Muito antes da década de 1930, quando o País começou a procurar petróleo, já em Rio Claro e região aqueles que podem ser chamados de bandeirantes do petróleo abriam poços há décadas. As buscam haviam começado em 1890. Na cidade, tudo aconteceu no bairro Assistência.
A busca por petróleo em Rio Claro em 1958 teria sido um lance eleitoral que usou a Petrobras como aparelho político. A manobra se sustentou em antiga tradição de se localizar querosene em calcário da Assistência. Retrospectiva de mais de um século contribui para avaliar o episódio.
Escalada
Rio Claro e região abrem poços quarenta anos antes de o Brasil investir na busca de petróleo * Presença de querosene em calcário da Assistência leva a pesquisas * Elite republicana paulista faz investimento pioneiro no bairro * Juscelino Kubistchek e Jânio Quadros visitam torre na cidade * Ulysses Guimarães conta com apoio de JK para eleição a governador * Zezé Pimentel ou o último dos bandeirantes do petróleo * Jânio Quadros inaugura FAFI * UNESP cria parque geológico em sítio de calcário.
Origens
Desde os tempos de formação do Brasil o petróleo era conhecido domesticamente em alguns lugares da Bahia para uso em tochas e lampiões. A prática era rotineira e desatenta quanto ao potencial energético daquilo que se usava.
No mundo, o petróleo ganharia importância econômica a partir de 1850, quando os EUA passaram a investir no uso industrial produto.
Logo, os primeiros carros, que nasceram elétricos, passariam a ser movidos à gasolina. O carro à gasolina apareceu quando o petróleo de Rockfeller para lampiões se via condenado pelo comércio de lâmpadas elétricas.
Brasil e mundo
Na cena mundial, a contar daquele momento, o Brasil levaria quase cem anos para se posicionar quanto a investimentos em energia fóssil. O país se manteve como produtor rural movido à tração animal, trabalhador escravo, lenha e carvão. Quando passou a consumir petróleo, o país tornou-se importador.
Só a partir de 1930 é que a política nacional atentou para a necessidade de tomar iniciativas no setor em meio à falência da produção do café paulista, que sustentava a economia nacional. Era início da industrialização pretendida pela ditadura progressista de Getúlio Vargas. Transcorreram mais vinte anos até que o Brasil se posicionasse na cena internacional com a criação da Petrobras e seu monopólio em prospecções, produção e refino. Assim, definia-se pelo caminho contrário do livre mercado adotado pelos americanos, que já operavam a energia nuclear.
Por época da criação da Petrobrás e seu monopólio, em 1953, o Brasil era o último em perfurações na lista com EUA, Venezuela, México, Peru e Equador. Os EUA mantinham 49.760 perfurações. O Brasil registrava 58. Mais cinqüenta anos seriam necessários para que o país se aproximasse da autossuficiência e se tornasse pública a corrupção da estatal do petróleo e seu uso como aparelho político.
Bandeirantes do petróleo
Para quem considera que os paulistas têm mesmo um lendário espírito bandeirante, de ir em frente e abrir caminhos, a história do petróleo nacional contribui para confirmar essa crença.
Muito antes da década de 1930, quando o País vacilava em pesquisas, já em Rio Claro e região aqueles que podem ser chamados de bandeirantes do petróleo abriam poços há décadas. As buscam haviam começado em 1890. Na cidade, tudo aconteceu no bairro Assistência.
Bofete SP
Na literatura a respeito do tema, tem-se que a primeira perfuração particular em busca por petróleo no Brasil remonta ao final do século XIX e foi feita no município paulista de Bofete, entre 1892 e 1896.
Ali, então, Eugênio Ferreira de Camargo instalou uma sonda por conta própria em uma área de afloramento de betume. A prospecção foi encerrada com a localização de água sulforosa a quatrocentos metros. Teria produzido dois barris petróleo.
O episódio de Bofete fomentou a discussão sobre a existência de petróleo no estado de São Paulo. Visionários da região de Piracicaba, São Pedro e Rio Claro entraram em alerta. Alguns partiram para a ação e deram início à saga dos bandeirantes do petróleo. A mobilização foi encerrada no fim dos anos 1950 com a constatação de que não havia petróleo em Rio Claro nem no interior paulista.
Paulipetro
Depois de um intervalo de mais de vinte anos a contar da frustrada perfuração em Rio Claro em 1958, o debate sobre o petróleo paulista foi retomado durante o governo de Paulo Maluf, no início dos anos 1980. Em meio a ceticismo de especialistas e da opinião pública, o governo constitui a Petróleo Paulista (Paulipetro) por contrato entre Petrobras e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
No total, foram feitas 69 perfurações pelo interior sem que houvesse sido localizada alguma jazida economicamente viável. Anos depois, petróleo foi achado no litoral, área onde a Paulipetro não fez buscas.O episódio terminou com o Supremo Tribunal Federal decidindo que os R$ 4 bilhões gastos nas operações deveriam ser restituídos aos cofres públicos. Recursos protelatórios de Paulo Maluf mantêm a execução penal em processo. Hoje, o ex-governador, por outros motivos, encontra-se preso com direito à prisão domiciliar.
