Na próxima segunda-feira (24), o Tribunal de Justiça de São Paulo inaugura o primeiro busto feminino de sua história, o de Maria Augusta Saraiva.
Atualmente, existem 16 bustos, todos homens, em homenagem a magistrados e membros do Ministério Público. O pedido para que Maria Augusta fosse homenageada partiu da seccional de São Paulo da OAB, que propôs a “entronização de um busto feminino no ambiente da Corte, que é tomado pela presença masculina entre os homenageados”.
Na virada do século XX, Maria Augusta Saraiba rompeu barreiras impostas ao sexo feminino ao ser a primeira mulher a ingressar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, formando-se em 1902.
A advogada nasceu em 31 de janeiro de 1879, em São José do Barreiro, interior de São Paulo, filha do Major José Joaquim Saraiva e de Leopoldina Saraiva. Residiu por oito anos em Araraquara por ocasião da transferência de seu pai, que foi para o cargo de coletor Estadual daquele município.
Posteriormente, veio a Rio Claro, onde fixou residência. Na Cidade Azul, Maria Augusta foi matriculada no renomado Colégio Inglês. Quando da transferência desse Colégio para a capital, muitos de seus alunos se mudaram junto. Foi o caso de Maria Augusta.
Em São Paulo, após ingressar na universidade, destacou-se pelo desempenho, sendo contemplada com uma viagem à Europa. Logo depois de diplomada, trabalhou no escritório dos advogados José Joaquim Saraiva Júnior, seu irmão, e Francisco de Castro Júnior. Estreou no Tribunal do Júri em 11 de julho de 1902, com vitória na causa que defendia.
Por seu desempenho no correr da carreira, não só na advocacia como no magistério, ao qual veio se dedicar intensamente, ela foi nomeada Consultora Jurídica do Estado, uma espécie de cargo de honra por sua ousadia para a época. Morreu em 28 de setembro de 1961.
Para Juliana Amaral Gobbo, advogada, presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-Rio Claro e membro do Conselho de Direitos da Mulher de Rio Claro, Dra. Maria Augusta Saraiva abriu caminhos e deu esperança para as mulheres de sua época, ecoando sua brilhante trajetória até agora. “É com imensa satisfação que recebo esta notícia, pois devemos render homenagens à grande precursora das mulheres na advocacia.
Foi a primeira mulher a ingressar na Faculdade do Largo São Francisco, primeira mulher a atuar no Tribunal do Júri, primeira mulher a ser nomeada Consultora Jurídica do Estado (cargo de honra) e, agora, a primeira mulher a receber um busto no Tribunal de Justiça de São Paulo. Definitivamente, trouxe o concurso da mulher para esta missão de Justiça.
As transformações sociais que passamos, devemos às mulheres como a Dra. Maria Augusta que, com coragem, ousadia, destemor e bravura, mostraram ao mundo que diferenças de gêneros podem ser qualidades que se completam para o crescimento, e não fator que delimita a capacidade. Que seu exemplo dignificante seja lembrado e preservado pelo seu novo busto”, disse em entrevista ao Diário do Rio Claro.
Por Vivian Guilherme