Os policiais da Patrulha Rural Soldado Tiago e Cabo Vergel se depararam com uma ocorrência inusitada na manhã dessa sexta-feira (20). Eles foram acionados via Copom e compareceram a um sítio localizado às margens da Rodovia Wilson Finardi (SP-191), onde constataram uma idosa não identificada, pois não portava documentos, que chegou na propriedade sozinha e foi acolhida pelas moradoras, que comunicaram a PM. “Eu estava molhando as plantas e, quando vi, ela já estava parada na porteira, olhando para mim e sozinha.
Fiquei sem reação, pois não dava para saber como ela chegou no sítio, não sabíamos se podia estar perdida, com medo. Me aproximei e ela me abraçou, ficamos com dó, achei até que a mesma estivesse passando mal. Aí a acolhemos até a chegada dos policiais, que fizeram toda mobilização para ajudá-la”, disse a moradora.
A proprietária do sítio conta que, realmente, foi uma grande mobilização. Segundo ela, a situação já era preocupante por se tratar de uma pessoa de idade, porém, se agravou porque a idosa não fala português, o que dificultou a comunicação para entender de onde a mulher era. “Foi aí que começou uma grande rede, uma verdadeira integração de pessoas e de órgãos para buscar um final feliz”, relatou o Soldado Tiago.
A suspeita, a princípio, é de que a idosa poderia ter sido abandonada, estava bem vestida e sem ferimentos. Carregava também uma bolsa.
Informada da ocorrência, a reportagem do Diário do Rio Claro entrou em contato com o Núcleo do Idoso e contribuiu de perto e com exclusividade para identificar e devolver a idosa ao lar. “Primeira coisa foi tentar alguém que falasse a língua da mulher, só assim seria possível a interação. Buscamos profissionais de uma escola de Rio Claro, acionamos a Patrulha do Idoso e fomos para o local”, contou a Assessora Especial de Políticas Públicas para a Pessoa Idosa e Coordenadora do Núcleo do Idoso Néia Magalhães.
Na casa, um professor de japonês tentou a conversa, mas descobriu que, na verdade, a idosa é de Taiwan e a língua oficial é o Mandarim. “Como temos muitos contatos e pessoas que falam várias línguas, conseguimos outra representante para a comunicação e a Polícia Militar foi buscá-la. Quando chegou, ninguém esperava o que aconteceu. Foi emocionante. “Nós buscamos ter um trabalho diferenciado e social. Graças a Deus, conseguimos, com todos os professores envolvidos, que se dispuseram a ajudar”, comentou a proprietária da escola, Bárbara Carminatti.
Quando a intérprete entrou na casa, a emoção tomou conta de todos. Ela, que foi apenas para tentar uma comunicação, constatou que a idosa perdida era de sua família. “Meu Deus, é minha sogra”, disse chorando. Em seguida identificou a idosa como sendo Tsai shiu lam.
Todos se surpreenderam com o final da ocorrência, que levou uma média de sete horas. Os familiares ainda não sabiam do desaparecimento de Tsai Shiu Lam, uma vez que estavam todos trabalhando e ela mora com uma cuidadora. “Me chamaram para ajudar uma senhora que estava perdida. Eu disse: vou, mas jamais imaginava que era minha sogra”, relatou emocionada a nora Yang Chin Chung.
No local, compareceram ainda equipe da Patrulha do Idoso da Guarda Municipal e a gerente municipal de Proteção Social Especial, Ione Helena Bernardo.
Atuação PM
O comandante do 37° Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I) de Rio Claro, tenente-coronel Luís Roberto Moreira Filho, acompanhou todo o atendimento prestado e destacou que a atuação da PM que vai além de ocorrências relacionadas à violência. “Nosso trabalho é a preservação da vida, acolher o cidadão. Logo pela manhã, quando foi falado da idosa, buscamos encontrar uma forma de comunicação. Graças a Deus, terminou bem e emocionante, porque foge do normal, porque foi coincidência chegar a pessoa da família”, declarou.
Para os policiais que atenderam a ocorrência, foi mais uma sensação de dever cumprido e felicidade. “Foi uma emoção muito grande, sensibilizou. Claro que no decorrer da carreira temos muitas ocorrências que marcam, mas essa foi especial, principalmente por se tratar de uma pessoa idosa. A gente pensa até em nossos familiares”, declarou o soldado Tiago.
Ao final e depois das comemorações, a idosa e a nora foram levadas para casa pelos PMs. “Nossas ocorrências no dia a dia são mais da área criminal e, quando pegamos uma situação dessa, que até então era um abandono, mas que teve final feliz. A dona da propriedade acolheu bem a idosa e deu tudo certo. Para gente, fica inesquecível, todos ficaram surpresos”, ressaltou o Cabo Vergel.