Rio Claro
O jornalista e vereador (1956/59) José Pires Pimentel de Oliveira Junior, o Zezé Pimentel, sempre garantiu que as primeiras perfurações na Assistência teriam sido feitas na mesma época das pesquisas realizadas na cidade de Bofete. Assim, o jornalista reivindicava para Rio Claro condições de compartilhar com aquela cidade a primazia em prospecção de petróleo no Brasil.
Seu argumento era de que o pioneiro de Bofete, Eugênio Ferreira de Camargo, tinha a família ramificada em Rio Claro, o que explicaria a extensão daquela pesquisa até aqui, em propriedades de parentes.
No entanto, não há alcance a evidências que atestem a afirmativa. Por seu lado, a cidade de Bofete tem como remanescente de seu pioneirismo uma fonte de água no local onde se deu a primeira perfuração.
Seja como for, pela ampla e obstinada propaganda feita pelo jornalista, tornou-se comum deparar-se com essa mesma informação em discursos locais e de políticos nacionais do período. Em falas de deputados registradas nas atas do Congresso Nacional e em comentários de grandes jornais, Rio Claro vem associada aos eventos de Bofete.
Pioneirismos
A atenção de Rio Claro entre os séculos XIX e XX para com as atualidades do mundo moderno, no que inclui a exploração de petróleo , tem justificativa. As lideranças e empreendedores locais estavam atentas a novidades do mercado. Como exportadores, os fazendeiros eram agentes da economia internacional.
Sede de grandes fazendas, de proprietários entre os mais ricos do País, a cidade se destacara como a terceira produtora de café já em 1886. A exigida visão de mercado fazia de Rio Claro uma cidade de seu tempo. Atenta a modernidades.
A oferta de energia elétrica local impulsionava uma economia que se urbanizava com o uso de máquinas para a agricultura, indústrias de cerveja, tecelagem e ferrovia. O mercado se abria para produtos como lâmpadas, ventiladores, campainhas, ferros elétricos, geladeiras.
É natural que alguém começasse a pensar em petróleo como produto de mercado. Novos bandeirantes iriam entrar em cena.
João Quilici em 1906
Entre 1906 e 1909, ainda muito antes das iniciativas nacionais para investimento em petróleo, um empreendimento que deixou referências foi feito na cidade.
Cronistas, registros de imprensa e testemunhos familiares falam vagamente do referido episódio como investimento pessoal do fazendeiro e construtor João Quilici, proprietário da fazenda Quilombo no atual bairro Assistência. O poço que ele escavou acabou aterrado. Sua localização não é conhecida, mas, segundo os filhos Leonardo e Godofredo, ficaria a 500 metros do local em que viria a ser instalada a última sonda em 1958.
Zezé Pimentel apresenta em seu livro “Temos petróleo” alguma referência sobre o trabalho de João Quilici. Conforme diz, a busca foi realizada sem equipamento adequado. A sonda utilizada fora construíra com madeira e tocada à tração animal. A pesquisa contou com suporte técnico de um engenheiro da Central Elétrica, identificado como Mário Cido, e foi conduzida em sociedade constituída com dois engenheiros ingleses, Alfredo Rheinfrank e Richard Cohe.
Panorama do caso
Ao que se depreende dos relatos disponíveis, a presença de João Quilici na história da pesquisa de petróleo na cidade deu-se da seguinte forma.
De início, ele investira na idéia em 1906, sem maiores conseqüências. Três anos depois, por volta de 1909, ele teria sido procurado pelos engenheiros ingleses Rheinfrank e Richard, que o estimularam a ampliar a pesquisa. As operações foram retomadas.
O grupo constituído firmou por contrato particular a exploração das terras de um certo Oliveira Goes. Pelo contrato, os ingleses teriam participação de 70%, o proprietário 25% e João Quilici 5%. A seguir, outros contratos foram firmados com proprietários da vizinhança.
A parte nebulosa do episódio fica por conta de seu final. A tradição diz que em dado momentos engenheiros teriam suspendido as prospecções feitas nas várias propriedades e com amostras geológicas e suas anotações seguiram para a Inglaterra em busca de financiamento para sondas e equipamentos. Então, teriam sumido de cena. Nunca mais voltaram.
O imaginário local preferiu entender que no caso teria ocorrido influência de interesses ingleses para boicotar a pesquisa de petróleo no País. Anos depois iria se conhecer outra versão, mais simples. De que a busca de recursos na Inglaterra em 1912 teria sido frustrada pela instabilidade política da Europa às portas da Grande Guerra. Má ocasião para se pensar em investimentos de risco.
Seja como for, por consequência, Quilici encerrou o projeto e o poço foi aterrado.
Querosene de 1917
José Calazans Negreiros é outro lendário bandeirante do petróleo por sua prospecção também em Rio Claro, que o tornou conhecido como “o barão do Querosene”. Seu nome está vinculado a uma sonda construída também na Assistência, em 1917. Sem que chegasse a produzir, o poço foi fechado e cimentado.
Ao que conta a tradição, ele consumiu sua fortuna no investimento. Na iniciativa, contou com apoio do presidente do estado de São Paulo, Altino Arantes, por influência de Eloy Chaves, da Central Elétrica, e do conselheiro Antonio Prado, presidente da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.
