A música tem papel fundamental para o ser humano, ela é capaz de ativar memórias afetivas, reforçar nossa identidade e até, porque não dizer, nos fazer mais humanos. Quem nunca se lembrou de um grande amor, do cantarolar dos pais, uma viagem, ou um momento específico ao ouvir algum acorde musical?
Mas, esse poder tem um elemento fundamental, que é o instrumento, aquela caixa capaz de produzir sonoridade e encantar desde plateias inteiras ao mais solitário dos ouvintes. E se já é encantador imaginar como ele funciona, o que se pode dizer sobre construir um, a partir da madeira bruta. “Esculpir um bloco de madeira até se obter um instrumento é incomensuravelmente apaixonante”, diz o Luthier Davi Garcia.
Natural de Rolante, no Rio Grande do Sul e há 9 anos morando em Rio Claro, a paixão de Davi Garcia por instrumentos musicais começou ainda na infância. Influenciado pela irmã mais velha, ganhou seu primeiro piano aos 5 anos de idade. “Eu passava horas com aquele piano aberto tocando e vendo como cada mecanismo funcionava, como aquele senhor fazia para afinar.”

O caminho até a abertura da Luteria Davi Garcia passou da curiosidade infantil para formação em escolas de música, orquestra, estúdios de gravação, montagem de som para coral e até a faculdade de física. “Tudo contribuiu para me inserir no meio musical. A Luteria veio há pouco tempo, da somatória da curiosidade, do desejo de tornar a magia da sonoridade em algo concreto”, relata.
Além de Davi, outro grande artista contribui para o enriquecimento do cenário musical brasileiro, Willian Vasconcellos também se dedica à arte de construir instrumentos, artesanalmente. “Um violino leva cerca de 300 horas para ser construído, isso significa, aproximadamente, três meses de trabalho”, explica ele.
Natural de São Paulo e morador de Rio Claro, sua entrada na música foi através do projeto Guri, uma ONG de Cultura criada em 1995 no estado de São Paulo. “Eu tocava contrabaixo, fiquei lá por um ano, mas tive que parar porque precisava trabalhar”, lembra ele. Aos poucos, a vida foi trazendo o artista de volta à música. “Comecei como autodidata, fazendo alguns ajustes para os amigos, sem cobrar, mas, eu queria aprender a construir, tentei fazer um violino sozinho e vi que não dava certo. Em 2014 passei no Conservatório de Tatuí e aí sim, aprendi essa arte”, conta Willian Vasconcellos, que hoje tem uma luteria com seu nome.
A profissão exige além de técnica, método, ferramentas específicas e muita prática. “É um eterno namoro entre o estudo, construção e habilidade”, diz Davi.

Das Luterias de Rio Claro, já saíram instrumentos para músicos de todo o Brasil. “Eu terminei um violoncelo para uma musicista de São Paulo, já entreguei para músicos da Bahia. Eu trabalho o estilo de cópia envelhecida, ou seja, eu parto de originais já construídos e tento chegar o mais próximo possível.”
Além do prazer de construir um instrumento de alta performance, o que alimenta a alma desses dois grandes artistas é saber que as peças ganharão vida através do talento de outras pessoas. “O encanto de passar horas em silêncio com o instrumento para que se possa extrair o melhor dele é algo que não tem preço. Permitir-se fazer parte do processo de criação, geração e aprimoramento do músico na sua evolução de performance é maravilhoso”, diz Davi Garcia.
Davi Garcia e Willian Vasconcellos são convidados da série Diálogos, promovido pela Orquestra Filarmônica de Rio Claro. O tema será “O acesso dos jovens aos instrumentos musicais”, e será conduzido pelo presidente da Orquestra, William Nagib Filho. Também participará do encontro virtual, Flávio Guilherme, da Jog Music. O Diálogo está marcado para a próxima quinta-feira, 8 de julho, às 21h30, pelo Instagram oficial @filarmonicaderioclaro. O link também está disponível no site www.ofrc.com.br.
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