Os trabalhadores ainda estavam realizando os últimos ajustes nas novas instalações do Diário do Rio Claro, quando José Afonso Baldissera chegou para a entrevista inaugural da nova Sala de Reuniões.
Em um bate-papo informal, o publicitário destacou que o Homem só é feliz quando está trabalhando, pois acredita que a felicidade contínua personificada no trabalho é o que gera a felicidade momentânea. Uma aula de sensibilidade e franqueza.
Aos 64 anos de idade, Baldissera tem muito a ensinar. Entre uma afirmação e outra, enfatizou que o periódico impresso não vai acabar, conforme afirmam alguns incrédulos da comunicação. Ele destacou que já tentaram acabar com outras mídias, como o rádio, por exemplo, que permanecem mostrando força e se renovando sem nunca esquecer do passado.
Foi em 1976 que fez front no Centenário ao assumir o posto de editor depois de um convite do então proprietário Paulo Jodate David. Permaneceu até 1983 e durante esse período implantou diversas inovações tecnológicas nos processos de impressão. Realizou uma revolução criativa na Imprensa Regional.
Já Diretor de Redação ao lado de Luiz Wehmuth Neto, quando da transição para o processo de impressão offset, realizou intensa pesquisa em diversos jornais para a implantação da nova tecnologia. Importante destacar as inovações criadas pela dupla com o material disponível para sanar problemas que até então ninguém havia sequer pensado.
Alguns anos antes, especificamente no dia 3 de março de 1973, aconteceu um divisor de águas na carreira do profissional. Ele havia completado 18 anos, iniciado o curso de matemática e foi convidado pelo Chefe de Redação Ribeiro Mancuso para ingressar como fotógrafo na imprensa rio-clarense. Daquele momento em diante construiu a carreira no jornalismo e publicidade e se transformou em um ícone regional.
Proprietário de uma das maiores agências de publicidade da região, a Publish Propaganda, Baldissera viveu a chamada época de risco do jornalismo brasileiro e realizou um jornal de guerrilha. Aprendeu a trabalhar no linotipo para garantir que os furos de reportagens fossem estampados na primeira página do Centenário na edição seguinte.
Um trabalho que pode ser observado em pesquisas nas antigas edições. O entrevistado foi recebido pelos jornalistas Odair Favari, Vivian Guilherme, Lourenço Favari e o fotógrafo Odavi. Veja trechos da entrevista:
Qual período trabalhou no diário?
Comecei em 1976 já na condição de editor. Estava em outro jornal, depois houve um convite do Diário. O Jodate me convidou para ir para lá. Algum tempo depois, Geraldo Zanello comprou e sinalizou que queria mudar para off set por volta de 1982. Nós passamos a fazer pesquisa do off set e o único jornal em offset era o de Piracicaba. Foi um período bacana de aprendizagem e criatividade. A telefonia era precária. Para conseguir uma notícia o negócio era complicado. Era jornalismo de guerrilha. Nada comparado com hoje, era muito complicado!
Qual a diferença da publicidade naquele período e para hoje?
A publicidade naquela época era bem eficaz, porque a gente não tinha mídia. Tinha duas possíveis: jornal e rádio. O anuncio do jornal era onde conseguia levar essa comunicação do produto e do cliente ao consumidores. Ela era bastante simples, pois não tinha software, nem fotografia. Era muito simples com texto. O apelo do texto era muito mais criativo. Tinha que trabalhar muito bem no texto. Hoje a criatividade tem que ser muito boa para sobressair sobre seus concorrentes. Ficou mais complicado fazer propaganda hoje do que na época.
Porque mudou do jornalismo para a publicidade?