Por haver sido a primeira pesquisa oficial no País e haver mobilizado as principais forças políticas e econômicas paulistas, cabe uma observação mais atenta sobre o episódio. No caso, conferir detalhes sobre como Rio Claro viveu o momento da inauguração daquela torre e conferir registros sobre o chamado barão do Querosene.
Republicanos
Naquele 1º de setembro de 1917 as atenções de São Paulo, e também do Brasil, estiveram voltadas para Rio Claro. Para a inauguração da sonda sonhada por José Calazans Negreiros estavam presentes o governador Altino Arantes e seus secretários Cardoso de Almeida, Eloy Chaves, Cândido Motta e Rodrigues Alves, ex-presidente da República.
Eles formavam comitiva que incluía o presidente da Câmara dos Deputados, Antonio Lobo; o presidente do Senado Estadual, Jorge Tibiriçá, ex-governador; uma longa lista de deputados federais e estaduais; a nata dos líderes republicanos da Capital e interior e a Banda da Força Pública, acompanhada das bandas dos Ferroviários e do Theatro Variedades. Sem contar a maioria dos políticos e ilustres da cidade e região. Os visitantes foram recepcionados pelo prefeito Ignácio de Mesquita Correa e pelo presidente da Câmara Municipal José Ribeiro de Almeida Santos Filho, liderados de Marcello Schmidt, então vereador e chefe político da região eleitoral.
Grande público acompanhava as idas e vindas dos visitantes, entre a estação ferroviária, discursos nos dois palanques montados na Praça da Liberdade, banquete com cardápio em francês para cem talheres na Philarmônica, espetáculo de gala no Theatro Variedades e visita à usina da Central Elétrica. Tudo depois da abertura da primeira agência da Caixa Econômica na Avenida 3, em frente ao Jardim Público, antes de seguirem para a inauguração da sonda na Assistência.
Em seu discurso de agradecimento pela recepção, o governador Altino Arantes, nos termos da época presidente do estado, reconheceu Rio Claro como um dos municípios berço da República desde o Império e que ao lado de Itu, Piracicaba e Campinas formava “a Califórnia brasileira” por seu espírito empreendedor e sua riqueza.
O evento ganhou cobertura dos jornais O Estado de São Paulo, Correio Paulistano, Gazeta, Diário do Rio Claro, O Alpha, Platéia e outros da região. A imprensa justificou o empreendimento fazendo lembrar a tradição local de localizar evidências de petróleo às margens do rio Corumbataí e do Ribeirão Claro e das antigas tentativas de extração.
Relato do caso
Conforme o histórico de antigas ocorrências apresentado aos jornalistas pelos investidores para justificar o empreendimento ali em curso, a “primeira” perfuração com apoio técnico havia sido realizada em 1911 por Cohe, que levara amostra de petróleo para Londres com o objetivo de conseguir investimentos internacionais e para tanto chegara a constituir empresa.
Anos depois, em julho de 1916, Gabriel Penteado, personagem a ser devidamente identificado, convidara para análises geológicas na Assistência o engenheiro de minas americano Flemming, proprietário de campos de petróleo em Nova York.
O engenheiro, então, além de referendar as memoráveis expectativas verificadas em 1911 quanto à possibilidade de haver petróleo na cidade, estimulou Gabriel Penteado para que ampliasse a área de pesquisa até o município de São Pedro.Por consequência, o conselheiro Antonio Prado, da Companhia Paulista, uma das maiores fortunas do País, associou-se à iniciativa constituindo a Empresa Paulista de Petróleo. O plano de prospecção traçado previa perfurações também em Piracicaba.
Para a condução dos trabalhos foram destacados os técnicos Rubem da Costa e o americano Frank Miller. As operações foram entregues ao engenheiro de minas Miguel Arrojado Lisboa e alguém identificado como Orocchin, pesquisador de petróleo no México. Definiu-se o local onde a sonda seria construída.
Cabe notar que ao longo do relato que historiou o empreendimento, o jornalista de O Estado de São Paulo não destaca o nome de José Calazans de Negreiros enquanto assinala nomes com menor protagonismo no episódio. Em uma única vez, em reportagem de uma página, o jornalista se refere ao “coronel Calazans Negreiros, principal empreendedor dos trabalhos”.
A sociedade presidida pelo conselheiro Antonio Prado constitui aporte de trezentos contos de réis para o projeto. As operações foram suspensas por falta de capital quando a sonda atingiu trezentos metros.
O fato de o associado conselheiro Prado ser presidente da Companhia Paulista talvez explique versões que viriam no futuro a afirmar que a prospecção de 1917 tenha sido feita pela empresa ferroviária.
Perfil de um bandeirante
Oscar de Arruda Penteado é mais pontual ao referir-se em suas diversas crônicas ao que chama de “homem do querosene”. Muitos de seus registros coincidem com os apresentados pela imprensa à época dos eventos. Alguns acrescentam informações ao que já é conhecido.
