Aos 49 anos, Geraldo José Costa Junior, ou simplesmente, Jota Costa Junior tem um extenso histórico em prol da Cultura Rio-Clarense.
Há aproximadamente três décadas atuando de maneira intrínseca na Literatura, o entrevistado desta semana já publicou três livros ao longo de sua carreira, além de integrar o núcleo fundador do Grupo Auê de Cultura e Artes e do Jornal Literário O Beta. É colunista fixo do Diário do Rio Claro, onde tem textos publicados quinzenalmente às sextas-feiras; também tem seu trabalho divulgado em um site próprio no qual, desde 2009, escreve crônicas, contos, poemas e artigos de opinião.
Auxiliar Administrativo da Sociedade Veteranos de Rio Claro, goza da confiança e da credibilidade de vários presidentes e diretores que passaram pela entidade. Na área esportiva assinou coluna em um extinto jornal local e, atualmente, está como diretor da AA Santana e integra a Equipe de Esportes da Rádio Opção FM [107,9] como comentarista. Há alguns anos segue como dirigente espírita somando esforços aos demais membros na divulgação do Espiritismo.
Como surgiu o desejo de começar a escrever?
“Não sei exatamente. É algo que não se explica, eu acho. Acontece simplesmente. Talvez, da necessidade de tentar me curar das inquietações da alma, das muitas perguntas sobre a vida, para as quais não encontro resposta. Escrever não é a doença, já foi um dia, hoje é a cura.”
Além da Literatura, outra atividade na qual sempre teve destaque foi o Futebol, como isso aconteceu?
“Meu trabalho como treinador de futebol nas categorias de base começou em 1993, na AA Santana, quando tinha aos 24 anos de idade e ainda como auxiliar de meu saudoso pai no time sub 17. Depois, passei por vários clubes todos aqui de Rio Claro, sempre atuando com os garotos ao lado do meu amigo, o Nelsinho Martinhi. Foi no Juventude FC e na AA Santana onde vivi minhas maiores alegrias, dentre as quais, fazer amigos para sempre. A maior conquista é conviver com um adolescente e, depois de muitos anos, o encontrar já homem formado e ver em seus olhos a satisfação do encontro. Significa que acrescentei algo de bom na vida dele. Essa é a maior vitória.”
Na sua opinião, qual a relação entre Literatura e Futebol?
“A relação entre a literatura e o futebol, no Brasil, é muito rica. Vide por exemplo, intelectuais como Chico Anísio, Ruy Castro, Luiz Fernando Veríssimo, Nelson Rodrigues, João Saldanha, Orlando Duarte, José Roberto Torero, entre outros. O futebol, entretanto, a meu ver, é esnobado, pela maioria da intelectualidade, que ainda não o vê como um aspecto fundamental da nossa cultura. Deveria.”
Dos livros que escreveu, qual considera o mais representativo na sua trajetória?
“O primeiro, que é ‘A Tarde Demora a Passar’. Os outros dois, ‘O Intermediário’ e ‘Sob o Manto da Noite’, eu os revisei depois e ficaram bem melhores e, por isso, pretendo relançar. Atualmente, me dedico à escrita de ‘Silêncio e Solidão’. Já escrevi três versões. Mas ainda não me dei por satisfeito. Será o próximo a ir para o prelo, talvez ano que vem. Espero.”
A Literatura no Brasil tem futuro?
“A Literatura no Brasil, não só tem futuro, como tem passado e presente. Ocorre que, a Literatura Brasileira também sofre da incurável síndrome de vira lata. Um País que tem autores como Machado de Assis, Graciliano Ramos, Lima Barreto, Murilo Rubião, Fausto Wolf, Ruy Castro, Carlos Heitor Cony, Aluízio Azevedo, Jorge Amado, Dalton Trevisan, Inácio Loyola Brandão, Millôr Fernandes, Érico Veríssimo, Lucio Cardoso, Guimarães Rosa, Raduan Nassar, Marcelo Mirisola, Mário Prata, Marcelino Freire, Cristóvão Tezza, Ricardo Lísias, Ferréz, Joca Terron, entre outros, tem do que se orgulhar.”
Ao se lembrar do passado, o que se arrepende de ter feito e de não ter feito?
“Sinceramente não me arrependo de nada do que fiz. É melhor haver tentado. E a arte de escrever ensina isso. Às vezes, os sentimentos e as ideias estão presentes, podem ser vistas e apreciadas, mas a gente não consegue transformar isso em palavras, mesmo tentando muitas vezes. A vida é assim também. Muitos desejos e muitos projetos se perdem nas tentativas, mas as marcas que os fracassos impõem, simbolizam nossas lutas fortalecem e preparam melhor para os novos desafios.”
