendo embarcar na onda e muitos compartilhando a maior fake news de todos os tempos, a de que a Amazônia é “o pulmão do mundo”, Roberto dizia, TRINTA ANOS ATRÁS: “Avalanches de desatinos, numa ambição desmedida. Absurdos contra os destinos de tantas fontes de vida. Amazônia, insônia do mundo”
Quando perguntarem “por que Roberto Carlos é o rei?”, a resposta já foi dada por Tom Jobim: “Vox populi, Vox Dei!”