Conforme registra, José Calazans Negreiros era proprietário das fazendas Pindorama e São Joaquim, em Santa Gertrudes. Motivado pela expectativa de haver petróleo na Assistência, por própria iniciativa, contratou os serviços do engenheiro inglês Richard Cohe para as pesquisas iniciais. O ponto de partida estava em fósseis e cascalhos que vertiam um óleo escuro com cheiro de querosene. As amostras pegavam fogo. Para levar adiante seu projeto de prospecção, Calazans mudou-se para Rio Claro, em 1913.
A partir daí, conseguiu várias opções entre proprietários de terra na zona onde pretendia fazer explorações e formou sociedade com o engenheiro de minas Francisco Emídio da Fonseca Telles, de São Paulo. Com registros no Cartório de Hipotecas feitos em 12 de julho de 2016 investiu na referida companhia de petróleo com direção dos engenheiros Eduardo Ribeiro Costa e Frank Muller, além de apoio do governador Altino Arantes e do conselheiro Antonio Prado. Os registros da imprensa falam em outros nomes ligados à iniciativa.
Penteado atribui a frustração do empreendimento, cuja perfuração não chegou alcançar grande profundidade, ao fato da broca haver quebrado ao encontro de um depósito de basalto. O acontecimento teria abatido o entusiasmo dos engenheiros, que deixaram as operações devido à dificuldade para se conseguir novas perfuratrizes. Não há alcance para saber sobre a reação dos demais envolvidos.
Calazans Negreiros, “que, naquele empreendimento, investira grande capitais, cansado e aborrecido com o insucesso, afastou-se definitivamente das iniciativas. Vendeu suas fazendas e mudou-se para São Paulo, onde faleceu.”
O homem do querosene era nascido em Rio Claro, neto de Estevam Cardoso de Negreiros e genro do então prefeito Ignácio de Mesquita. A região da Assistência foi originariamente propriedade de Estevam Cardoso de Negreiros, um dos primeiros proprietários em Rio Claro e de carreira política em Piracicaba, também fundador da Sociedade do Bem Comum.
Anos 1920
Água e fósseis com cheiro de querosene e calcário vertendo óleo mantiveram a expectativa de haver petróleo na cidade. Diversos relatos de ocorrências na região contribuíram para manter viva a esperança de achar petróleo ao longo da década de 1920.
Em 1921 o governo federal, por indicação da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, instalou sondas em Brotas, São Pedro, Itirapina e Charqueada. A Companhia Cruzeiro do Sul retomou as pesquisas em Bofete. O governo estadual também prospectou em São Pedro. Também em São Pedro, a Companhia Petrolífera Brasileira abriu poços.
Esses e outros casos, sem registro dos resultados, foram colecionados por Zezé Pimentel para sustentar na década de 1950 sua opinião de que o governo federal precisava investir na prospecção local.
Entre os casos relatados em livro, sem maiores especificações, há o de um técnico chamado Vaclovas que, ao perfurar um poço artesiano para a fábrica Matarazzo, na Vila Paulista, teria encontrado indícios de petróleo. A consideração do técnico foi que haveria petróleo a 1.200 metros. A especulação foi levada em conta já que na vizinhança, na cerâmica Mazziotti, a água de um poço aberto apresentava gosto de gasolina.
Outras evidências viriam de ocorrências semelhantes verificadas na fazenda Serra D´Água, na confluência dos rios Cabeça e Passa Cinco, bem como nas fazendas Mato Bom, Santa Bárbara e outras.
Há relato de que a região teria sido pesquisada pela companhia Petróleo União, que, em 1952, requereu ao Conselho Nacional de Petróleo autorização para explorar os locais. A empresa pretendia explorar uma área de 10 mil hectares e não foi atendida. A negativa alimentou suspeita de boicote. Há ainda um caso cuja ocorrência teria se dado na fazenda Lageado, de Felício Viana, a vinte quilômetros de Rio Claro, na estrada para São Pedro. Em extração de calcário no local foi detectado cheiro de petróleo.
A mais frequente das indicações de Zezé Pimentel repetia o que dizia a tradição, ou seja, que das lajes de cal retiradas na Assistência, entre fósseis de anfíbios, peixes e plantas marinhas, ocorria um líquido viscoso e preto com forte cheiro de querosene. Não falta apontar ocorrência no bairro Santa Cruz, quando teria havido emanação de gás durante a construção de uma piscina no Grêmio da Paulista.
O jornalista cita de passagem que em 1928 o técnico americano chamado Chester Washburne foi contratado pelo governador paulista Julio Prestes para análises no interior. Segundo haveria apurado o analista, Rio Claro teria petróleo a 1200 metros. O resultado de sua análise estaria na publicação “Geologia do Petróleo no estado de Paulo”.
Fazenda Pitanga
Um dos mais famosos casos de prospecção aconteceu em 1930, quando Martinho Levy procedeu a quatro perfurações em sua fazenda Pitanga, nos limites de Rio Claro e Piracicaba.
Para os trabalhos, a oficina Bruno Meyer & Filhos ergueu no local a primeira torre de petróleo fabricada na América do Sul. As perfurações não ultrapassaram duzentos metros. Sem sucesso.
