Passados mais de quatro meses de quarentena, desse que parece ser o ano mais longo das nossas vidas, estamos todos à flor da pele.
Há, e sempre haverá, os que negam tudo seja por medo infantil de encarar o seu próprio pavor diante da incerteza ou por se sentirem mais confortáveis assim. Devem ser respeitados em sua fragilidade, sem dúvida.
Há também os que de forma mais realista não negam que os números frios, distantes e vistos assim pela TV agora se tornaram pessoas próximas. Ninguém, absolutamente ninguém está fora do alcance do vírus.
E há os românticos que acreditam que o mundo vai sair melhor dessa, que as pessoas serão mais amorosas e solidárias. É o tal do “novo normal”, que seria urgentemente necessário não fosse a sua ideia uma doce ilusão.
Um meme que circulou há pouco tempo nas redes sociais nos lembra que depois da peste negra na Europa veio a Inquisição.
O mundo ideal, onde o “novo normal” seria uma realidade, teria de ser feito de pessoas que pudessem perceber que o que chamamos de “normal” é na verdade o maior dos sintomas.
Para viver a experiência individual que se aproxime disso, precisamos nos bancar mais emocionalmente, sem nos pendurarmos nas digital influencers do momento, no corpo dos sonhos, na casa, no carro, sem pensar que ser feliz está no quando, mas pode ser hoje, em casa, confinado em quarentena sem saber se continuará com seu emprego.
Difícil, quase impossível, confesso a mim mesmo e a você.
Porém, vendo e sentindo tão de perto a perda de amigos, conhecidos para essa doença, está mais do que evidente que nos resta apenas o momento presente.
Mas mesmo depois de mais de quatro intermináveis meses, continuamos sofrendo de uma “nostalgia do futuro”. Daquele futuro que planejamos para este ano ainda e que não será mais possível executar. De um futuro prometido no Réveillon de 2019 para 2020. Cadê? Sumiu.
Temos que pensar no agora, inclusive aquela meia dúzia de abastados agarrados que estão ao seu dinheiro, como se isso fosse garantia de futuro. Estamos à própria sorte. Para os que tem fé, Deus e, para todos, a Ciência pra nos tirar dessa. Mas, na real, nossa vida sempre esteve por um triz. É que antes da Covid-19 dava para disfarçar mais.
Para resolver o mundo, precisamos antes nos resolver, curar nossas feridas secretas.