A cena do cotidiano chama atenção e me leva até lá. Quatro cachorros aparentemente saudáveis e vistosos fazem a “guarda” do senhor seu dono. Me aproximo e pergunto se posso registrar o momento. Ele permite e fica feliz ao ver o retrato. Surge um bate-papo e uma lição para nosso dia-a-dia. A proposta inicial não era uma matéria para o jornal, mas no fim da conversa peço autorização, o que mais uma vez não é negado. No decorrer dos minutos que fiquei ali conversando com o senhor de nome Teobaldo Gracioli, muitas pessoas passam em seus veículos e nos observam.
Entre nossa troca de diálogos pergunto o nome dos cães. “Um deles é Iax, o outro Gus – já cuidei de cachorros de patrões com esse nome -, Peri – tenho simpatia pelo nome desde a infância – e Cacilda – acho bonito-”, conta, sem deixar de demonstrar o amor por seus companheiros. “O cão é o melhor amigo mesmo, são meus protetores, são fiéis demais”, afirma.
No pouco tempo, ele conta que não se casou e não teve filhos. Tem apenas um irmão que mora em Limeira e pouco se veem. Gosta de Rio Claro por considerar cidade simples e povo bom. Mora em uma casa cedida no bairro Jardim Novo e vive de doações. Ele deixa claro também que não tem vícios e nunca ingere bebidas alcoólicas.
Uma das coisas que o senhor Teo, como também é chamado, gosta de fazer e não abre mão é frequentar a missa todo fim de semana. Em seguida surge a pergunta: “O senhor é feliz?”. Sem pestanejar vem a resposta: “Sou muito feliz porque estou vivo, na medida do possível tenho saúde e isso já está bom demais, não falta comida, não sou ganancioso”, declara.
Aos 72 anos de idade, ainda não conseguiu se aposentar, disse que alguém já deu entrada na papelada para ele, mas até agora nada, porém não reclama e ao mesmo tempo nem tem esperança de que o benefício vai sair. Segundo ele, durante a maior parte da vida trabalhou na roça e não teve como comprovar os anos dedicados à lavoura. “Com isso ou sem isso sempre sobrevivi”, observa.
O feliz encontro com Teobaldo foi na esquina da Rua 12 com Avenida 6, por volta das 12h30 de uma terça-feira. Ele estava parado ali descansando para seguir para casa. Tinha ido buscar medicamento. Eu questiono se ele ainda vai almoçar. “Ah vou comprar uns pãezinhos lá no bairro mesmo”, diz.
“O que o senhor gosta de comer ou tem vontade de comer?” A resposta me enche os olhos de lágrimas. “Ah eu gosto de fruta, nossa estou com uma vontade de comer maçã”, menciona feliz da vida. O final desse trecho não preciso nem contar, ficou ali entre eu e ele. Só posso dizer que o senhor simples, como ele mesmo gosta de definir, também se emocionou e agradeceu ao meu gesto.
Ao me despedir ele que me faz uma pergunta. Você mora por aqui? “Não, trabalho no Diário, jornal aqui pertinho”, afirmo. Ele fica feliz diz conhecer o Centenário e devolve. “Não é porque sou pobre que não leio. Gosto de ler jornal para ficar informado”, ressalta.
“Muito pelo contrário senhor Teobaldo o senhor é muito rico, depende do ponto de vista de cada um, não se importe com isso”, respondo. Enfim me despeço e vejo que ganhei muito mais que ele, que finaliza: “Vou orar por você viu, Deus te abençoe. Ah, e além das maçãs vou comprar peras também”, finaliza.
Por Janaína Moro