Os irmãos Meyer eram Oscar, Reinaldo, Artur, Ewaldo e Érico. Com eles trabalharam Leonardo Butolo e César Ferri. A torre construída tinha 25 metros de altura e era dotada de perfuratriz de rotação com potencial de perfuração até mil metros.
Há um caso de busca por petróleo na cidade ou região que depende de ser investigado. As tradicionais listas de tentativas não trazem referências sobre uma torre construída por alguém chamado Rudolph. Fotos do equipamento pronto e sendo transportado por carro de bois na área rural em 1939 estão preservadas no Museu Histórico e Pedagógico Amador da Veiga, sem que haja alcance para maiores identificações do local.
Anos 1950
Nos anos 1950, duas décadas depois do episódio da fazenda Pitanga, a Companhia Petróleo do Brasil abriu poço em São Pedro. Um investimento particular retomou pesquisa na fazenda Lajeado, em Rio Claro. A Sociedade Brasileira de Sondagem, de Eduardo Guinle, realizou pesquisas em São Pedro, Anhembi, Piapara e Porto Martins. Em Rio Claro, a mesma empresa realizou prospecções na fazenda São José. A empresa Petróleo União localizou xisto betuminoso na região noroeste entre Rio Claro e Ipeúna. As informações fazem parte da coleção de notas de Pimentel Junior.
A grande campanha
Com base em expectativas que vinham pela tradição desde o início do século, com reforço garantido por evidências recorrentes frente à valorização mundial do petróleo desde a II Guerra, Rio Claro, então, deflagra sua campanha para que a Petrobras fizesse prospecções no bairro Assistência.
Na mobilização da época é possível detectar reflexos otimistas dos anos dourados daquela década de 1950. O caso chega a exibir um relativo atavismo pela busca de recolocar Rio Claro no mapa do Brasil depois da frustrante decadência do café. O ouro negro a partir de agora seria o petróleo.
Disseminada com liderança de Zezé Pimentel, a mensagem é captada, assimilada e levada em frente. O desafio está no ar.
O movimento se difunde entre políticos locais e nacionais. Ganha apoio de jornalistas. Clubes de serviço e entidades de classe mobilizam-se.
Em São Paulo, por meio do Correio Paulistano, João de Scatimburgo estimula a causa, conforme se confere na edição de 9 de dezembro de 1955 do jornal. Também no Correio Paulistano, João Evangelista Ferraz manifesta apoio a Rio Claro. Do interior, o jornalista Carlos Alberto dos Santos, de O Imparcial, de Araraquara, difunde a causa desde o início.
Logo, na Câmara dos Deputados, no Rio de Janeiro, o deputado Castilho Cabral não apenas chama as atenções para a causa de Rio Claro como oficialmente cobra a presença da Petrobrás no município. Um dos registros de sua manifestação está no Diário do Congresso de 29 de novembro de 1955. Antes dele, em 1948, o deputado Odilon Braga já se antecipara em semelhante manifestação, sem sucesso.
Ambos registraram o mesmo comentário, “Rio Claro e Bofete estão intimamente ligadas à história nacional do petróleo. Foi nessas duas cidades, em 1897, que por iniciativa de Eugênio Ferreira Camargo processaram-se as primeiras sondagens”. É evidente que ambas as manifestações respondiam à articulação de Zezé Pimentel, fonte característica desse tipo de informação.
A Câmara Municipal de Rio Claro, na legislatura de 1956 a 1959, aprova indicação para se encaminhasse ofício aos deputados federais Castilho Cabral, Ulysses Guimarães, Dagoberto Salles, Loureiro Junior e Hamilton Prado, “amigos de Rio Claro”, pedindo apoio à campanha de reivindicações à Petrobrás.
A indicação é assinada pelos vereadores: Pimentel Junior, Higino Pereira, Benito Castellano, Gustavo Stein, José Eduardo Leite, Januário Silvio Pezzotti, Diogo Sanches, José Rodrigues Jordão, Juliano Capelato, Roberto César, Humberto Cartolano, Irineu Penteado Filho, Antonio Maria Marrote, Paulo Hofling, Ítalo Lorenzon, Urbano José Lucchini, Orpheu Lotti, Joaquim Abdalla e Higino Pereira.
Por meio dos deputados, o ofício é encaminhado ao presidente da Petrobrás coronel Artur Levy. Em seus considerandos, o documento recorre à já famosa retrospectiva de evidências que tanto que insuflavam a imaginação popular quanto a haver petróleo na Assistência.
A retrospectiva destaca que a primeira prospecção oficial realizada em Rio Claro acontecera por iniciativa da Empresa Paulista de Petróleo, em 1917, com sonda emprestada pelo governo federal. Que o empreendimento fora supervisionado pelo conselheiro Antonio Prado e acompanhado por Eduardo da Costa, da escola Politécnica, de São Paulo, e do engenheiro Arrojado Lisboa. Que o poço aberto atingiu somente trezentos metros e que as operações acabaram abandonadas por razões financeiras. A lista de ocorrências que justificariam as atenções do governo federal não deixa nada de fora.
Petrobras chega
Coube ao presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães, anunciar, logo na sequência, a vitória do movimento rio-clarense. Enfim, a Petrobrás enviaria um geólogo para realizar estudos nas áreas passíveis de ter petróleo.
