A incerteza do coração
► Meu corpo inteiro tremia. Em minhas mãos, havia um coração; pequeno, frágil e batia constantemente contra minha palma. As batidas eram aceleradas e rítmicas, me faziam lembrar em claros tons de quem ele pertencia; um conhecido, uma das pessoas mais gentis e calorosas que já conheci. Não nos conhecemos há muito tempo, mas mesmo assim, lá estava aquele pequeno pedaço dele, batendo incessantemente frente aos meus olhos. O nervosismo tomava conta; se fosse para contar todas as experiências amorosas de que tive, elas dariam uma novela dramática e apenas me trariam dor, lamentos e memórias partidas. Possuo medo. O medo de nunca dar certo. O medo de machucar os outros que ousam se aproximar de mim. O medo das consequências de atos fora do meu controle.
► Meu peito pesava com o sentimento forte que emanava dali. Era caloroso, me convidava para prosseguir e abraçá-lo; mas meu medo, ah… esse monstro, ele me corrói. Ele arranha as paredes de meu estômago, traz a bile à tona e faz minha cabeça girar. Essa criatura, com a qual eu estava tão familiarizada, me lembrava das minhas falhas, dos meus defeitos e de que não sou digna de ser amada. Ele me ensurdeceu; não consigo ouvir mais nada que me diga o contrário ou sequer vestígios da verdade absoluta, e isso o alegra. Ele ri e dança conforme mastiga nos pedaços da minha alma quebrada. Mas lá estava: um pequeno coração em minhas mãos, e de novo, batendo tão forte que faziam meus olhos marejarem. Por quê? Eu não mereço isso. Não mereço? Mas, se não, por que ele se recusa a parar de bater?
► Eu finalmente cedi às lágrimas. Meus olhos brilhavam afrente do calor que banhava minhas mãos e as pernas cederam; ajoelharam-se no chão, revelando por inteiro a minha desprezível vulnerabilidade. E estava tudo bem. Minha testa se apoiava nos meus pulsos e sentia-se aquecida, confortável, mas as lágrimas não paravam. Elas nunca param. São a forma mais pura de que me expresso, a forma mais pura de todos os meus sentimentos.
► A água cristalina correndo pelo meu rosto pingava no chão e no meu vestido, deixando pequenas poças acinzentadas no tecido branco. Cada uma delas representava emoções despejadas, mesmo que fosse um pequeno sentimento passageiro. Consegui respirar fundo apesar de ainda estar soluçando e ergui meu rosto; o órgão ainda batia, ao lado da criatura que afligia meu espírito. Ela observava e aguardava, pacientemente, cada movimento meu. Ela sabia que eu tinha apenas duas opções; abraçar ou soltar. E eu… dentro do meu próprio ser, eu já sabia a resposta.
► Eu me levantei, o coração não mais presente em minhas mãos.
► Este artigo foi escrito pela aluna Isabelle Fernanda Medrade, colunista do jornal do CAMÕES, com fins pedagógicos.