Novidade eleitoral: a antiga assessoria de imprensa dos candidatos, que dava sua versão do que estava acontecendo, foi trocada por assessorias digitais, que dão sua versão do que não aconteceu.
Inventa-se uma nova realidade política, que nada tem a ver com a realidade propriamente dita – tática utilizada, com êxito, pelos nazistas, orientados por Joseph Goebbels. Espalhar que Bolsonaro não irá a todos os debates porque tem medo não é verdade: ele tem se saído bem, já que lhe fazem sempre as perguntas para as quais já tem resposta.
Não vai porque, líder nas pesquisas, é o alvo natural dos demais candidatos. Collor não foi a debates, também. E ganhou. Espalhar que Lula é o favorito porque, embora não possa se candidatar, lidera as pesquisas, é falso. Se não pode se candidatar, não é favorito. Ele sabe que não é candidato. Finge que é, mas já escalou seu reserva.
E quer seu nome na urna para levar o eleitor menos informado a votar no reserva. Os partidos que apoiam Alckmin dizem que ele crescerá com o domínio do tempo de TV. Pode ser – mas os partidos não acreditam no que dizem, tanto que seus dirigentes fazem comícios louvando candidatos adversários. Alckmin está mal nas pesquisas. Para subir, precisa mostrar que não é só um Picolé de Chuchu. Mas quem nasceu para Chuchu, Chuchu é, e será. Nas eleições de 2018, como nas guerras, a primeira vítima é a verdade.
Pernas curtas
A propaganda falsa fantasiada de jornalismo traz riscos: comunicação não é o que se diz, mas o que se escuta. Um grande publicitário estudou o tema. E constatou que a palavra “populismo”, que se considera pejorativa, é muito bem aceita: para boa parte dos eleitores, quer dizer “favorável ao povo”. E “autoritário” não é um termo depreciativo: muitos o consideram positivo, atribuído a quem exerce de fato a autoridade. Insistir muito num tema é perigoso: um ótimo jornalista perguntou ao jardineiro em quem iria votar. Em qualquer um, menos Bolsonaro. “Eu voto lá nesse comunista?”
Coisas estranhas
Há coisas que só acontecem por aqui. O PT informou que o deputado Reginaldo Lopes é o coordenador da campanha Lula/Haddad/Manuela em Minas. Este colunista é do tempo em que dois cargos, presidente e vice, eram preenchidos por duas pessoas. Três, no lugar de dois, é novidade. Duas gêmeas candidatas, uma a deputada federal, outra a federal, são milagrosas. Se eleitas, o emprego vai voltar, a economia vai melhorar, a aposentadoria vai garantir e a pobreza vai acabar. Ruim? Não: ruim mesmo é o jingle cantado aos berros por uma voz esganiçada. É mais agradável ouvir Suplicy imitando os Racionais MC e massacrando Bob Dylan.
A pesquisa de agora
Uma pesquisa fresquinha, recém-saída do forno, elaborada pelo IPESPE para a XP Investimentos: Lula (que, embora não possa ser candidato, está na planilha) cresceu dentro da margem de erro. Na menção espontânea, foi de 15 para 18%; na estimulada, de 31 para 32%. Num hipotético segundo turno, tem vantagem de oito pontos sobre Bolsonaro. Entretanto, Lula tem a maior rejeição entre os pesquisados: 60% contra 59% de Bolsonaro. A alta rejeição dificulta seu crescimento e permite que surja um novo nome entre os favoritos. A TV, normalmente, influencia muito o eleitorado.
O poste
Como Lula não é candidato, qual a posição de seu reserva Haddad nas pesquisas? Haddad perdeu dois pontos no cenário em que aparece como “apoiado por Lula”, caindo de 15% para 13%; e um ponto se substituir Lula como candidato, embora com nome e número de Lula na urna. Mas, como é provável que a Justiça examine a situação de Lula no início de setembro, se o ex-presidente entrar no horário gratuito ficará poucos dias. E a situação de Haddad se tornará clara para os eleitores.
Brasil de ontem
Este estudo não é partidário (abrange governos do PSDB e do PT), não tem nada a ver com campanha eleitoral, mas mostra qual tem sido o rumo do Brasil de 1995 até hoje: para baixo. Em 1995, o Brasil (com renda por habitante de US$ 8.524) era mais rico do que sete países com nível semelhante de desenvolvimento: Croácia (US$ 8.477), Uruguai (US$ 8.045), Estônia (US$ 7.314), Turquia (US$ 7.000), Polônia (US$ 6.540), Lituânia (US$ 5.324) e Letônia (US$ 5.135).
Em 2015, a Estônia liderava o grupo (US$ 17.003) – valor constante, dólar de 2010; seguem-se Lituânia (US$ 15.347), Polônia (US$ 14.655), Letônia (US$ 14.320), Uruguai (US$ 13.944), Croácia (US$ 13.876), Turquia (US$ 11.523). E, na rabeira, Brasil (US$ 11.212). A pesquisa é da Fundação Índigo de Políticas Públicas, com números oficiais do Banco Mundial. Uma curiosidade observada por este colunista: quem cresceu foram os países que reduziram o tamanho de seus governos.
Por Carlos Brickmann
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