À Espera de um Milagre
► Há uma ilusão generalizada de que o problema do país é o modelo de gestão pública, de métodos de administração, ou da ausência de entendimento na cultura organizacional nas repartições. Há, ao meu ver, porém, um problema que impede o desenvolvimento da grande obra projetada e que vem vivendo de expedientes ou solavancos.
► Antes de se discutir sobre modelo, ferramentas de gestão, desempenho, é preciso reparar o alicerce para que os andares superiores consigam ter estruturas básicas de sustentação, precisamos falar da educação…
► Educação não no sentido passivo ou esnobe, mas educação no sentido de propiciar ao cidadão a ter, pelo menos, a possibilidade de entender o enredo. Vivemos em um país, onde a maioria não tem nem a opção de escolha ou nem sabe que teria a opção de escolha.
► O que isso quer dizer? Quer dizer que vivem sem saber quais são as escolhas, quais as opções, qual o tipo de esperança que existe escondida em algum canto deste território continental. Essa falta de perspectiva, somada a todo o passivo histórico de construção da noção de cidadania tem o efeito prático: uma massa de manobra alienada, sem noção histórica ou mesmo esperança. Talvez, à mercê de aventureiros e salvadores da pátria com soluções mirabolantes com velhas formas travestidas com os termos da moda.
► Um ciclo vicioso que vem se repetindo desde 1889. Expedientes morosos, discursos adocicados e pouca efetividade prática. Não se pode terminar a obra sem um alicerce robusto. Não se pode mudar o país com o clientelismo 4.0, uma elite acéfala, uma massa alienada, ambos em berço esplêndido, à espera de um milagre!
► O país precisa de 30 anos de balanço, transformar a educação em carreira de Estado, otimizar e destinar parte de suas riquezas à educação mancipadora.
► Não existe milagre, não existe salvador da pátria, não existe militar ou civil que trará de fato a solução sem que ela aconteça de baixo para cima…
► Precisamos de uma conciliação nacional, de um projeto educacional sério, para apostar nossas fichas no futuro, não há solução a curto prazo, não há obra, não há discurso, não há impasse ou polêmica, que resolva nosso grande dilema.
► Estamos em obras, é preciso saber: vivemos, uma democracia nova, mas que deve ter temas inalienáveis e um projeto para o futuro.
► Quem sabe quando tudo isso andar, quem sabe não podemos falar em meritocracia. Até lá, não divague, não há meritocracia quando se coloca marginalizado para concorrer com um engravatado. Um país calcado na ruptura, no racismo, na segregação, em toda a sujeira que continua sendo colocada debaixo do tapete, e que não possui projeto de país, não pode falar em gestão eficiente, meritocracia, indicadores, avaliações, notas e discursos ocos…
► Antonio Archangelo é gestor, pesquisador, professor e jornalista.
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