A chegada do geólogo Luciano Jacques de Morais foi festiva. Ele ganhou recepção oficial do prefeito Augusto Schmidt Filho como “hóspede do município” e solenidade na Câmara Municipal. Foi homenageado pelo Lions Club, presidido por Rui Cassavia.
A cortesia disponibilizada ao visitante ilustra o comportamento da época em que o imaginário popular passou a dar status de celebridade a engenheiros e representantes da Petrobras. A motivação decorria dos ânimos nacionalistas há pouco exaltados com a criação da estatal e nacionalização do petróleo, como pretendera Monteiro Lobato desde os anos 1920. Alguém veria interesses políticos nisso tudo.
Em 1976, a novela “Estúpido Cúpido”, de Mário Prata, pela Rede Globo, não perderia a oportunidade de relembrar o tema da empatia popular em relação a engenheiros da Petrobras em alguma cidade do interior. O comportamento se alongara pelos anos 1960, tema da novela. “Estúpido Cúpido”, que abriu o horário das sete, foi a última a ser gravada em branco e preto e trouxe o ator rio-clarense Tião D Ávila em seu casting,/
Em suas pesquisas pela Assistência e região, o cultuado geólogo da Petrobras esteve acompanhado por Argemiro Martins, colecionador de peças arqueológicas, pelo ex-vereador Antenor Chiossi e pelo vereador José Eduardo Leite, além de Osvaldo Duckur, José Viana e Arnaldo Costa.
O resultado deu no que todos queriam. Rio Claro teria sua torre.
A torre
Era 02 de fevereiro de 1958, dia de Nossa Senhora das Candeias, dos Lampiões, ou da Candelária, padroeira dos petroleiros.
Decidiu-se que a torre seria erguida no sítio de Henrique Christofoletti, pela Geoperfuradora Brasileira.
A construção tinha 43 de altura, segundo o Diário do Rio Claro. Era suficiente para atingir de 1600 a 2000 metros de profundidade.
No final, foi desativada a 1335 metros ao atingir camada de cristalino, comprovando a inexistência de petróleo. A tradição acrescente que da perfuração verteu água sulforosa, detalhe que a imprensa da época não reporta. Mas assim ficou. O furo deu em água, para frustração geral dos ânimos. Oscar Penteado informa que o poço produzia 60 mil litros de água sulforosa por hora.
O cronista Aloysio Pereira, em 1985, resumiu a saga de 1958 nos seguintes termos: “o que mais contribuiu para aquele equívoco foi a existência nas proximidades da cidade da chamada Formação Irati, constituída de folhetos pirobetuminosos e lâminas de calcário. As rochas escuras dessa formação, quando fraturadas, deixam ver em seu interior vacúolos cheios de óleo exalando forte cheiro de querosene. Esse fato induziu muita gente ao erro, pois pensavam vislumbrar no solo rio-clarense apreciável lençol de ouro negro”.]
Instalação abençoada
A elevação da torre na Assistência havia sido antecipada em quatro dias para coincidir com o dia de Nossa Senhora das Candeias, ou da Candelária, protetora dos petroleiros. O cônego Antonio Martins Filho organizou romaria de fieis que seguiu da igreja de São Benedito à Assistência.
Era domingo. A procissão reuniu aproximadamente 1800 romeiros e 250 veículos, entre carros e caminhões. O industrial e paraninfo da cerimônia Nicolau Scarpa, da Cervejaria Rio Claro, disponibilizou caminhões para o transporte de fieis. Leonardo e Godofredo, filhos do pioneiro João Quilici participam da celebração. A organização definiu que a torre só começaria a ser erguida quando a romaria chegasse à Assistência. E assim foi.
Quatro dias depois, a perfuração começou a ser feita em 06 de fevereiro, às três e meia da tarde. Os jornais Folha da Manhã e Diário de São Paulo cobriram o evento que foi gravado para transmissão pelo Canal 3. A televisão estava em sua fase inicial.
No primeiro dia das operações a sonda atingiu onze metros. Vinte e dois no dia seguinte. Trinta e dois metros no terceiro dia.
Batismo torrencial
A sonda que daria em água começou a perfuração debaixo de chuva torrencial. Apesar do mau tempo, autoridades e grande público acompanharam os trabalhos. Os técnicos anteviam que as chuvas continuassem com aquele volume, as operações iriam atrasar.
A Assistência era um mar de lama. O trânsito ao local estava parcialmente interrompido, dificultando o acesso de engenheiros e operários.
Não só Rio Claro sofria. A chuva atingia todo o estado. Em várias cidades as plantações registravam estragos. Estradas interditadas comprometiam o transporte de alimentos. Rios inundavam.O governo estadual havia paralisado obras públicas. Depois de perdurar por uma semana, as chuvas deram trégua e os trabalhos na torre passaram a ser feitos em condições normais.
Presidente JK na cidade
Trinta e nove dias após o início da construção da torre, o presidente Juscelino Kubistchek esteve em Rio Claro para conferir as instalações. No aeroporto foi recepcionado por mais de duas mil pessoas e inúmeras autoridades. No ato cívico, como não poderia deixar de ser, o discurso de abertura coube a José Pires Pimentel de Oliveira Junior.
