No próximo dia 19 de Abril, Roberto Carlos completa 78 anos de idade.
Na mesmíssima data, Nando Reis lança seu novo disco, um tributo do ex-titã ao rei. Não pretendo aqui fazer uma resenha do novo trabalho de Nando ou analisar a relevância de tal obra. Faço, na verdade, uma constatação, para mim um tanto óbvia: Roberto Carlos é o maior artista da música brasileira.
Por “maior” não se deve entender, necessariamente, o melhor ou o mais talentoso, mas também não se deve limitar à fama ou ao dinheiro arrecadado: Roberto é, dentre todos os nomes da música do Brasil, aquele que conseguiu atingir mais pessoas – e aqui não falo (apenas) de quantidade.
No livro “Folha Explica Roberto Carlos”, um dos volumes da série lançada pelo famoso periódico brasileiro, o autor Oscar Pilagallo afirma: “Roberto Carlos concilia quantidade e qualidade, atravessando a ponte que liga o Guinness ao Grammy”. Podemos ir mais além e afirmar que, na verdade, Roberto Carlos é, ele mesmo, essa ponte.
Se, em vez da música, Roberto Carlos fosse da pintura, ele seria a ponte que ligaria Di Cavalcanti a Romero Britto; se enveredasse para a fotografia, seria a ponte entre Sebastião Salgado e J.R. Duran; se na literatura, seria a ponte entre Machado de Assis e Paulo Coelho.
Vejamos: o que há em comum entre nomes tão diferentes, de estilos e de gerações tão variadas como Leny Andrade e Roberta Miranda, Ray Conniff e Padre Marcelo Rossi, Agnaldo Timóteo e Marcelo Jeneci, Carlos Poyares e Nando Reis?
A ponte que liga tão distintas personalidades é Roberto Carlos: todos os supracitados gravaram não apenas uma canção, mas realizaram tributos completos a Roberto, ora em shows, ora em discos, e o citam como influência, referência ou inspiração.
Roberto Carlos é a ponte que vai unir Vanessa da Matta e Claudia Leitte: por mais antagônicas que sejam, ambas só atingiriam sucesso nacional com clássicos do rei. Roberto Carlos também foi a ponte que, como intérprete, elevou a carreira de Tim Maia (sim!) e que, como compositor, faria Gal Costa se apresentar: “Meu Nome é Gal” é composição de Roberto e Erasmo.
Ao lado do Tremendão, Roberto forma a ponte que liga Tom & Vinícius a Sullivan e Massadas. Como letrista, é a ponte que une Chico Buarque e Zezé di Camargo. No cantar, ele é a ponte entre a grandiloquência de Frank Sinatra e o intimismo de João Gilberto.
No cancioneiro religioso, é a ponte que liga a missa dominical aos festivais “gospel”. É ele a ponte que, mais do que as rádios AM e FM, liga os ouvintes de Amplitude Modulada aos adeptos do Spotify.
Na música latina, Roberto Carlos é a ponte que liga Carlos Gardel a Jennifer Lopez. Mais do que isso, ele é a ponte de identidade que liga o Brasil à América Latina, da qual sempre queremos nos dissociar, como se não tivéssemos o “Sangue Latino” que Ney Matogrosso – também gravou RC – cantou.
Recentemente, Roberto manifestou apoio a Sérgio Moro. Seu maestro, Eduardo Lages, fez campanha para Bolsonaro. E parte da crítica a RC se apega ao período da ditadura, o acusando de conivência para com o regime.
Eis que, no último sábado (6), veio a público uma carta de Jean Willys a Lula. Nela, o ex-deputado fala do ex-presidente como uma figura paterna. E transcreve a letra da canção “Meu querido, meu velho, meu amigo”, de Roberto Carlos. Conclui-se, assim, que Roberto Carlos é a ponte que liga o Caburaí (não, não é o Oiapoque) ao Chuí, e o Rio Moa à Ponta do Seixas. Ele é a única possível união do Brasil.
Aqui do outro lado do Atlântico, não posso deixar de felicitar tão excelente texto que termina com igual excelência “Ele é a única possível união do Brasil.”. Já para não falar do exterior onde Roberto Carlos tem admiradores em países que se diria improváveis, no Brasil, como é natural, tal admiração é por demais significativa, porém, apercebo-me que ela não é tanto como devia. Mas a história diz-nos que é sempre assim: que muitos só dão valor ao que têm depois de o perderem.