O salário que a gente ganhava era pouco. Descobri, depois de conversar com o pessoal do Diário, que se eu vendesse publicidade eu ganhava 20%. Então eu saía da escola, passava numa loja, vendia um quadradinho, um pedacinho do jornal e aumentava a renda. Andava com um talão de pedido. Nesse tempo fui me inteirando com a publicidade. Pouco depois fui chamado pela Gurgel para fazer assessoria de imprensa no lançamento de um projeto. E eu gerenciava a publicidade e comecei a tomar mais conhecimento com a publicidade, com as grandes agências. Então um dia eu conversei com o Dr. Gurgel e ele me disse “abre uma agência para você lá no Centro e fica com a conta da Gurgel”. Foi então que eu abri a agência. Na verdade fiquei uns três, quatro meses no fundo da minha casa porque eu não achava sala para alugar. A agencia começou em 1991. Neste mesmo tempo eu dava aula de matemática no colégio Integrado. Aliás, fiquei na instituição 33 anos e quatro meses.
O comercial interfere na linha editorial?
Quando Rio Claro ainda era pequena tinha que tomar alguns cuidados, mas basicamente a parte comercial nunca deverá e nunca deveria ter influência sobre a parte editorial. A diferença hoje é que há uma gama de mídia, e por isso tem mídias próprias para cada produto.
Como analisa a política nacional atual?
O prefeito tem que ser um gestor, um administrador e menos político. Porque o que queremos na verdade é que a cidade cresça. Quando você tem uma indústria funcionando bem e o comercio funcionando bem, tudo funciona bem. A política é muito emperrada, muito burocrática. Está na hora de mudar este modelo. Até é uma crítica construtiva, na verdade, mas vereador que fica fazendo indicação de buraco não é o trabalho dele. O trabalho dele é legislar. É a mesma situação de muitos anos atrás e não muda! A grande vantagem do brasileiro é que nunca tivemos guerra e a desvantagem é que nunca tivemos guerra. Se pegar todos os países que tiveram guerra eles são todos organizados, tem cidadania! E mesmo com tudo que acontece no Brasil, o povo brasileiro ainda é feliz!
Como avalia a política de rio claro. Existem novos líderes?
Nós tivemos uma transformação, o mundo todo está em movimento. E nós temos uma política ainda muito retrograda, arcaica, velha. Está na hora de ter uma política um pouco mais da área de gestão, mais administrativa e menos complicada. Nós temos uma engrenagem que está engripada. Este Pais tem a condição de ser o melhor do mundo. O dinheiro desviado resolveria todos os problemas do Brasil. Todo mundo pensa a mesma coisa, mas ninguém muda esse modelo. Nos EUA tem um modelo de imposto único que valoriza a indústria. É por isso que é uma potência. Infelizmente hoje não tem um gestor, não tem uma pessoa para liderança.
O Juninho surpreende pelo carisma dele. Está sempre junto em todos os pontos da cidade. Está fazendo um esforço grande para reanimar a cidade. Mas ele pegou uma máquina pública inchada demais. Ele tem que focar no básico: indústria e comércio. Buscar esses recursos e trazer novas empresas. Acredito que faz mais de 25 anos que não chega uma grande indústria em Rio Claro. Precisaria se dedicar um pouco mais e buscar esses novos recursos. A partir do momento que fomenta essa indústria, fomenta o comércio, o bem estar da população. Rio Claro é uma cidade conservadora, só falta dar um Up. Se ficar sentado aqui não vai acontecer nada!
RÁPIDAS
MUDARIA DE CALÇADA AO CRUZAR COM: Se eu encontrasse um buraco.
MAL MAIOR: Falta de cidadania do povo Rio-clarense.
NÃO MERECE O MEU RESPEITO: As pessoas que não estão voltadas para bem estar da coletividade.
A POLÍTICA É: Retrógrada.
NÃO SIMPATIZO, MAS RESPEITO: Com o tipo de gestão da máquina pública.
NÃO RESPEITO, MAS SIMPATIZO: Credo!
UM ÍDOLO: Tenho vários, mas acho que quem influenciou bastante foi o Gurgel.
UM SONHO POSSÍVEL: Viver em Rio Claro com mais tranquilidade. E é possível.
UM SONHO IMPOSSÍVEL: Ser prefeito de Rio Claro.
Por Lourenço Favari