O que falta para a Cultura Local e para a Cultura Nacional?
“Para a Cultura Local falta ser mais valorizada e receber mais investimento, principalmente por parte da Iniciativa Privada, vez que o Poder Público, com os escassos recursos de que dispõe tem procurado fazer a sua parte. A Cultura é um bem de todos, desde o mais intelectual até o mais ignorante, e merece e precisa ser difundida em todos os seus aspectos e ser acessível a todos indistintamente. As pessoas precisam ser mais estimuladas ao interesse pela Cultura, que é um valor essencial da vida. Em nível nacional, ocorre o mesmo.”
Você percebe diferenças entre a sociedade rio-clarense dos anos 1980/1990 e a atual?
“Ah, sim, muita diferença. Se bem que falo da sociedade dos anos 1980/90 com olhos de adolescente e de jovem que fui à época. Nessa época da vida, a gente tem poucos compromissos, poucas responsabilidades, então, só se ocupa do que é bom. Escola, namoro, esporte, passeio aos finais de semana. Muitas vezes, voltava para casa de madrugada, aos sábados, depois da balada, e, a pé, atravessava a cidade, sozinho ou com os amigos e não tinha medo. Hoje, jamais faria isso. Eu comprava fichas para falar no orelhão com a namorada. Olha que loucura! Havia menos automóveis em Rio Claro e mais espaço nas ruas. Haviam os cinemas muito bons. Os jogos do Velo, aos domingos à tarde, no Benitão. O tempo parecia menos apressado.”
Quem é Jota Costa Jr.?
“É o pseudônimo mal arranjado para o cidadão rio-clarense Geraldo José Costa Junior, filho de Geraldo e Alzira, irmão de Carlos e Eleonora, pai de Viviane e Aline (in memorian). Pra ser sincero, passados 49 anos, ainda não sei. Também, não importa muito. Um dia, breve, eu serei apenas um nome e uma imagem, perpetuada na lembrança daqueles que me conheceram, conviveram comigo, me amaram e me odiaram. E chegará o tempo, que nem isso serei. Um espírito, sei que sou. Tive outras vidas, ou seja, outras experiências humanas, aqui na Terra, e de algumas, a mais recente, até me lembro; e terei ainda muitas outras, vez que longe estou da perfeição. Essa é só mais uma e a mais importante até aqui. Uma voz sempre fala ao meu coração: “Acalme-se, tolinho. Dessa vez, você veio para aprender a ser um espírito melhor, ou seja: aprimorar suas virtudes morais e corrigir suas imperfeições”. E é isso o que de fato importa, porque é tudo o que temos e levamos conosco para sempre: nossa inteligência, nossas qualidades morais e o conhecimento adquirido.”
Como você enxerga o atual momento do Brasil?
“O Brasil está em fase de transição, em todos os aspectos. Estamos purgando nossas mazelas morais. É um processo lento e doloroso, mas necessário. Depois, virão os melhores dias. De que nos valeria o progresso material, se moralmente, ainda temos muito a progredir? Vencer a tendência natural para a corrupção, comum a todos nós é a maior luta a ser travada e vencida. E vamos vencer.”
CARA A CARA
Rio Claro: Gratidão. Tudo o que escrevo tem um pouco da alma de Rio Claro. Sua gente, seus lugares, sua atmosfera psíquica
Cultura: Valor essencial de um povo
Inesquecível: Meus pais. Todos os dias penso neles
Para esquecer: A dor de perder aqueles que amamos
Saudade: Da minha infância
Expectativa: O resultado do próximo exame médico
Um lugar: Para chamar de meu
Um momento: Os 45 do segundo tempo
Um ídolo: Não tenho, mas tem pessoas que admiro
Um sonho possível: Ao final de tudo, sentir que valeu a pena
Um sonho impossível: Não há sonho impossível, vez que são apenas sonhos
Uma frase: “Nascer, viver, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.” – Allan Kardec
Um livro: ‘Por quem os sinos dobram’ – Ernest Hemingway
Uma música: ‘There is a light that never goes out’ – The Smiths
Uma palavra que o defina: Persistente
PINGA FOGO
Mudaria de calçada ao cruzar com: A morte
Mal maior: Doença, do corpo e da alma
Não merece o meu respeito: Quem não honra compromisso
A política é: A arte de servir o povo, mas a maioria que nela se mete, ao contrário, serve-se do povo
Não simpatizo, mas respeito: Drogas; seja qual for, ousar enfrentá-las é suicídio
Não respeito, mas simpatizo: O sono. Vivo brigando com ele
Por Vivian Guilherme