Naquele ano, o vice-prefeito Argemiro Maurício Hofling havia assumido o governo municipal devido à renúncia do titular Augusto Schmidt Filho. Antonio Marrote presidia a Câmara Municipal. Eles receberam a comitiva que, além de Juscelino Kubistchek, e Jânio Quadros, trouxe a Rio Claro Ulysses Guimarães, a deputada federal Ivete Vargas, autoridades nacionais e estaduais e, obviamente, representantes da Petrobrás.
Política
O mítico lema de cumprir realizações de cinqüenta anos no período de cinco anos de seu governo foi o tema do discurso do presidente Juscelino Kubistchek na vistoria feita à torre.
A visita aconteceu no dia 13 de março. Em concorrida festividade, o presidente foi saudado pelo deputado federal e rio-clarense Ulysses Guimarães, que o elogiou pelo projeto de construção de Brasília e pelo investimento na indústria automobilística no Brasil.
A política eleitoral estava em cena.
Os correligionários de Ulysses Guimarães tinham expectativa de que JK manifestasse seu apoio à candidatura do deputado federal rio-clarense ao governo do estado de São Paulo pelo partido de ambos, o Partido Social Progressista (PSP). Painéis e cartazes com foto de Ulysses ocupavam o aeroclube, local da recepção.
Mas, porém, o presidente JK não tocou no assunto.
Como bom e cauteloso mineiro, ele evitou se comprometer com os rumos da disputa paulista. Mesmo porque ao seu lado estava o governador Jânio Quadros, que liderava a política da oposição e, na sequência, seria eleito presidente como crítico do governo JK. O símbolo da campanha presidencial de Jânio foi uma vassoura, para varrer a corrupção. Logo em 03 de outubro, o secretário da Fazenda de Jânio Quadros, Carvalho Pinto, foi eleito governador. Jânio Quadros não fez discurso em Rio Claro. O que parece significar alguma coisa.
Mas, sempre elegante e simpático, Juscelino, apesar de não manifestar apoio à candidatura de Ulysses, cobriu o deputado rio-clarense de elogios ao identificá-lo como “um dos pilares” de seu governo.
Encantando o ambiente, a jovem Lilian Quilici entregou flores a ambos. Rara beleza a da jovem aos olhos de Ulysses Guimarães. O general Nelson de Melo, ministro do Gabinete Militar, também presente, não escondia seu encanto com a beleza da rio-clarense. O detalhe pode ser notado na histórica foto da comitiva visitando a torre da Assistência. Os olhares disputam espaço diante da jovem.
Em seu discurso, o presidente justificou que estava na cidade atendendo convite feito por Ulysses Guimarães a fim de conferir as operações da Petrobras. Ele elogiou Rio Claro por ser uma cidade reconhecida por sua cultura. Reafirmou que durante seu mandato faria realizações por cinqüenta anos. Quanto ao assunto em pauta, preconizou que até o final de seu governo o Brasil estaria produzindo metade do petróleo que consumia. É algo a se conferir para saber que assim aconteceu.
Naquela quinta-feira a sonda atingia 913 metros dos 1335 que viria a alcançar até a desativação.
Frustração
O balde de água fria sobre os ânimos gerais veio com a divulgação, de início reservada e tornada pública no dia 18 de abril, dando conta de que não havia petróleo em Rio Claro.
O assunto devia ser dado por encerrado porque a broca dera em uma camada de cristalino. A sonda seria transferida para uma cidade do Paraná. O desapontamento estigmatizou o resultado como furo que deu em água.
A população ficou perplexa. Estarrecida, conforme noticiou o jornal Diário do Rio Claro. A paralisação da busca, que vinha sendo considerada uma ameaça desde quando a sonda atingira 1200 metros, se confirmava à profundidade de 1335,33 metros. Era o fim.
Em vão, as lideranças locais buscaram apoio político para conseguir novas perfurações, sem sucesso. O Lions Club liderou a mobilização.
Em sua edição do dia 20 de abril, o jornal O Estado de São Paulo foi implacável ao analisar o assunto no editorial com o título Barraca de Polichinelo, referência ao que seria um embuste.
O editorialista qualifica a Petrobras como um polvo estatal ineficiente. Um pernicioso aparelho de propaganda que usa da ingenuidade popular para interesses políticos e eleitorais. Que a Petrobras, depois da frustração causada a Rio Claro, seguia para iludir ingênuos no Paraná, novo destino da sonda.
O jornal enfatiza que há muito se sabia não haver petróleo no estado de São Paulo. Reporta informações técnicas que atestariam tal certeza.
Imediatamente, Zezé Pimentel contestou o editorial em carta à redação do jornal e divulgada pelo Diário de Rio Claro do dia 23 seguinte.
Ele defendeu a iniciativa “patriótica” da Petrobras por investir em Rio Claro. Ao mesmo tempo sugeriu ser de seu conhecimento que a estatal alimentava certa prevenção quanto à existência de petróleo em São Paulo. Sugeriu, ainda, relativa suspeita de boicote pelo fato do técnico de pesquisa da Petrobras ser um americano vinculado à empresa americana Standart Oil. O que poderia comprometer os interesses nativistas.
