Se entende por grande mídia os aparelhos midiáticos que são propriedade da burguesia, atendendo os interesses da classe economicamente dominante da sociedade, mas pouco se fala em como a grande mídia serve como uma boca da classe dominante, que passa suas ideias para o público.
A ideologia passada pelos meios de comunicação tem como objetivo moldar a mentalidade da sociedade, podendo afirmar que toda construção de pensamento é planejada. Assim, a mídia determina o que você considera bonito ou feio, os estereótipos de bandido ou cidadão de bem e, até mesmo, seus gostos e posicionamentos.
Consoante a isso, é visível que mesmo quando pensamos em outras realidades, outras épocas e outros planetas, somos limitados a pensar aquilo que a indústria cultural quer que a gente pense. Há vários exemplos dessa implantação de pensamento limitado nas mídias em que são retratadas povos contemporâneos da atualidade que não estão inseridos no sistema capitalista, sempre sendo retratadas com a visão burguesa ou, no mínimo, eurocêntrica.
Desse modo, é importante o adendo de que não existe “burguesia de esquerda”. A emissora X pode realizar uma crítica ao atual presidente, o jornal Y pode defender as cotas ou o tal repórter pode criticar a polícia, e isso não os fará transportador de ideias esquerdistas. Tendo em vista que a liberdade de imprensa é incompatível com regimes fascistas e ditaduras militares de extrema direita, é natural que a mídia critique e se oponha à isso para sustentar sua imagem de falsa conscientização.
Contudo, a grande mídia traz consigo seu conceito de indústria cultural. Segundo os sociólogos alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer que publicaram, em 1944, o livro “A Dialética do Esclarecimento”, o capitalismo transformou a cultura numa produção industrial.
É de fácil percepção que a cultura tem o poder de atuar na nossa maneira de ver, pensar e sentir o mundo. Se aproveitando disso, a burguesia criou uma indústria de entretenimento vazia para distrair os trabalhadores e, a partir disso, moldar suas subjetividades e faze-los se confortar cada vez mais com o sistema capitalista.
Nos estudos de Adorno e Horkheimer dizia, também, que a indústria cultural no capitalismo acaba servindo como uma extensão do mundo do trabalho para nossa vida supostamente particular. A burguesia que explora nossa mão de obra é a mesma que produz o entretenimento que nos é vendido. Assim, a indústria cultural preenche nosso tempo vago de forma que não usemos refletir criticamente sobre a realidade.
Theodor Adorno: “O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho”.
Possuindo a indústria cultural como sustento, estudiosos e uma parte da burguesia classificam os trinta anos após a segunda guerra mundial como “os anos dobrados do capitalismo”. Com o início da guerra fria, o conflito dos Estados Unidos com a União Soviética, gerando uma expressão gigantesca da luta de classes, foi o incentivo que o capitalismo precisava para vender uma boa imagem à classe trabalhadora, para que a mesma aceitasse o sistema e não optasse pelo caminho da revolução.
Essa fase foi um período de crescimento do emprego, do aumento do poder de consumo, da expansão urbana e da grande produtividade agrícola. Nesse tempo esperançoso de um futuro melhor, esses desenvolvimentos chegaram ao Brasil e, na década de 50, a televisão também se apresentou ao povo brasileiro, trazendo consigo a propaganda do estilo de vida estadunidense, o famoso “American Way of Life”.
Com isso, dois símbolos que encarnaram o nacionalismo estadunidense, o padrão de feminilidade, o padrão de masculinidade e a “beleza branca”, surgiram: Marilyn Monroe e Elvis Presley, sendo exemplos da influência da indústria cultural planejada pelo capitalismo nas ideologias das pessoas.
Com a derrota dos Estados Unidos, os “anos de ouro” do capitalismo, onde supostamente a vida era melhor, foram jogados fora, assim como o estado de bem estar social. Desse modo, conforme o neoliberalismo crescia, as condições de vida e de trabalho pioravam. Nesse período, entretanto, iniciou as primeiras ideias de realismo capitalista, que seria um estado de consciência e senso comum de que o capitalismo sempre existiu e sempre vai existir, de que é o único sistema viável e que não há outras alternativas.
Retratar os anos dourados do capitalismo nas mídias e continuar nutrindo um saudosismo pelos anos 60 é uma coisa que vende, e vende muito!
Texto escrito pela aluna estudante Larissa dos Santos Ferreira, sob curadoria de Rafael Cristofoletti Girro e Jean Erik Bacciotti, ambos alunos da Escola Estadual Heloisa Lemenhe Marasca, todos pertencente a Rede Camões de jornais escolares. O texto tem caráter pedagógico.
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