Os números são alarmantes e é preciso falar do assunto: suicídio.
No mundo, a cada 40 segundos, há um suicídio. Somente no Brasil, a cada 45 minutos um suicídio é registrado. De acordo com os dados mundiais, uma tentativa é registrada a cada três segundos, o que totaliza 1 milhão de suicídios no mundo. Tirar a própria vida aparece entre as principais causas de mortes entre jovens de 15 a 29 anos, e ainda em crianças e adolescentes.
Segundo o Ministério da Saúde, os seis estados com maiores taxas de suicídio no país são Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Roraima, Piauí e Amazonas. “É fundamental refletir sobre este tema que, infelizmente, está em ascendência em meio à população. As pessoas que cometem suicídio querem interromper, ou melhor, fugir do sofrimento que estão sentido e acabam interpretando o ato de tirar a própria vida como sendo a única solução.
Como caracterização de pessoas que podem vir a ter comportamentos suicidas e embasado na Sociedade Portuguesa de Suicidologia, pode-se apontar que o perfil suicida, na maioria dos casos, está mais associado a pessoas solteiras, viúvas, divorciadas e, principalmente, a sensação de se sentir sozinho e desamparado. Isto comparado a outras pessoas que têm, de forma efetiva e funcional, uma rede de apoio propiciada pela família, amigos e conhecidos.
Ressalto, desta forma, a necessidade do estabelecimento de vínculos estruturados e bem estabelecidos entre as pessoas para que assim, em momentos de crises, o suicida tenha a confiança e a segurança de procurar alguém para pedir ajuda e falar sobre o que está lhe causando tanto sofrimento”, alerta a psicóloga clínica Andreza Spiller.
A especialista ressalta que podemos nos apegar aos quatro “D’s” de alerta: depressão, desespero, desesperança e desamparo. São comportamentos que necessitam urgentemente de atenção, bem como as tristezas frequentes e duradouras, a falta de interesse pelo futuro e o uso de frases depreciativas. Dados da OMS indicam que o suicídio geralmente aparece associado a transtornos mentais – sendo que o mais comum, atualmente, é a depressão, responsável por 30% dos casos relatados em todo o mundo.
Outras questões que necessitam de atenção e cuidados especiais são transtorno bipolar, esquizofrenia, problemas de relacionamentos, abuso de drogas, bullying, doenças físicas e crônicas e dificuldades econômicas. “Pode-se discorrer que por trás do comportamento suicida, há uma combinação de fatores biológicos, emocionais, filosóficos, socioculturais e até religiosos que, embaralhados, culminam numa manifestação exacerbada contra si mesmo.
Um adendo importante neste momento é que o fato da pessoa estar consciente, não elimina o estado de sua confusão mental, pois o indivíduo que comete suicídio se encontra perdido em meio ao seu sofrimento e aos seus pensamentos negativos e descrentes de que algo em sua vida possa a vir a melhorar”, observa Andreza.
AÇÕES
Para atingir a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de reduzir em 10% os óbitos por suicídio até 2020, o Ministério da Saúde lançou em 2017 uma agenda estratégica que inclui ampliação da assistência e ferramentas de comunicação. Entre as atividades de prevenção está a campanha nacional “Setembro Amarelo”, desenvolvido pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM).
Em Rio Claro, durante todo o mês, uma programação é realizada com diversas palestras e debates com o tema Diálogo: Saúde Mental e Sociedade. Nesta terça-feira (11), no Anfiteatro do IB da Unesp, acontece palestra “Essa coisa chamada suicídio” com o psicólogo Rafael Alves. No dia 20, “Estresse e depressão em universitários” com a professora Dra. Sandra Calais. No dia 25, “Sobre uso de drogas e contexto universitário” com a psicóloga Elaine Lucas dos Santos, todas voltadas para discentes e servidores da Unesp.
CUIDADO
“É importante não disseminarmos comportamentos e falas atreladas a descasos e a julgamentos, como, por exemplo, ‘isso é covardia’, ‘é loucura’, ‘é fraqueza’, ou, até mesmo, banalizar: ‘é por isso que quer morrer? Já passei por coisas bem piores e não me matei’. O ato de opinar também tem impacto negativo sobre a pessoa com pensamentos suicidas, pois não promove acolhimento para com a sua dor”, ressalta a psicóloga.
PREVENÇÃO
É preciso identificar quando os pensamentos suicidas passam a fazer sentido, alerta Andreza. “Comportamentos ou falas, como, por exemplo, ‘eu não vejo mais saída’ ou ‘as pessoas viveriam melhor sem a minha presença’. É necessário falar sobre este sofrimento e é fundamental compartilhar esta dor. Pois, às vezes, a pessoa está tão imersa na sua própria angústia que não consegue vislumbrar alguma saída, mas, enquanto psicóloga clínica, posso afirmar que existem, sim, outras saídas. E que a vida é única e que vale muito a pena ser vivida. Destaco a existência do telefone 188, que é do Centro de Valorização da Vida (CVV). Este serviço auxilia na prevenção do suicídio e, desde de julho de 2018, as ligações são gratuitas em todo o país”, destaca.
AJUDA
Existem vários estabelecimentos e formas para ajudar a prevenir o suicídios. Por exemplo: nos serviços de saúde como o CAPS, Ambulatórios de Saúde Mental e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde). E, também, emergência SAMU 192, UPA, prontos-socorros e hospitais. O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias. A ligação para o CVV, em parceria com o SUS e por meio do número 188, é gratuita a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular.