Dores mal vividas no passado, podem cobrar a fatura em angústias no presente. O mundo tenta vender a ideia de que permitir-se sentir e processar a dor é ruim. “É proibido ficar triste”, seria a propaganda do espírito da nossa época. Mal o adolescente resmunga e logo está lá o pai, a mãe para lhe dar o colo. E nos acostumamos fácil demais em abandonar os sonhos, por serem difíceis demais. Será?
Pais preservam os filhos e criam segredos de família que se revelam mais tarde. Brigas, desavenças, um gesto, uma palavra dita numa hora errada podem mudar toda uma vida, uma trajetória. Sim, por mais que tentam te dizer o contrário, nós somos seres muito frágeis psicologicamente.
Não sou o mesmo de 30 anos atrás, mas daquele que vejo em flashback há muito em mim hoje. No modo como absorvo os impactos da vida, como busco o que me faz feliz, ou mesmo no modo como evito a felicidade. É sim, temos medo de não saber o quê fazer com tanta felicidade, um com uma sucessão grande de momentos felizes. Buscamos um pouco aquilo que nos oprime.
Conforme ficamos mais velhos, cheios de agendas e boletos, vamos achando que o tempo passa cada vez mais rápido. E quando se vê, nos vemos passados diante de um futuro que ficou só no mundo das ideias.
E o esporte favorito parece ser a prática da queixa. Nos queixamos de tudo. Do frio, do calor, da chuva, da falta dela. Nos queixamos do nosso corpo, do trabalho, da falta ou do excesso dele. E a causa primordial das queixas pode ser a preguiça, ou a covardia perante os encontros inéditos da vida. “Viver é perigoso”, dizia o Guimarães Rosa.
Viver dá mais trabalho do que só existir, pois cada minuto surge assim de surpresa com um fato novo, inesperado, que nos exige uma correção de rota na vida.
Por isso tão pouca gente assume a responsabilidade de exercer seu próprio talento, de ir em busca do que realmente deseja e enfrentar todas as consequências.
Preferimos os estereótipos da lamentação, muitos se escondem no papel de vítima e passam a praguejar ou lamentar pela vida mal vivida. Isso quando não culpam o parceiro ou outra pessoa que atravessou seu caminho.
O que foi feito dos seus sonhos? O que te fez desviar?
É óbvio que somos também produto das circunstâncias, dos fatores externos que trazem o imprevisto na nossa vida, mas há uma outra parte que somos nós mesmos, com nossa falta de empenho ou por acreditar que somos menores, acabamos empacando num lamaçal de justificativas.