Algumas coisas que aconteceram e marcaram minha memória têm me dado a dimensão, tragicômica de que sim, eu envelheci. Outro dia mesmo, no primeiro de maio lembramos a triste perda de Ayrton Senna. Foi quando me dei conta de que aconteceu já faz 27 anos! E os atentados às Torres Gêmeas nos Estados Unidos? Em 11 de setembro deste ano completarão 20 anos!
Esses e outros acontecimentos, que também são marcadores de tempo na História e em nossa vida, nos dão a dimensão de como o tempo passa sem a gente perceber.
É, envelhecer pode ser assustador por um lado, e por outro dá aquela sensação de que somos jovens que deram certo, não é mesmo?
Hoje é muito comum encontrar ou saber de pessoas que passaram dos cem anos de idade. Bem, isso pode significar que logo, logo a expectativa de vida da população vai se aproximar de um século, se a pandemia for de vez aplacada. A evolução da medicina, os novos medicamentos e tratamentos, a genética e os cuidados preventivos vem causando esse aumento na longevidade das pessoas. Mas há um outro lado, mais profundo de um novo desafio a ser enfrentado.
Além do aumento nos rombos da previdência social, há uma nova crise em curso, uma crise mais profunda. O que fazer com tanto tempo? Como lidar com a ideia de que, após os 50 anos, ainda pode haver mais 50 anos pela frente sem o mesmo vigor, sem a mesma disposição nem o mesmo corpo, mas com uma cabeça boa?
Antes, a aposentadoria significava o fim dos projetos, o pé no freio, a saudade do passado e a contemplação passiva de um mundo acelerado sem a nossa participação.
Mas, hoje o desafio é enxergar que não se para mais de planejar a vida quando se faz 60 anos de idade, não se para mais de amar nem de trabalhar com 60 ou 70 anos de idade. Hoje uma idade mais avançada não é mais uma sentença.
Os asilos do mundo serão coisas do passado. Mas é preciso adaptação para que não continuemos impotentes a enxergar a vida como ela era num mundo antes baseado em padrões preestabelecidos de vida, trabalho e descanso.
Uma nova angústia surge para a nossa geração, hoje com pouco mais de 40 a 45 anos de idade. Há pela frente mais 40, 50 anos quem sabe. E aquele projeto de ficar em casa contando suas glórias passadas parece que não acontecerá. Não há mais projeto de aterrissagem. Mas, para onde arremeter? Não há mais um norte que indique para onde seguir.
Será preciso estabelecer então um novo plano de voo. Voltar para a universidade, aprender novos hobbies, fazer novos trabalhos, comprar uma moto, viajar, assumir novas responsabilidades ou até mesmo cair na previsível poltrona e pantufas, porquê não?
Podemos dizer, sem medo de errar, que há uma segunda adolescência à nossa espera. Hoje, muitas pessoas entre 50 e 60 anos entram em crise com quase todas as suas escolhas anteriores: de amor, de trabalho, de amigos, de prazeres. A vida prolongada exige, para que não haja depressão, algo que é uma marca do nosso tempo: a reinvenção.
É preciso reinventar-se, reencontrar-se em um mundo novo é melhor que achar que o mundo está perdido. Não existem mais discursos prontos que possam se encaixar nesse mundo pós-industrial.
Mais que cirurgias plásticas, temos de esticar nossa pele interior e transformar tudo o que pensamos a respeito do futuro.
Há tantas mudanças em curso que cabe a você se fazer a pergunta: o que quero ser agora que envelheci?