Zezé Pimentel fez notar que o índice de sucesso em perfurações era de dez para um. Ou seja, o comum era localizar petróleo em meio a dez perfurações. Por isso ele reivindicava que a busca em Rio Claro continuasse.
Zezé Pimentel não deixava de ter razão em alguns pontos. De fato, a Petrobrás nutria certo ceticismo quanto a São Paulo ter petróleo. Isto porque o referido técnico americano, Walter Link, já havia estimado em relatório à Petrobrás que dificilmente haveria petróleo no interior do Brasil. Em seu parecer, ele avaliava que lençóis petrolíferos poderiam ser encontrados apenas em áreas marinhas, conforme iria se constatar décadas depois.
As reivindicações por novas perfurações na cidade foram inúteis. O assunto petróleo em Rio Claro foi dado por encerrado e jamais foi retomado. Era o fim.
Conforme se viu, pelas denúncias de corrupção contra seu governo, JK não conseguiu eleger o sucessor. Como líder da oposição, Jânio Quadros foi eleito presidente. Ulysses Guimarães não disputou o governo estadual.
FAFI
Na semana seguinte, a população compensou a frustração com outro assunto: a inauguração do prédio a ser ocupado para instalação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (FAFI), recém- criada por Jânio Quadros. O então governador, que estivera na cidade no mês anterior, voltava para a inauguração e para receber o título de cidadão rio-clarense concedido pela Câmara Municipal.
A unidade local da universidade viria a oferecer, conforme se tem hoje, curso de geologia reconhecido nacional e internacionalmente, com foco em petróleo e convênios com a Petrobras.
Parque geológico
Rio Claro não tem petróleo, mas, no entanto, tem calcário e riqueza arqueológica suficientes para ganhar as atenções de empreendedores e cientistas.
Com este objetivo, hoje, parceria entre iniciativa privada, universidade e município desenvolve projeto de instalação na Assistência de um parque geológico que integre investimento em pesquisas tanto à atividade industrial quanto à memória dos bandeirantes do petróleo e sua saga.
O projeto
Projeto de criação do Parque Geológico Municipal de Assistência, em Rio Claro, prevê a preservação de um corte rochoso onde se minera calcário, construção de um museu com amostras de rochas, fósseis, minerais, painéis eesculturas que reconstituem animais pré-históricos que habitaram a região. Estão previstas também salas de estudo e conferências e anfiteatro ao ar livre.
O parque é previsto para funcionar em área de mineração de calcário e argila da empresa Partezani Calcários (Partecal), onde a extração mineral, após o término dos trabalhos de lavra, aparelhará o local para a construção do parque.
Além das rochas, típicas de uma grande região do sul e sudeste do Brasil e da África do Sul, fósseis de primitivos répteis de quase 250 milhões de anos também são registrados. A região é conhecida pelos sítios com ferramentas de povos primitivos. A história do petróleo também será enfocada, uma vez que a área, que se localiza no sítio São João, é um dos locais das históricas prospecções de petróleo do País.
O cronograma de trabalho é desenvolvido por professores geólogos, paleontólogos e estudantes da Universidade Estadual Paulista (UNESP) em uma parceria que reúne a iniciativa privada, universidade e município.
Epílogo
Zezé Pimentel pode ser considerado o último dos bandeirantes do petróleo, senão o último da própria linhagem geral dos bandeirantes modernos do município.
Se houve um a mais na linhagem geral, ele deve ter sido o engenheiro João Conrado do Amaral Gurgel, que, inversamente, defendia a substituição do petróleo pelo consumo de energia elétrica para carros.
No caso de Gurgel, transcorridos cinquenta anos de seu investimento na proposta, só a contar dos próximos anos é que começarão a chegar ao mercado as atuais versões de carros elétricos, já anunciadas pelas grandes montadoras.
A concluir, antes de a frustração ser o elemento comum entre as buscas de Fernão Dias por esmeraldas, de Pimentel Junior por petróleo em Rio Claro e de Gurgel pelo carro elétrico nacional, o que os une na história do Brasil é o espírito de conquista. E a isso eles dedicaram suas vidas. Foram até o fim. Coisa para poucos e raros.
Informações
Temos petróleo, José Pires Pimentel de Oliveira Junior, 1956. / O petróleo rio-clarense e a redenção nacional, José Pires Pimentel de Oliveira Junior, VI Convenção das Associações Comerciais de São Paulo, 1957 / A história do petróleo no estado de São Paulo, Julia Chinellato de Oliveira e Silvia de Mendonça Figueirôa, Unicamp, 2011. / Revista Mirante, 1917. / Almanaque Rio Claro Sesquicentenária. / Diário do Rio Claro. / O Estado de São Paulo. / Folha de São Paulo. / Crônicas de Oscar de Arruda Penteado. / Crônicas de Aloysio Pereira. / Museu Histórico e Pedagógico Amador Bueno da Veiga. / Arquivo Municipal e Histórico Oscar de Arruda Penteado. / Portal Educação – BR Petrobras. / Portal de Pesquisas Educacionais.
Por José Roberto Sant’Anna
Jornalista e Pesquisador