Toda dificuldade é um convite ao crescimento, nos seus dois principais aspectos: o intelectual e o moral.
Pensando, criando e trabalhando o ser humano supera problemas e desafios. Conhecendo-se a si mesmo, identifica suas qualidades e seus defeitos e, assim, pode aperfeiçoar-se moralmente.
Sob essa perspectiva otimista, a lição moral que fica a respeito da pandemia do coronavírus é que, como seres humanos, não podemos mais seguir nesta direção. Ou seja, viver e, quando não, almejar, uma vida de excessos, descompromissada com os valores espirituais e indiferente com o planeta que nos acolhe.
Observemos, por exemplo, o caos no trânsito que se verifica em todas as grandes cidades do mundo e, agora, também nas de médio porte, que consome demais o nosso tempo já tão escasso e compromete nossa saúde física e psíquica.
Não, não podemos continuar nesta direção. Não podemos mais prosseguirmos com a competição desenfreada e, por vezes, insana, entre pessoas e entre empresas. Que diremos, então, da disputa estúpida pelo poder político, entre representantes de duas ideologias fracassadas e incapazes de atender às necessidades básicas das pessoas: educação, segurança, transporte, saúde públicas. Nenhuma dessas ideologias nos convence mais.
Também não podemos mais continuar com a maneira burra como nos alimentamos, e como ocupamos o tempo ocioso, quando ele existe; nem o nosso descaso para com a atividade física, que compromete a médio e longo prazo a nossa saúde e a nossa qualidade de vida. E gera uma demanda desnecessária no serviço público de saúde. Enfim, não podemos mais continuar com nossos velhos e arcaicos hábitos e costumes, baseados em facilidades e direitos sem assumir deveres.
Mas Deus é Pai e a vida não é madrasta. E quando vamos além do que devemos ir, surgem os freios que irão nos fazer parar em algum momento. E esses freios se chamam dor e sofrimento.
Neste mundo onde a vida é tão fugaz, tão superficial, porque nós a tornamos assim, só mesmo quando somos obrigados a parar é que nos convencemos sobre a necessidade de avaliar nossas atitudes e escolhas e nos conscientizamos, então, de nossos erros, equívocos e enganos, que sempre acabam nos custando muito caro.
Mas o que o coronavírus tem a ver com tudo isso, o leitor menos atento deve estar se perguntando? Tem a ver que a disseminação do vírus em âmbito mundial exigirá da humanidade uma profunda reflexão sobre si mesma e seu modo de viver. Talvez, uma mudança de paradigmas e, também, comportamento, seja necessária.
Algo que seja diferente de tudo aquilo que temos praticado desde o século passado, quando se acentuou a corrida desenfreada pela produção e pelo consumo, ainda que isso custe a vida de milhares de pessoas e dê causa às agressões de toda sorte que cometemos contra o mundo em que vivemos, com a justificativa de atender nossas satisfações efêmeras e necessidades duvidosas.
Nós, seres humanos, precisamos fazer diferente do que temos feito. Porque a continuarmos, caminharemos provavelmente num espaço de tempo bem menor que aquele que, eventualmente, possamos imaginar, para a extinção, não do planeta, porque esta jamais nos será permitida, mas a nossa própria extinção, ou pelo menos, da maioria de nós.
A pandemia do coronavírus talvez nos ajude a nos conscientizarmos que somos todos irmãos, independentemente do país onde nascemos e de qual espaço geográfico do planeta ocupamos. Porque a dor dos que ficam em relação aos que partem, é a mesma por toda parte, a preocupação é a mesma, o medo é o mesmo, e os cuidados a serem tomados para evitar o pior são os mesmos.
Menos mal que não foi necessário que chegássemos ao absurdo impensável de uma nova guerra mundial para que tivéssemos a chance de percebermos isso, que precisamos mudar o modo como vivemos e convivemos.
Se vamos perceber, de fato; se vamos refletir sobre isso e nos convencermos da necessidade dessa mudança, dependerá única e exclusivamente da vontade e iniciativa de cada um de nós.
Mas, independentemente de qual seja esta decisão, haveremos de colher as suas consequências. É bom não nos esquecermos disso.